Envio dos kits de autotestagem pelos Correios garante privacidade. Foto: Divulgação/Correios
O Ministério da Saúde estima que 135 mil pessoas vivem com HIV no Brasil e não sabem. Para viabilizar o diagnóstico, em 2019 o Sistema Único de Saúde (SUS) passou a oferecer kits de autoteste de HIV. Graças aos Correios, em alguns locais já é possível fazer a autotestagem na privacidade de casa, de forma gratuita.
O projeto “A hora é agora”, parceria entre Prefeitura de Curitiba, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Centers for Disease Control and Prevention (agência de saúde americana), desenvolveu uma plataforma virtual (www.ahoraeagora.org) onde é possível solicitar o envio do autoteste por meio dos Correios na capital do Paraná. Dois tipos de kits de autotestagem estão disponíveis: o que utiliza fluido oral e o que retira uma pequena amostra de sangue do dedo por punção digital.
Segundo a coordenadora do Programa Municipal de DST e Aids de Curitiba, Liza Bueno Rosso, o envio dos kits pelos Correios possibilita atingir um público maior. “As pessoas ficam mais à vontade recebendo e fazendo o teste em casa, com privacidade”, disse. O autoteste é recebido por correspondência, em embalagem sigilosa.
Neste 25 de janeiro, os Correios celebram os 357 anos da institucionalização dos serviços postais regulares no país e a criação do cargo de Correio-Mor das Cartas do Mar. O marco escolhido também homenageia os profissionais que, até hoje, percorrem avenidas, ruas e vielas para entregar aos brasileiros cerca de 20 milhões de objetos, todos os dias.
A entrega domiciliar de
correspondências teve início em 1835, mas só no Decreto 255, de 29 de
novembro de 1842, que a palavra carteiro foi usada oficialmente
pela primeira vez. O documento também previa a perda da comodidade de receber
as correspondências em casa, para aqueles que maltratassem o profissional.
É fácil constatar
que, ao longo do tempo, os carteiros ganharam não apenas o
respeito, mas a confiança e o carinho do povo. Não é à toa. Carregando incontáveis histórias
em suas bolsas, durantes suas andanças eles acompanharam o desenvolvimento
das cidades, o crescimento dos bairros, famílias se transformarem,
negócios surgirem… A vida se desenrolar, em meio a tantos passos da
jornada.
Atualmente, mais de 55 mil carteiros percorrem, por dia, cerca de 435 mil quilômetros, seja a pé, de carro, moto ou bicicleta. Para se ter uma ideia, isso corresponde a percorrer 98 vezes os pontos extremos do Norte ao Sul do Brasil, do Monte Caburaí, em Roraima, ao Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul, ou 100 vezes os extremos de Leste a Oeste , entre o Ponta do Seixas, na Paraíba, e a Serra Contamana, no Acre.
Uma rotina desafiadora, cumprida com orgulho e dedicação. Faça chuva ou sol escaldante, seja com latidos ou lambidas carinhosas dos cachorros, lá estão eles, vestidos de azul e amarelo, movidos pela missão de aproximar pessoas, negócios, governos, entregando sempre as melhores soluções.
Carteiro em verso e prosa
Profissional foi retratado na TV, pintura e cinema
Querido e admirado em todo o mundo, o carteiro tem sido fonte de inspiração para muitos artistas. Ao longo dos anos, estes profissionais foram retratados na música, no cinema, na pintura e na literatura.
A chegada de uma correspondência muito aguardada também inspirou a dupla sertaneja Tião Carreiro e Pardinho a escrever a canção “Carteiro”, em 1961: “eu estava no portão quando o carteiro passou. Tirou da correspondência uma carta e me entregou”.
Isaurinha Garcia
“Quando o carteiro chegou e o meu nome gritou com uma carta na mão.” A música “Mensagem”, composta nos anos 1940 e sucesso na voz de Isaurinha Garcia, é apenas uma das que trazem o profissional em seus versos.
Uma das mais conhecidas composições que retratam o profissional é “Please Mr. Postman” (Por favor senhor carteiro), imortalizada em gravações dos Beatles (1963) e dos Carpenters (1974). Nos versos, um pedido: “por favor, senhor carteiro. Olhe e veja se há uma carta em sua bolsa para mim”.
