DIA NACIONAL DO SURDO
Correios emprega 142 pessoas com deficiência auditiva

Kárita Sena

A perda auditiva severa não impediu Regina Pacheco de trabalhar como carteira motorizada.

Quem vê Regina Pacheco, 51, entregando objetos nas ruas do Aero Rancho, na periferia de Campo Grande (MS), não imagina que ela integra mais do que as gigantes estatísticas dos Correios. Além dos mais 900 objetos que ela faz chegar no destino todos os dias, rodando de moto, Regina faz parte de outro importante dado: os mais de 2 milhões de pessoas que convivem com uma deficiência auditiva (DA) severa no Brasil., segundo o IBGE.

Para além dos números, Regina é uma carteira motorizada que venceu obstáculos maiores que qualquer ladeira ou buraco. Há 20 anos, ela recebeu o diagnóstico de perda auditiva leve, que foi se agravando com o tempo até alcançar o grau severo/profundo. Atualmente, ela usa aparelhos auditivos nos dois ouvidos e utiliza a fala normalmente para se comunicar.

“Antes eu achava que todo mundo ouvia como eu. Fui descobrir a perda auditiva em um exame periódico depois de entrar nos Correios”, conta. Há 23 anos na empresa, ela diz que foi se adaptando com o tempo e desenvolveu melhor outros sentidos, inclusive quando foi aprovada para fazer entregas com moto nos Correios.

Ela também afirma que hoje a deficiência não a atrapalha em nada. “Tenho atenção redobrada. Em 15 anos como carteira motorizada nunca recebi nenhuma multa nem me envolvi em acidentes de trânsito”. Regina faz periodicamente acompanhamento com especialistas, atualizando os laudos médicos que a respaldam para exercer sua função.

Inclusão em números

Dos 142 empregados dos Correios que declararam à empresa ter alguma deficiência auditiva, 63 são atendentes, 37 são carteiros, 18 são Operadores de Triagem e Transbordo, 8 estão em cargos de nível superior, 3 são jovens aprendizes, e 13 são de outros cargos e funções. A maioria tem entre 36 e 45 anos (38%) e é homem (61%). Quase 60% deles ingressaram na empresa nos últimos nove anos.

De igual para igual

Do outro lado do cadeia postal, quem entra na Agência Ouro Verde em Dourados (MS) é recebido por muitos sorrisos, entre eles o da atendente comercial Geneci Costa de Souza, 39. O trabalho é em equipe, “de igual para igual”, como ela diz, mas Geneci tem uma perda auditiva de 55%.

“Eu me sinto privilegiada em trabalhar nos Correios. Foi um desafio porque nunca tinha atuado no atendimento ao público. Mesmo com a minha audição limitada eu consigo desenvolver minhas atividades perfeitamente”, conta ela, que foi diagnosticada com DA ainda quando criança, sem que a causa fosse descoberta.

Há oito anos nos Correios, Geneci ouve baixo mas complementa a codificação com a leitura labial, pois não se adaptou ao uso do aparelho auditivo. Seja no trabalho ou em casa, ela foi desenvolvendo outras habilidades para suprir a perda auditiva. “Converso sempre olhando no rosto das pessoas, focando na leitura labial. Assim como outros indivíduos com deficiência auditiva, assisto televisão normalmente, sem legendas”, exemplifica.

Quem também relata desconforto com o uso de aparelho auditivo é o analista de Correios, Florisvaldo Furtado Ribeiro. Depois de quase duas décadas de trabalho em diferentes funções na empresa como de gerente de Operações, assessor técnico e assessor de planejamento e qualidade, Florisvaldo percebeu há três anos que a dificuldade de ouvir alguns sons estava se agravando, principalmente diante de ruídos ou conversas simultâneas no ambiente de trabalho.

Em 2018, Florisvaldo passou a usar aparelho auditivo nos dois ouvidos. Com 63 anos, sua audição é, segundo especialistas, equivalente à de uma pessoa de 80 anos. O empregado não sente dificuldades para trabalhar ou realizar outras funções no dia a dia. “Consigo executar todas as tarefas normalmente, apesar de algum incômodo com o aparelho”, conta Florisvaldo.

Dia Nacional do Surdo

O Dia Nacional do Surdo, comemorado hoje (26/9), foi oficializado por meio do decreto de lei nº 11.796, de 29 de outubro de 2008. A escolha da data é uma homenagem à criação da primeira Escola de Surdos do Brasil, em 1857, na cidade do Rio de Janeiro, que atualmente é conhecida como INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos).

O mês de celebração do Dia dos Surdos é conhecido como “Setembro Azul”, em que se comemora também o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência e o Dia do Atleta Paralímpico. A cor remonta a um hábito comum durante a Segunda Guerra Mundial, quando os nazistas identificavam todos os deficientes com uma faixa azul no braço. (Fonte: Portal do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos).