Texto por Mayra Guapindaia
As relações diplomáticas entre Brasil e Japão, de grande importância para ambos os países no momento presente, remonta do fim do século XIX. Em 1895, é assinado o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação, o que possibilitou a imigração nipônica para São Paulo alguns anos depois. Nesse período, tanto o Japão quanto o Brasil eram países bastante diferentes do que são hoje em dia. O primeiro havia acabado de sair da era Edo (1603-1868) e estava passando pela restauração Meiji. Isso marcou a volta do Imperador ao poder e reabertura para o exterior, vista como uma forma de solucionar o declínio rural que diversas regiões então sofriam. Já o Brasil configurava-se enquanto país prioritariamente agroexportador, sendo o café seu produto mais importante. Havia, também, acabado de sair de um sistema monárquico e escravista, e apostava na mão-de-obra estrangeira para, após a abolição, suprir os braços necessários para o trabalho agrícola.
Em 28 de abril de 1908, parte de Kobe, o navio Kasato, primeira embarcação levando imigrantes japoneses rumo ao Brasil. A viagem, que durou dois meses, foi extremamente cansativa, marcada por doenças e faltas de suprimento para os viajantes. Em 18 de junho, desembarcaram no Porto de Santos 781 pessoas, a maioria oriunda das províncias de Okinawa, Kagoshima e Fukushima. Iam rumo às fazendas de café paulistas, marcando o início da integração econômica, social e histórica entre japoneses e brasileiros.
Se, inicialmente, os primeiros imigrantes vieram com destino ao trabalho agrícola nas fazendas de café, a commodit de maior valor de exportação mundial para o Brasil no início do século XX, atualmente, há cooperação em outras áreas. No acordo bilateral entre os países, firmado em 2014, vem sendo desenvolvidos pactos mútuos de investimento em ciência, tecnologia e inovação. Nesse sentido, se destacam projetos conjuntos com terceiros países, como o sistema nipo-brasileiro de TV digital para a América do sul, central, África e Ásia.
Atualmente, a população da comunidade japonesa no Brasil é a terceira maior do exterior, com cerca de 200 mil pessoas. Já os “Nikkei”, descendentes de japoneses, são a maior população de origem nipônica fora do Japão: chegam a 2 milhões.
Os laços de amizade, de relações comerciais e diplomáticas com o Japão são extremamente importantes para o Brasil. Em 2018, o país asiático figurou como a terceira maior economia do mundo e foi o sexto maior investidor direto em nosso país.
Hoje, 3 de novembro, é lançado o selo personalizado comemorativo aos 125 anos de amizade Brasil-Japão, tendo como marco inicial a assinatura do tratado de 1895. Vemos, portanto, a reconstrução de um momento histórico em selo postal, ou seja, a visão do presente sobre a conexão das duas nações, atualmente bastante diferente do que foi no século XIX.
Ao longo do tempo, as relações entre os dois países foram marcadas simbolicamente pelo lançamento de selos postais comemorativos, especiais e personalizados, que buscaram comemorar a imigração nipônica e a integração das duas culturas. Conhecer estes selos é compreender como foram interpretadas, por meio da arte filatélica, o vínculo nipo-brasileiro ao longo da história e qual sua importância na visão oficial de ambos os países.
O primeiro selo foi lançado em 1957, marcando os 50 anos da imigração japonesa. O destaque da arte são os produtos agrícolas, vistos como elementos essenciais para os brasileiros e colonos japoneses naquele momento. Vale ressaltar que os anos 1950 registram a volta das relações diplomáticas entre Brasil e Japão, rompidas durante a Segunda Guerra. O fim deste evento bélico foi marcado pela existência, no Brasil, de japoneses que não acreditaram na rendição japonesa, havendo conflitos entre esse grupo e as autoridades brasileiras, especialmente em São Paulo. Em 1953, finalmente, a imigração nipônica foi retomada.
Em 1967, o príncipe herdeiro, Akihito (atualmente Imperador) e sua esposa, visitaram a capital Brasília. Foi um evento de grande importância, haja visto ser a primeira visita oficial de representantes japoneses em solo nacional. Por isso, foi marcada com selo postal.
Ainda nos anos 1960, a integração entre ambos os países se solidificou com a inauguração do primeiro voo da Varig para solo japonês. 26 de junho de 1968, o avião partiu do Rio de Janeiro. Transportou 55 passageiros, integrantes da colônia japonesa no Brasil.
Este selo marca os 80 anos da imigração japonesa. O edital, assinado pelo Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, indica que na data existiam por volta de 80.000 pessoas que faziam parte da comunidade Nipo-brasileira. Na arte, é representada uma família japonesa, e, ao fundo é possível ver o navio Kasato Maru, o primeiro a desembarcar no Brasil com imigrantes do Japão.
Este selo marca o 5 de novembro de 1895, data da assinatura do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação, ato inaugural da relação diplomática entre os dois países. Em 1995, A data foi comemorada, tendo sido criada uma Comissão Organizadora Nacional das Comemorações do Centenário, que assinou o edital do selo.
Este bloco de 2008 marca o centenário da primeira imigração japonesa. Em um dos selos, é possível vislumbrar o navio Kasato Maru. Nessa época, a população nipo-brasileira já chegava há 1.5 milhões.
E, por fim, destacamos o selo personalizado de 2018, dos 110 anos da imigração japonesa, lançado no Paraná. Este estado é um dos que possui maior concentração de nipodescendentes, que passaram a habitar a região nos anos 1930. Estão concentrados sobretudo na cidade de Assaí. Atualmente, lá se comemoram festivais tradicionais que também se celebram anualmente no Japão, como o Tanabata e Bon Odori.
O selo é lindo, mas acho que as relações Brasil-Japão já estão bem representadas filatelicamente, não vi essa necessidade.