ESPECIAL|
Pai desde o positivo: homens que abraçaram a paternidade desde a gestação

Eduardo Amaral e o pequeno Dudu: “não queria que meu filho tivesse um pai como eu tive.” Foto: Arquivo pessoal.

Por Juliana Miranda

Quando começa a paternidade? Mais do que um vínculo biológico, ser pai é uma construção diária. É transformar sentimento em atitude: de cuidado, de apoio e de presença. Nesta segunda matéria da série em homenagem ao Mês dos Pais, conheça três histórias de homens que se tornaram pais desde o instante em que viram o resultado positivo da gravidez e que tiveram suas vidas transformadas por essa escolha.

“O maior desafio da minha vida” — Antonio Marcos Cezar dos Santos, Araraquara (SP)

Antonio Marcos: “Errar faz parte do processo”. Foto: Arquivo pessoal.

O atendente comercial Antonio Marcos lembra com nitidez o dia em que tudo mudou: “Estava em casa, com minha companheira, Kátia, e ela me mostrou o teste de gravidez positivo. Senti uma mistura de alegria, surpresa e responsabilidade. Minha primeira reação foi abraçá-la e começar a planejar o futuro.”

O resultado trouxe mudanças visíveis, na casa, na rotina, e outras mais sutis, emocionais, fruto de reflexão. Ao saber que teria uma menina, mergulhou em leituras sobre paternidade, preparou o quarto e se envolveu nos preparativos:

“Senti um desejo de ser um bom modelo para minha filha, de aprender como elaborar tudo isso sendo homem e mostrar minha visão do mundo feminino. O desafio foi um dos maiores da minha vida.”

Um dos momentos mais marcantes veio no ultrassom: “Ao ouvir o coração da minha filha pela primeira vez, passou um filme em preto e branco. Lembrei dos tempos desde criança, de tudo que passei. Estar ali no papel não mais de criança, mas de adulto prestes a ser pai, foi mágico.”

Com o nascimento de Rhaizza, hoje com 11 anos, e depois de Anthony, de 6, ele reafirma:

“Ser pai é uma jornada desafiadora. Errar faz parte do processo, mas como reagimos aos erros vai germinar no inconsciente de nossos filhos por toda a vida.”

Para o agente de Correios Eduardo Amaral, lotado em Barbacena (MG), a paternidade começou com um pacto íntimo: “Não queria que meu filho tivesse um pai como eu tive. Abraçar a paternidade parece algo lógico e até natural pra mim. Meu maior desejo é ver meu filho ser saudável, bom e feliz.”

Desde o anúncio da gravidez, mergulhou em estudos e até treinava de madrugada:

“Eu treinava com um pacote de arroz de madrugada como segurar um bebê. O mais importante na minha cabeça era saber como desengasgar um bebê. Sempre tive medo disso.”

No meio do caminho, enfrentou a dor de perder a mãe: “Ela morreu sabendo que seria avó, finalmente, mas não conseguiu ser. Sua última frase foi ‘não vou ver meu neto nascer’.”

Seis meses depois, nascia Dudu, “a cara da avó”:“Fui o primeiro a pegar meu filho no colo, sentir aquele bafinho de quem nunca se alimentou e ver seus olhinhos abrindo pela primeira vez. Ali tive a constatação óbvia de que minha vida havia mudado.”

Hoje, aos 10 meses de Dudu, Eduardo resume: “Não existe perfeição nessa vida, mas o amor é gigante e seus atos marcarão a trajetória do seu filho. Ser pai é, sem dúvidas, a melhor jornada da minha vida

Paternidade é sobre estar disposto” — José Alexandre Junior, Natal (RN)

José Alexandre: “Antes mesmo de nascer, minha filha já tinha me tornado um homem melhor.” Foto: Arquivo pessoal.

José Alexandre lembra exatamente do momento em que foi surpreendido: “Foi um sábado de manhã cedinho. Estava dormindo e minha esposa, Cibelle, me acordou com um teste positivo. Naquele instante, o mundo pareceu parar. Foi uma mistura de gratidão e alegria tão intensa que nem sei descrever.”

