150 ANOS DO CARTÃO-POSTAL
Uma rede social vintage

Flávia Drummond
Marcos Brás

Ele pode ser considerado o avô do Instagram. Por meio do cartão-postal, que comemorou 150 anos nesta terça-feira (1º), as primeiras imagens de monumentos, fatos históricos, personalidades, cidades e infinita temática começaram a ser compartilhados e rodar o planeta.

Para celebrar esse ícone postal, o Museu Correios, em Brasília, lançou a exposição O mundo em suas mãos: arquitetura em formas, cores e beleza. Até 27/10, a mostra retrata a beleza arquitetônica de diferentes lugares e civilizações por meio de cartões postais do mundo inteiro.

Criado em 1869 por Emmanuel Hermann, na Áustria, inicialmente como meio de comunicação para baratear as correspondências, o “Correspondenz-Karte” surgiu como uma simples cartolina, contendo apenas o selo, o espaço para menção do destinatário e um local, no verso, para mensagens curtas.

Cartão-postal do início do século XX. Foto: Acervo Museu Correios

O sucesso foi tanto que, um ano depois, a ideia foi adotada oficialmente na Alemanha, Inglaterra, Suíça e Luxemburgo e, em 1875, em todos os países membros da União Postal Universal (UPU). No Brasil, o cartão-postal foi criado pelo Decreto nº 7695, em 1880, pelo Ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, conselheiro Manuel Buarque de Macedo.

A aceitação foi altíssima. Quatro anos depois de adotada, essa correspondência aberta e sem envelope quase ultrapassou a circulação de cartas comuns, com mais de 200 mil unidades enviados. Em 1909 foram 15 milhões de cartões-postais circulando no RJ – quando a população era de 20 milhões de pessoas.

A chegada da fotografia

O cartão-postal como conhecemos hoje surgiu, em 1902, na Inglaterra, com a introdução de imagens e, mais tarde, fotos na parte da frente e o endereço do destinatário no verso. Mas foi em 1906 que o verso dividido entre destinatário e espaço para mensagem entrou em cena.

O meio de comunicação ficou ainda mais popular com a chegada da fotografia, que ainda era cara e dava seus primeiros passos. Até a Primeira Guerra Mundial, o cartão postal foi o grande difusor dessas fotos em uma sociedade ávida por conhecimentos e imagens e que ainda não contava com a televisão. Era a era de ouro dos postais, época em que toda família com alguma posse tinha um álbum que mostrava orgulhosamente aos parentes e amigos.

A história da fotografia se confunde tanto com a dos postais que, no Brasil, há inúmeros fotógrafos que também foram editores de seus próprios cartões. Entre os três mais famosos no país no início do século XX estão Guilherme Gaensly, que reuniu centenas de imagens da Bahia e de São Paulo, Marc Ferrez, o fotógrafo do Rio de Janeiro por excelência, e Augusto Malta, considerado o cronista fotográfico de sua época.

“O cartão-postal acaba sendo a memória coletiva de determinada sociedade”, aponta a historiadora da Universidade de Brasília, Ana Lúcia Abreu. Foi por meio da fotografia difundida pelos postais que manifestações musicais e folclóricas, a fauna, a flora, os artistas, a arquitetura, os fatos históricos e inúmeros outros temas foram divulgados por toda a parte.

Tanta variedade e beleza encantam milhares de pessoas, que se dedicam a colecionar os postais. São os cartofilistas. Seja para reunir belas fotos e ilustrações ou guardar imagens dos lugares que visitou ou pretende visitar, esses colecionadores mantêm a história viva.

Com significado e com afeto

Em mundo cada vez mais virtual e descartável, formas de comunicação com significado são raras. Agora imagine alguém que o escolheu, escreveu à mão uma mensagem só para você, colocou um selo e depois enviou-o por correio. Esse é o Postcrossing, um projeto de rede social que, em vez do bate-papo virtual, faz milhares de pessoas no mundo inteiro interagirem por meio da troca de cartões postais enviados pelo correio.

Tudo começou em 2005, no apartamento de um estudante universitário de Portugal. Paulo Magalhães queria se comunicar com outras pessoas do seu e de outros países, mas queria sentir essa comunicação nas mãos. E, como sempre gostou de cartões postais, teve a ideia de criar um site em que outras pessoas com o mesmo interesse pudessem trocar cartões postais. Daí surgiu o nome “Postcrossing“.

Atualmente há quase 780 mil membros, sendo pouco mais de 9 mil do Brasil. Em 14 anos de projeto, já foram enviados mais de 53 milhões de postais.

Para entrar na brincadeira, o primeiro passo é criar uma conta gratuita no site (www.postcrossing.com). Ele está em inglês, mas você pode usar o tradutor do seu navegador, caso prefira. Antes de enviar um cartão postal, é preciso concordar com as diretrizes do projeto, que são as regras de convivência da comunidade.

Ao aceitar as diretrizes, se recebe um código de identificação do cartão postal, o endereço do destinatário escolhido aleatoriamente por meio de um algoritmo e o perfil escrito por essa pessoa. O código é composto das iniciais do seu país e um número único. O código do Brasil começa com “BR-”.

A partir daí, basta escrever uma mensagem no cartão (muitos usuários dão dicas sobre que tipo de mensagem gostariam de receber), o endereço, o código e levar a uma agência dos Correios. Há também a opção de selar e deixar em uma caixa de coleta dos Correios.

Assim que o destinatário receber e registrar o postal no site, outra pessoa em algum lugar do Brasil ou do mundo estará recebendo seu endereço e perfil para lhe enviar um cartão.