180 anos da filatelia: o selo postal como acervo cultural e histórico

Texto por Mayra Guapindaia

O primeiro selo postal do mundo, o Penny Black, focaliza a efigie da Rainha Vitória. Ficou conhecido por este nome por trazer fundo preto e, no seu valor facial, constar a legenda One Penny. Lançado em 6 de maio de 1840, tinha como principal intuito ser um comprovante do pagamento adiantado, feito pelo remetente, do porte da carta. Comumente afirma-se que o colecionismo surgiu praticamente no mesmo momento em que o selo entrou em circulação, pois as pessoas que trocavam cartas entre si acharam a inovação curiosa e passaram a coletar a estampilha. É por isso que, neste mês de maio, comemora-se os 180 anos não só do 1º selo postal, mas também da filatelia no mundo.

Contudo, historicamente, é difícil estimar quando a filatelia passou a existir de fato enquanto arte e ciência organizada (ALMEIDA, 2003, p.23). Os relatos sobre os primeiros colecionadores não são localizados facilmente, embora alguns especialistas da área indiquem John Edward Gray, funcionário do Museu Britânico, como o responsável por organizar um catálogo das emissões lançadas em 1850. Na França, George Heprin foi o primeiro a sugerir a adoção do nome filatelia (do grego Philos, amigo e atelia, ausência de taxa). O termo veio a público pela revista francesa Collectionneur de Timbres-Postes em 1864 (Idem,pp.27-28). Na mesma época, surgiram os primeiros catálogos oficiais de selos em Inglaterra e França.

O Brasil foi o segundo país a adotar os selos postais, por meio do Decreto no.225 de 29 de novembro de 1842. Os selos entraram em circulação em 1º de agosto de 1843, data em que atualmente se comemora no país o dia do selo postal. Os primeiros selos brasileiros trazem em sua imagem o valor da tarifa em réis (30, 60 e 90) em um formato arredondado, e, por isso, ficaram conhecidos como olhos-de-boi. As primeiras evidências sobre a filatelia no país são dos anos 1880, quando surgiram os primeiros periódicos e sociedades filatélicas. Entretanto, existem documentos que indicam que os olhos-de-boi foram item de coleção internacional ainda em 1844 por Thomas Corlbalt, de Londres. Em uma carta a um amigo no Brasil, Colbart afirmou possuir uma coleção de selos que os diversos governos do mundo colocaram em circulação, inclusive os brasileiros. Assim, para muitos estudiosos, Colbart seria o primeiro filatelista do mundo (ALMEIDA, 2003, p.28).

Ao longo do tempo, os selos postais passaram a ser não só itens de coleções individuais, mas parte importante de acervos museais, preocupados em manter o patrimônio relacionado à história das comunicações e dos Correios, no qual o selo postal consta como um item de maior importância. Um exemplo de museus neste formato é o British Postal Museum, em Londres. No que diz respeito à coleção filatélica, o acervo conta com selos ingleses e internacionais, e recebe cerca de 500 peças do Royal Mail anualmente. Já o Musée de la Poste, em Paris, guarda mais de 1 milhão de peças filatélicas.

No Brasil, o Museu Correios é responsável por guardar importante acervo filatélico, além de documentos e outras peças relacionadas à história postal, desde 1889, quando se inaugura no Rio de Janeiro o primeiro Museu Postal. Foi em 1980 que esta instituição se mudou para Brasília e hoje conta com mais de 1 milhão de peças relacionadas à história postal e telegráfica. Esta instituição tem a guarda da mais completa coleção filatélica nacional, abrangendo 138 anos, contendo desde o olho-de-boi até o último selo lançado neste ano de 2020. Além disso, possui 03 chapas de uma emissão especial do olho-de-boi de 1922, concebida para ser lançada nos 100 anos da Independência do Brasil, que, entretanto, nunca veio a ser impressa. O Museu Correios também tem vasto acervo internacional, com emissões desde os anos 1930 dos países membros da União Postal Universal – UPU. Uma das peças mais raras guardadas pela organização é o Penny Black. Outros itens além dos selos também estão disponíveis, a exemplo dos editais e das edições do periódico Correio Filatélico, lançado em março de 1977.

A coleção do Museu Correios atualmente está passando por um processo de digitalização, sendo inserida em um banco de dados chamado “Saber Mais”. Ele pode ser acessado pelo público para a realização de pesquisas sobre as peças filatélicas por tema, ano, entre outros filtros. Acesse o “Saber Mais” em https://apps.correios.com.br/acervo/. Outra forma de conhecer o acervo é por meio das exposições virtuais, sendo que há uma sobre museus brasileiros registrados em selos postais ao longo da história, disponível aqui: https://www.flickr.com/photos/correiosoficial/albums/72157708414721135.

Passando esse momento de pandemia, o Museu será reaberto ao público que poderá visitar uma exposição postal e filatélica que atualmente está sendo montada no 4º andar.

Exposição Os Sinais e as Coisas – Das Fogueiras à Internet, no Museu Nacional dos Correios – Brasília.

Neste 18 de maio comemora-se o Dia Internacional dos Museus, uma excelente oportunidade para nos lembrarmos dos 180 anos da filatelia e do selo postal como item de coleção, de acervo e como patrimônio cultural e histórico.


Referências bibliográficas:

ALMEIDA, Cícero Antônio de. Os correios e os selos postais no Brasil. In:_______; VASQUEZ, Pedro KARP. Selos postais do Brasil. São Paulo: Metalivros, 2003, p.60-75.

Sites dos Museus postais:

https://www.correios.com.br/sobre-os-correios/educacao-e-cultura/centros-e-espacos-culturais-dos-correios/museu-correios

https://www.postalmuseum.org/discover/collections/philatelic-collection/

https://www.museedelaposte.fr/collections

Publicado em Filatelia, Programação Filatélica 2019 | 2 comentários

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