Dia Mundial da Bicicleta: paixão além das entregas  

Flávia Drummond

Sustentável e econômica, a bicicleta é utilizada, diariamente, por mais de 4 mil carteiros dos Correios para a distribuição de encomendas. Foto: Divulgação/Correios.

Exercício físico, relaxamento, lazer e mobilidade: ela entrega tudo. Criada há mais de 200 anos como uma alternativa de transporte mais barata e fácil de manter que os cavalos, a bicicleta é celebrada mundialmente neste sábado (3). O meio de transporte faz parte da rotina de entregas dos Correios em todo o país, pelo menos desde a década de 80. São aproximadamente 67 mil quilômetros rodados por dia a bordo da bike, ou 14,7 milhões de quilômetros por ano. 

A carteira Vilma Nogueira, que trabalha há 7 anos no Centro de Distribuição Domiciliária, no Guará (DF), é uma dos 4 mil empregados da estatal que utilizam a bicicleta para a distribuição de encomendas. “Fazer a entrega pedalando é muito melhor, porque a gente gasta menos tempo, agiliza o trabalho e ameniza o cansaço, que é muito maior quando a distribuição de objetos é feita a pé”, conta.  

A carteira Vilma Nogueira aprovou o novo modelo de bicicleta dos Correios. Foto: Divulgação/Correios

Vilma faz parte do grupo de carteiros que já está testando a nova bike de alumínio dos Correios, que vêm renovando a frota da empresa. “Essa é melhor, porque é mais leve, cabe mais coisa e o bagageiro agora tem chave, então consigo trancar os objetos na hora de fazer as entregas. Isso diminuiu o risco de eles caírem pelo percurso, ou de alguém retirá-los sem eu ver”, aponta a empregada, que afirma que o novo modelo também protege as encomendas da chuva. 

Até dezembro deste ano, a empresa deve adquirir mais 1.753 bicicletas de alumínio para uso dos carteiros em todos estados do país. Além de todas as vantagens citadas por Vilma, um percurso de 10 quilômetros de carro a gasolina emite cerca de 1,5 kg de CO2, enquanto a emissão de poluentes da bicicleta é nula para qualquer distância.  

“Os Correios vêm atuando no desenvolvimento de bicicletas cada vez mais adequadas à realidade operacional. Ambientalmente corretas, as bicicletas melhoraram as condições de trabalho dos carteiros, representam ganho de produtividade, maior qualidade das entregas e redução de custos”, destaca o diretor de Operações dos Correios, Temistocles Júnior.

Entrega radical 

A parceria com a magrela pode ultrapassar os limites do trabalho e virar uma paixão nos momentos de lazer, como no caso do carteiro José Hertz. “Nunca pensei em desistir dela. Amo andar de bicicleta desde os 7 anos, desde que eu me entendo por gente. Já pratiquei mountain bike, mas me identifiquei mesmo com o bike trial, modalidade em que saltamos obstáculos de bicicleta”, conta o empregado dos Correios. Além de ser carteiro há 24 anos em Salgueiro (PE), sertão pernambucano, Hertz é piloto de bike trial desde 1999 e já foi vice-campeão da modalidade.

Para José, realizar as entregas na bicicleta é unir o útil ao agradável. “Eu fico feliz por estar praticando um esporte e o cliente, por receber as encomendas em dia”, conta o carteiro, que vê no pedal uma ótima forma de aliar saúde, amizades, bem-estar e exemplo para as novas gerações. “O principal é ocupar a cabeça da criança e do adolescente. Adoro mostrar para a criançada que a moda é praticar exercício físico”, completa. 

Saúde sem fronteiras 

E não são apenas os carteiros que enxergam o veículo de duas rodas com um aliado. Para o atendente comercial, Sérgio Rezende da Silva, o pedal surgiu aos 50 anos, como um auxílio no tratamento de obesidade e diabetes. “Eu me descobri diabético aos 44. Fiquei fazendo uso de medicamento por anos, até um colega sugerir que o ciclismo poderia me ajudar. Comecei a pedalar e fui visitando uma cidade, depois outra”, compartilha o empregado dos Correios, que percorre 50 km de bike diariamente. 

Para o atendente Sérgio Rezende pedalar se tornou sinônimo de saúde. Foto: Arquivo pessoal

Lotado na agência central de Ministro Andreazza (RO), o atendente, que já visitou todos os 52 municípios de Rondônia a bordo da bicicleta, virou notícia ao cruzar as fronteiras do estado e pedalar de Cacoal, em Rondônia, até Cuiabá, no Mato Grosso. “Não tinha lugar melhor, porque há uma BR que liga os estados, sem necessidade de percorrer estrada de terra”, conta o empregado, que pedalou 2200 km no percurso completo e tem como meta pedalar 25 mil km por ano. “Não penso em competição, é tudo pela saúde e pelo prazer”, garante Sérgio. 

Solidariedade sobre rodas  

Além de proporcionar alegria e saúde para quem cruza as ruas com ela, a bicicleta também foi o meio que o atendente comercial Felipe Alex Bozz encontrou para levar uma mensagem de solidariedade pelo mundo. Cicloturista há 15 anos, o empregado dos Correios pedalou mais de 3 mil km ao atravessar a América do Sul, em 2020, com o grupo voluntário Pedalando para a Vida.  

“O objetivo é participar de cicloaventuras que chamem a atenção da comunidade para a importância que a doação de medula óssea tem para salvar vidas e famílias de pessoas que sofrem com câncer no sangue”, conta Bozz, que levou 29 dias para passar pelo Brasil, Paraguai, Argentina e Chile. 

Felipe Bozz, atendente dos Correios: “de bike, consigo aproveitar o momento presente, me concentrar no ar nos pulmões e nos perfumes da vegetação”. Foto: Arquivo pessoal.

“Na travessia do continente, fui em dupla com um amigo. Pedalamos do litoral do Paraná, a partir do trapiche do Rocio em Paranaguá até o Litoral de Antofagasta, no Chile. As bikes e os equipamentos chegaram a pesar mais de 40 kg. Tivemos nossa resiliência testada nos ventos do Atacama e nossa resistência e persistência comprovadas nos desafios da travessia de cordilheira dos Andes, a mais de 3400 metros de altitude”, relata o ciclista, que, além de ter pedalado 10 mil km pelo projeto, já acumulava mais de 30 mil km nas suas aventuras.  

Na última viagem, o paranaense desbravou mais de 1300 km em seu tour pela Bolívia, mas garante que a bicicleta, que faz parte da sua rotina, está incorporada na sua vida como uma filosofia. “A bike me estimula a superar limites, ter disciplina e paciência. Aprendo sobre mim, o mundo e as pessoas. Durante os treinos, percebo como é simples aproveitar o momento presente, se concentrar no ar nos pulmões, nos perfumes da vegetação, no calor do sol nascente, ou em uma brisa ao pôr do sol no litoral. As montanhas se agigantam e também percebo como as culturas, apesar de diferentes, são curiosas e receptivas”, relata Felipe. 

Dia Mundial da Bicicleta – A homenagem à bike acontece anualmente desde 2018, quando a Organização das Nações Unidas pediu aos países que incentivassem o uso e as vantagens do meio de transporte como uma forma de promover desenvolvimento sustentável e de reforçar a educação física para crianças e jovens.