À primeira vista, pode até não parecer, mas este texto vai muito além do que relatar uma “simples” viagem de bicicleta ou uma visita à sede dos Correios, em Brasília (DF). A jornada de Sérgio Rezende da Silva é, acima de tudo, uma história de transformação, coragem, superação e, claro, de realização e descobertas feitas ao rodar quase 5 mil quilômetros sobre duas rodas.

Empregado dos Correios há oito anos, Sérgio vive e trabalha no pequeno município de Ministro Andreazza, em Rondônia, uma cidade com cerca de 6.500 habitantes, conforme o último censo do IBGE de 2022. De sua agência unipessoal, a cerca de 500 km da capital Porto Velho, ele atende com dedicação toda a população. Sim, Sérgio é o representante dos Correios naquela localidade de Rondônia.
Mas é fora do expediente, no asfalto e nas estradas de terra, que ele tem descoberto outra vocação: a de ciclista de longas distâncias. O que começou como um gesto de cuidado com a saúde, tornou-se o motor de uma vida renovada. “Eu comecei a praticar o ciclismo porque queria sair do sedentarismo e melhorar meus níveis de glicemia. Na época, fazia seis anos que eu estava com diabetes. E comecei a pedalar. Daí, não parei mais”, conta.
Com a prática apaixonada e disciplinada do ciclismo, Sérgio conta que deu adeus aos medicamentos. Hoje, consegue controlar a diabetes apenas com a atividade física. E foi assim que, nas últimas férias, Sérgio pedalou cerca de 200 quilômetros por dia. Isso mesmo, por dia! Enquanto muitos escolhem o conforto do sofá, ele prefere as estradas com seus trechos desafiadores, a grandeza da paisagem e, principalmente, as conexões humanas que as viagens proporcionam. E, olha que não são poucas. “Tem as dificuldades que a gente chama de perrengue no meio ciclístico, mas tem aquelas surpresas agradáveis no percurso, conhecer lugares novos, culturas diferentes”, ressalta.
Dessa vez, Sérgio decidiu continuar a viagem de onde parou no ano passado: foi de ônibus de Cacoal, em Rondônia, até Cascavel, no Paraná, onde começou sua saga de bike. “Comecei por Cascavel, porque nas férias passadas visitei Foz do Iguaçu e parei em Cascavel. Então agora dei continuidade”, explica. Descendo pelos oestes paranaense, catarinense e gaúcho, o nosso ciclista conseguiu chegar a Chuí, no Rio Grande do Sul.
E, aqui, vale uma curiosidade: ao sair do Chuí, no ponto mais ao sul do Brasil, Sérgio estava mais perto de capitais de outros países, como Montevidéu, Buenos Aires, Santiago e Assunção, do que de Brasília, seu destino. Uma dessas ironias da geografia que mostram o tamanho do Brasil e o quanto essa jornada é realmente desafiadora. Mas foi ao chegar à sede dos Correios, onde sempre sonhou estar, que Sérgio viveu um dos momentos mais marcantes da viagem: O presidente da empresa, Fabiano Silva dos Santos, fez questão de recebê-lo pessoalmente, junto a uma comissão de colegas tocados pela história do ciclista. “Essa distância toda que ele percorre mostra o quanto ele representa a empresa, que cobre todo o Brasil, do Oiapoque ao Chuí. Fiz questão de recebê-lo aqui para dar um abraço nele, para dizer que ele é muito bem-vindo e que a gente se orgulha muito de ter empregados determinados assim”, elogiou o presidente dos Correios.
O encontro foi um reconhecimento não apenas ao esforço físico admirável de quem atravessa Estados a pedaladas, mas também à força interior de quem decide mudar sua história e se superar a cada quilômetro percorrido. “Difícil dizer em palavras o que foi a visita à sede dos Correios. Algo inesquecível.” (Clique aqui para ver o vídeo da visita do Sérgio)
Sonho que se sonha junto…
“Sonhar, a gente até pode sonhar sozinho. Mas realizar um sonho é só com a ajuda e colaboração de muitos”, costuma dizer Sérgio. Seu espírito generoso reconhece que, mesmo em uma jornada solitária, ninguém caminha, ou, no caso, pedala, completamente só.
E é com esse exemplo que Sérgio nos lembra que não é “apenas um ciclista”. A história desse empregado dos Correios desbravador de possibilidades o transforma em um mensageiro da superação individual: alguém que nos mostra, com simplicidade e determinação, que o Brasil não se limita aos mapas, mas é rico em experiências vividas, nas pessoas encontradas e no poder de acreditar que não existem limites para transformar a própria vida e, mesmo seguindo com calma, chegar cada vez mais longe. Uma pedalada de cada vez…
“A vida é curta”, como diz o Sérgio. Curta demais para ser vivida no sofá.