Beatles e Carpenters imortalizaram o carteiro com o sucesso “Please Mr. Postman”
O filme italiano “Il Postino” (O carteiro e o poeta), de 1994 retrata a amizade entre o poeta chileno Pablo Neruda e um carteiro. Mario, que quer aprender a fazer poesia, fica encarregado de levar a correspondência a Neruda, em exílio na Itália.
Filme mostra amizade entre Pablo Neruda e carteiro italiano
Carteiro Cheval em frente a seu palácio
O cinema também conta, na película “L’Incroyable histoire du facteur Cheval” (A incrível história do carteiro Cheval), de 2018, como Joseph Ferdinand Cheval constrói um palácio em homenagem à filha Alice. Na história verídica, que se passa no final do século 19, o carteiro francês começa a recolher pedras durante sua caminhada no trabalho e passa as noites construindo o edifício, que fica pronto em 33 anos. O lugar tornou-se famoso ao despertar a atenção de escritores como André Breton e Anaïs Nin e de pintores como Pablo Picasso. O “Palais Idéal” é hoje patrimônio cultural da França.
Jaiminho e Chaves
Nas telinhas, o carteiro Jaiminho, do seriado Chaves, também ganhou a simpatia do público no mundo inteiro e foi até homenageado com uma estátua na cidade mexicana de Tangamandapio.
A figura carismática do profissional também foi a personagem principal de uma série de animação da televisão britânica, “Postman Pat” (Carteiro Paulo), de 1981 a 2004. Voltado ao público infantil, o programa mostra as aventuras do carteiro Pat Clifton que entrega correspondências junto com o gato Jess no vilarejo fictício de Greendale. A história também chegou às telonas, transformada em filme em 2014.
Foram as andanças pela cidade de Franca, interior de São Paulo, mais especificamente pelo bairro Jardim Paulista, que despertaram no carteiro Luís Fernando de Sousa um olhar diferente em relação à comunidade na qual trabalha. Há 22 anos no ofício, a pé ou de bicicleta, ele pôde observar a carência de diversas famílias, que não tinham o mínimo básico, como alimentos. A partir daí, Luís deu início a um trabalho social que se transformou em uma de suas paixões.
A formação em Educação Física, somada ao trabalho como carteiro – que o fez conhecer de perto a realidade das pessoas –, deu início ao projeto social “Meninos do Bem”. A iniciativa oferece aulas gratuitas de futebol a crianças e distribui cestas básicas arrecadadas voluntariamente. “As aulas são ministradas por mim. Também faço um acompanhamento dos boletins escolares e ensino os princípios básicos do futebol, exercícios físicos, além de incentivá-los a ter disciplina, dentro e fora do campo”, explica Luís Fernando.
Carteiro Luís Fernando e as crianças do projeto social “Meninos do Bem”, criado por ele. Foto: Arquivo pessoal
Mas o
carteiro vai ainda mais longe nessa entrega, sendo responsável por recolher,
entre os colegas de trabalho do CDD Franca, alimentos que irão compor as cestas
básicas distribuídas para as famílias carentes do projeto, ou para aquelas
indicadas pelos demais carteiros. “Entregar essas cestas para mães e pais de
família, vê-los com os olhos cheios de lágrimas de emoção, é algo que me deixa
com o coração partido por estarem passando necessidade. Mas, ao mesmo tempo,
tenho a sensação de dever cumprido”, afirma.
Acompanhar
o progresso dos meninos que saíram do projeto e, agora, estão no mercado de
trabalho é outra satisfação do carteiro. “Fico muito feliz e realizado.
Enquanto Deus me der saúde, farei esse trabalho com amor”, destaca.
Se essa rua fosse minha
Carteiro Alexsander dos Santos contribuiu para a aprovação de um projeto de lei que nomeou ruas do município Vila Valério (ES). Foto: Divulgação/Correios
Já no
Espírito Santo, o carteiro Alexsander dos Santos é mais um dos profissionais
dos Correios que fazem a diferença pelas ruas por onde passam. Na empresa há 16
anos, desde 2005 ele atua em Vila Valério, a 240 km da capital Vitória. Com
cerca de 14 mil habitantes, o município, fundado em 1994, foi sendo numerado
aos poucos, mas ainda eram raras as placas de identificação das ruas.
No dia
a dia de trabalho como carteiro, Alex, como é chamado, foi conhecendo as
pessoas, as autoridades e ganhando a confiança do poder público. Assim, há
cerca de quatro anos ele recebeu um convite da Câmara Municipal: ajudar no
projeto para demarcação das ruas de Vila Valério.