Ao saber que teria uma menina, Clara Vitória, pensou imediatamente no papel que queria assumir: “Meu primeiro pensamento foi: como cuidar, acolher e ser porto seguro para esse ser tão pequeno ainda? Mas eu tinha uma certeza: queria que ela se sentisse amada e segura todos os dias de sua vida.”

Participou de tudo: consultas, exames, conversas, preparativos. Criou até uma rotina para se conectar com a filha na barriga: “Todas as noites, eu conversava com ela e colocava a mão na barriga para sentir seus movimentos. Quase sempre ela ‘respondia’ com chutinhos. Eu queria que, quando viesse ao mundo, reconhecesse minha voz e soubesse que estava segura.”

Ele diz que a chegada de Clara mudou sua visão de mundo:

“Antes mesmo de nascer, minha filha já tinha me tornado um homem melhor. Entendi que paternidade não é sobre estar pronto, e sim sobre estar disposto.”

E deixa um recado aos novos pais: “Viva cada segundo. Esteja ao lado da mãe, participe de tudo, fale com seu filho ainda na barriga. O tempo voa, e cada momento é único e insubstituível. Nada se compara ao amor de pegar um filho no colo pela primeira vez.”

Esses três homens mostram que a paternidade não começa no parto, mas no momento em que o amor encontra um propósito. Porque, para quem escolhe estar presente desde o positivo, ser pai é mais que um papel: é um compromisso diário de amor e presença.

ESPECIAL|
Paternidade moderna: porque pai é base, não apoio

A família mudou – e com ela, a paternidade. O que antes era visto como um papel mais distante, quase sempre restrito ao sustento material, hoje ganha novos contornos: ser pai é estar presente, dividir responsabilidades, cuidar, amar e educar de forma ativa e cotidiana.

Sim, as transformações sociais e culturais dos últimos anos redesenharam as estruturas familiares. Nesse novo cenário, pais deixam de ser coadjuvantes no cuidado para se tornarem protagonistas ao lado das mães, construindo uma coparentalidade verdadeira, baseada no afeto e na parceria. Ganham todos, principalmente os filhos, que crescem com mais segurança emocional, autoestima, autonomia, empatia e respeito pelos outros.

Em artigo publicado em 2008, as pesquisadoras Ana Cristina Staudt e Adriana Wagner já destacavam essa mudança: a paternidade vem sendo vivida de forma mais participativa. Segundo elas, o avanço do movimento feminista e a entrada massiva das mulheres no mercado de trabalho foram cruciais para esse novo equilíbrio dentro das famílias.

Mas, para além das teorias, é na rotina que esse novo pai se revela.

Pais que sustentam, cuidam e compartilham

Leonardo Fernandes, jornalista dos Correios, vive essa nova realidade. Ele e a esposa, Luíza, deixaram Minas Gerais há cerca de 10 anos e se mudaram para Curitiba (PR), onde nasceu o filho do casal, Caetano, hoje com 8 anos. Sem rede de apoio por perto, os dois aprenderam, na prática, o que significa dividir responsabilidades.

Leonardo com a esposa, Luíza, e o filho, Caetano. Foto: arquivo pessoal.

“Sempre busquei suprir e equilibrar esse quadro para evitar o desgaste materno, natural no puerpério e nos primeiros meses do bebê. Nesse comecinho de vida do Caetano, que mamava no peito e consumia muito mais da mãe, inclusive durante as noites, eu procurava desempenhar tarefas não exclusivas dela, para poupá-la um pouco e também criar um vínculo mais forte com nosso filho”, relata.

Poucos meses após o nascimento, a família enfrentou um desafio delicado: a descoberta de uma alergia alimentar (APLV – alergia à proteína do leite de vaca). A nova rotina exigia cuidados extremos com a alimentação da mãe e do bebê. Leonardo assumiu o controle da cozinha, adaptando receitas e cuidando de cada detalhe para garantir o bem-estar da esposa e do filho.

