Emissão comemorativa de Natal traz ilustrações de Ziraldo

Ao longo de sua trajetória, Ziraldo teve uma parceria marcante com os Correios, que simbolizou a valorização da arte e da cultura brasileira. O multiartista contribuiu com ilustrações de seus personagens para campanhas comemorativas e edições especiais de selos, ajudando a aproximar a arte gráfica da comunicação postal no Brasil.

Ziraldo e o Menino Maluquinho. Foto: divulgação

Há 30 anos, em 1994, Ziraldo foi convidado para ilustrar os tradicionais selos de Natal e selecionou alguns de seus personagens icônicos. O Menino Maluquinho de braços abertos vestindo um casaco de Papai Noel bem maior que o seu tamanho, o Bichinho da Maçã com o gorro natalino, Pererê colocando uma cartinha em seu único pé de sapato e a sua turma em um coro uníssono inspiraram o cartunista a a retratar situações típicas da data.

Ele próprio descreveu assim a parceria com os Correios: “Eu acho que todo artista gráfico não pode passar pela vida sem fazer um selo. E eu fiquei muito feliz porque esses selos de Natal vão perpetuar os meus personagens, dando-lhes importância nacional”, disse à Revista dos Correios, que já havia utilizado um de seus desenhos – o Galo, símbolo do Festival Internacional da Canção Popular – em um selo comemorativo de 1967.

À época, Ziraldo destacou que sua maior preocupação ao criar a série era realizar um trabalho caprichado. “Por ser muito pequeno, o selo tem elementos baseados em detalhes. Eu quis fazer um que as pessoas olhassem e dissessem ‘Que maravilha!’, que quisessem guardá-lo”, esclareceu o artista, que, assim como outros tantos meninos, manteve na juventude uma coleção de selos, que abrangia 74 países. Agora, 30 anos depois, os personagens de Ziraldo ilustram uma nova série de selos natalinos, que também prometem se tornar objeto de desejo dos colecionadores.

Folha com 16 selos da emissão comemorativa de Natal 2024 – Ziraldo. Imagem: Divulgação/Correios

Na última quinta-feira (24), quando Ziraldo completaria 92 anos, os Correios lançaram uma série de quatro selos natalinos destacando o seu legado como artista gráfico. A coleção foi lançada em cerimônia no Centro Cultural Correios Rio de Janeiro, com a presença da família e de diversas personalidades.

A cerimônia de lançamento foi conduzida pelo superintendente estadual do Rio de Janeiro, José Oliveira dos Santos. As obliterações foram realizadas pela viúva, Márcia Martins, pela filha, Daniela Thomas, pela irmã, Maria Elisa Alves Pinto Teixeira, e pelo produtor de cinema e idealizador do projeto, Tarcísio Vidigal. 

Em seu discurso, o SE/RJ celebrou o artista e lembrou da missão contínua dos Correios de registrar em selos os elementos que fazem do Brasil um país único. “Cada emissão dos Correios é carregada de emoção. E esta, em particular, reflete nossa gratidão ao trabalho do Ziraldo e sua enorme contribuição à cultura nacional”, disse Oliveira.

A filha do artista, Daniela Thomas, que é diretora do Instituto Ziraldo, afirmou que o pai estaria muito feliz com a homenagem. “Para uma criança criada em Caratinga, Minas Gerais, nos anos 30 e 40, o selo sempre foi uma forma de honraria, feita por artistas extraordinários. Quando meu pai foi convidado para desenhar selos dos Correios, disse que significava um reconhecimento de que ele tinha se tornado um cidadão importante para o país”, destaca.

Daniela Thomas, Tarcísio Vidigal, José Oliveira (ao centro), Márcia Martins e Maria Elisa. Foto: CCOM-RJ/Correios

Sobre os selos

O produtor Tarcisio Vidigal, da Filmes de Minas, e a equipe do Instituto Ziraldo selecionaram no acervo da instituição quatro desenhos de diversas épocas para ilustrar a nova série. O primeiro selo traz um Papai Noel desenhado na década de 1970 que, segundo o relato do próprio Ziraldo no livro “40-55, Itinerário de um artista gráfico”, é o desenho “mais solto e bem resolvido” que ele já fez do Bom Velhinho. Outro selo reproduz a capa da revista “A Turma do Pererê” de 1975, adaptada para o Natal de 2024. O terceiro selo apresenta a ideia, feita a lápis de cor, do Menino Maluquinho para um Natal do fim dos anos 1990. O quarto selo exibe um desenho original criado para o cartaz da 41ª Feira da Providência, de 2001.