Hoje, com a rotina mais estabilizada, Leonardo segue presente: leva e busca Caetano em atividades, ajuda nos deveres, acompanha a escola. “Sempre nos revezamos. Atualmente, após ajustes nas rotinas de trabalho, eu tenho dado mais apoio ao Caetano, levando e buscando nas atividades extracurriculares, como aulas de inglês, natação e teatro. Hoje também sou eu quem o leva para a escola. Assim seguimos e tem dado certo. Ele nos ensina muito, afinal de contas, temos que educar, mas, ao mesmo tempo, nos atualizar para que ele tenha uma vida sadia e feliz, livre de preconceitos e amarras sociais que talvez tenhamos passado quando crianças sem perceber”, declara Leonardo.

Cuidar também é amar e dividir

Rodrigo Rovai, engenheiro de produção nos Correios, também carrega uma história de paternidade transformadora. Ele já tinha enraizado que a tarefa de criar um filho tinha que ser dividida, não sobrecarregando apenas o pai ou a mãe. “Eu sempre encarei a criação de uma criança como uma parceria”, afirma.

Rodrigo com a esposa, Fabiana, e a filha, Mariana. Foto: arquivo pessoal.

Quando Rodrigo se casou com a esposa, Fabiana Lobão, ela já tinha uma filha de 6 anos, Mariana. O convívio diário e a oportunidade de exercer a paternidade foram uma experiência emocionante para o engenheiro. “Você passa a entender que precisa priorizar outras coisas, que você tem outra vida para cuidar. E cuidar é educar, e educar é difícil. Já estamos nesse convívio há quase 7 anos, entrando na adolescência, e a cada fase são novos desafios, outras mudanças. Mas eu não posso reclamar de nenhuma vírgula, eu amo cada um dos nossos momentos, cada uma das situações que a gente passa juntos”, declara.

Sobre a divisão de tarefas, Rodrigo defende que o casal deve sempre conversar a respeito, pois são obrigações que se ajustam conforme as rotinas da família mudam. “O importante é que nenhum dos dois fique sobrecarregado e que o núcleo familiar consiga conviver em paz. Porque sobrecarregar uma pessoa pode trazer algumas consequências como irritabilidade e isolamento, e isso pode atrapalhar o convívio familiar e social também”, finaliza.

Paternidade responsável é presença emocional

Mesmo com tantos avanços, muitos homens ainda enfrentam obstáculos estruturais para exercer a paternidade com plenitude. Um exemplo é o tempo da licença-paternidade no Brasil: a legislação garante apenas 5 dias após o nascimento ou adoção de um filho. Empresas que aderem ao Programa Empresa Cidadã, como os Correios, podem estender esse período para até 20 dias.

Atualmente, projetos em discussão no Congresso propõem ampliar esse tempo, com argumentos que vão além da logística: trata-se de uma política de cuidado, vínculo e equidade. Afinal, quanto mais envolvido o pai, mais saudável o ambiente familiar – e mais equilibrada a sociedade.

Para o psicanalista Thiago Queiroz, do blog “Paizinho, Vírgula!”, a paternidade ativa transforma não só as famílias, mas também as estruturas sociais. “Quando incluímos os pais como corresponsáveis pela criação dos filhos, estamos mudando o mundo. Pais podem – e devem -, construir vínculos tão profundos quanto os das mães. Mas para isso, precisam estar presentes, disponíveis, atentos às necessidades emocionais das crianças”, defende.

Coparentalidade: crescer juntos

Coparentalidade vai além de morar na mesma casa. Mesmo quando os pais não vivem mais juntos, é possível (e necessário) dividir afetos, cuidados e decisões. A criança ganha segurança emocional ao ver que pode contar com ambos. Ela cresce com exemplos de empatia, respeito e equilíbrio. E tudo isso começa com uma escolha: ser pai de verdade.

Que este Dia dos Pais seja de celebração, mas também de reflexão – para garantir um presente de mais cuidados para cada família e um futuro melhor para a humanidade.

Paternidade não é ajuda, não é suporte ocasional. É base. É presença. É amor com responsabilidade.