A tiragem total será de 160 mil exemplares (40 mil para cada selo), com valor facial de R$ 2,55. As técnicas usadas nas ilustrações são nanquim, aquarela líquida, lápis de cor e pintura digital.

Sobre Ziraldo

Ziraldo Alves Pinto dedicou-se por sete décadas à literatura e à ilustração. Foi artista gráfico, humorista, escritor, ilustrador, cartunista, caricaturista, dramaturgo, jornalista… um verdadeiro multiartista que marcou a cultura brasileira. Nasceu em 24 de outubro de 1932, em Caratinga (MG). Publicou seu primeiro desenho aos 6 anos, no jornal “A Folha de Minas”.

A paixão por gibis o levou a lançar, em 1960, a pioneira revista em quadrinhos Pererê, com temáticas socioambientais até hoje atuais e relevantes, que circulou nas mãos de crianças e jovens de todo o Brasil. Em 1967, criou Os Zeróis, caricaturas irreverentes de personagens como Mulher Maravilha, Super Homem, Tarzan, Batman, Robin, Tocha Humana, etc. que viraram tiras de humor e foram publicadas em diversos jornais nacionais e internacionais. Em 1969, recebeu o Nobel Internacional de Humor, no 32º Salão Internacional de Caricaturas, em Bruxelas.

Durante a ditadura militar do Brasil, suas caricaturas tiveram grande destaque político. No mesmo ano do Nobel de Humor, lançou seu primeiro livro, Flicts, um divisor de águas na literatura infantojuvenil. Em 1980, com o sucesso estrondoso de O Menino Maluquinho, Ziraldo mergulhou profundamente na literatura para crianças e jovens, tendo editado ao longo de sua carreira quase 200 títulos.

Em 70 anos de trabalho, sua produção atingiu uma relevância incomparável que pode ser vista em catálogos, coletâneas, antologias e depoimentos de fãs de todas as idades. Participou de inúmeros salões de humor, diversas exposições de arte a partir de suas criações e recebeu incontáveis homenagens e prêmios, com destaque para o Prêmio Iberoamericano de Humor Gráfico Quevedos, em 2008, pela qualidade e importância de sua obra, seu compromisso social, sua difusão e grande repercussão internacional.

Ziraldo faleceu no Rio de Janeiro aos 91 anos, em 6 de abril deste ano, deixando um acervo relevante para a memória cultural do Brasil. Este acervo vem sendo digitalizado, catalogado e difundido pelo Instituto Ziraldo. 

Sobre o Instituto Ziraldo

Instituição cultural que preserva e difunde o acervo visual e intelectual do multiartista Ziraldo, o IZ é responsável pelo desenvolvimento de projetos a partir deste acervo relevante e representativo de sete décadas de nossa recente história.  A instituição já digitalizou e inventariou, até o momento, cerca de 18 mil itens que incluem ilustrações, esboços e ideias. É a guardiã de objetos e materiais de trabalho do artista, além da vasta coleção de coletes, uma das marcas registradas de Ziraldo.

O acervo inclui inúmeros troféus, encadernações das publicações da Revista Pererê, do periódico O Pasquim, miniaturas dos personagens de Ziraldo, edições do livro “O Menino Maluquinho” em todos os idiomas publicados, a biblioteca de consulta do artista, a biblioteca de suas obras, sendo ainda o organizador de um imenso material biográfico com fatos e curiosidades sobre o artista e sobre os contextos social e político das suas obras.

Dentro da política de difusão do Instituto Ziraldo, além das recentes realizações com exposições, projetos editoriais, audiovisuais, ações educativas e sociais de incentivo à leitura, consta o intercâmbio cultural e artístico entre instituições, escolas e pesquisadores em âmbito nacional e internacional. Ler para ir além da leitura é a missão do Instituto Ziraldo.

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