Feliz Dia dos Pais!

EQUIDADE|
Debatemos o desafio de construir uma justiça inclusiva

Em parceira com a Defensoria Pública da União (DPU), promovemos seminário
sobre protocolos de julgamento com perspectiva de gênero e raça

Promover a justiça de forma verdadeiramente equitativa requer um olhar atento às desigualdades estruturais que historicamente impactam diferentes grupos sociais. Foi nesse sentido que os Correios, em parceria com a Defensoria Pública da União (DPU), realizaram, nesta quarta-feira (6), no auditório do edifício-sede em Brasília/DF, o seminário
“Interseccionalidade: Protocolos de Julgamento com Perspectiva de Gênero e com Perspectiva Racial”. O evento reuniu especialistas do sistema de justiça, representantes de instituições públicas e de movimentos sociais para debater como os estereótipos e a invisibilidade de gênero e raça podem influenciar decisões judiciais e impactar vidas.

A superintendente Executiva de Educação da estatal, Roberta Suely de Souza Cabral, explicou que a iniciativa reflete o comprometimento da estatal com políticas voltadas à equidade de gênero e à promoção da igualdade racial. “Essa ação tem vínculo direto com a política corporativa dos Correios nos âmbitos de diversidade, gestão de pessoas e
sustentabilidade. Ela reforça nosso trabalho na criação de um ambiente
de trabalho saudável”, afirmou.

Desde 2023, os Correios têm se firmado como um aliado do governo federal na reconstrução de uma sociedade que tem o respeito aos direitos humanos como um de seus pilares. Dentre as ações da estatal, destacam-se a aprovação da Política
Corporativa de Diversidade e a inclusão de metas no Plano Estratégico
2025–2029 que estabelecem, por exemplo, que os cargos de gestão da
empresa devem ser ocupados por 40% de mulheres e 30% de pessoas negras,
no mínimo.

Durante o evento, o defensor público-geral federal, Leonardo Cardoso de Magalhães, ressaltou a parceria histórica entre a Defensoria Pública da União e os Correios. “A DPU promove ações efetivas para o combate à discriminação racial e a discussão sobre os protocolos vem somar esforços para aumentar o acesso à justiça e a promoção da equidade”, garantiu.

Gleidson Renato Martins Dias, ouvidor-geral da DPU, destacou que o debate sobre os protocolos de julgamento com perspectiva racial e de gênero é fundamental para que a justiça brasileira avance no enfrentamento das desigualdades, por isso, precisa ultrapassar os espaços do Judiciário e ser apropriado por toda a sociedade. “Os direitos só são direitos porque se luta por eles. Existe uma necessidade urgente para que se entenda o funcionamento dos protocolos, pois não é possível ter acesso à justiça sem democracia”, afirmou.

Durante o seminário, o ouvidor-geral fez o pré-lançamento do e-book “Enegrecendo o Direito: resistência e produção acadêmica negra enfrentando a branco-normatividade jurídica”, coordenado por ele e pela advogada e Mestre em Direito Muriel Fernanda Benites.

O evento foi gravado e está disponível no Canal dos Correios no YouTube.

Sobre o protocolo de Julgamento com Perspectiva de Gênero

Lançado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2021, o Protocolo para Julgamento com Perspectiva de Gênero orienta magistradas e magistrados a considerar os impactos específicos das desigualdades de gênero nos processos judiciais. A proposta busca evitar decisões baseadas em estereótipos e promover uma justiça mais sensível às vivências de mulheres, especialmente em situações de violência, discriminação e desigualdade social.

Sobre o Protocolo de Julgamento com Perspectiva Racial

O Protocolo com Perspectiva Racial, publicado em 2023, também pelo CNJ, oferece diretrizes para que o Judiciário reconheça e enfrente o racismo estrutural presente na sociedade brasileira. O documento incentiva uma análise crítica das relações raciais nos autos e orienta o julgamento de casos com atenção às desigualdades raciais históricas, visando uma atuação mais justa, reparadora e equânime.