Memórias unem universo musical do Chorinho aos Correios

Sandra Santos

Nesta quinta-feira (23), Dia Nacional do Choro, os Correios lançam selo comemorativo para celebrar os 150 anos do primeiro gênero musical típico do Brasil. Instituída no ano 2000, a data marca o aniversário de Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha. Mas a ligação entre os Correios e o popularmente conhecido Chorinho é muito mais estreita do que se imagina.

Nascido em 1897 e caçula de uma família de 14 irmãos, Pixinguinha levava o nome do pai, Alfredo da Rocha Viana, que era empregado dos Correios. Na grande casa onde a família morava, no Catumbi, bairro do Rio de Janeiro, alguns quartos eram alugados para músicos amadores, vários deles empregados dos Correios.

O local ficou conhecido como a “Pensão dos Viana” ou a “Pensão do Choro”. À noite, após o trabalho, o próprio Viana, que era flautista amador, comandava as rodas de Chorinho. Foi nesse ambiente que Pixinguinha cresceu e, ainda muito criança, começou a ganhar gosto pela música. Era comum que, depois do trabalho, todos se reunissem na sala para tocar, ouvir e, principalmente, criar canções. 

A habilidade incomum para a música foi constada logo na infância. Foi então que Viana, o pai, pediu a um amigo dos Correios, César Borges Leitão, que tocava bombardino, que ensinasse música ao menino. “Eu ficava apreciando porque gostava de música. Mas quando chegava oito da noite, nove horas, meu pai dava ordem: ‘Menino, vai dormir!’. Eu respondia: ‘Perfeitamente, vou dormir’. Mas não dormia nada, porque ficava ouvindo os chorinhos bons que ele tocava. Gostava muito daquilo”, contou Pixinguinha em depoimento ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro.  

Para além das entregas

Quando, em 1936, o carteiro Alexandre Gonçalves Pinto escreveu o livro “O Choro: reminiscências dos chorões antigos”, seu objetivo era deixar registradas as suas memórias, já cheio de saudades de um tempo que ele sabia que estava chegando ao fim – e não voltaria mais.  Escrito de forma simples e espontânea, o livro tornou-se um dos mais importantes registros históricos da música brasileira, sendo hoje uma referência para estudiosos, principalmente do Choro. 

Carteiro Alexandre Gonçalves

Músico amador e frequentador das rodas de Chorinho, nosso carteiro relata no livro o perfil dos músicos e como eram os encontros dos Chorões daquela época, desde 1870 até 1936, quando o livro foi lançado. Com uma tiragem inicial de 10 mil exemplares, a publicação registra histórias de 285 músicos relacionados ao Choro, com quem convivia. Entre eles, Heitor Villa Lobos, Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha e tantos outros. 

Outro carteiro que também teve destaque no universo do Choro, em meados de 1930, foi Joaquim José Fernandes. Após as entregas das correspondências em Niterói, Joaquim dava aulas de música a um dos melhores flautista do mundo que ali morava, Altamiro Carrilho. De forma gratuita, o carteiro ensinava o menino, na época com 11 anos, que já demonstrava um talento incomum para o instrumento.  Durante a sua vida, Altamiro gravou mais de 100 discos, compôs cerca de 200 canções e se apresentou em dezenas de países, divulgando o Choro brasileiro. 

Homenagem em selo

Para registrar toda essa importante história da música nacional para a posteridade, os Correios lançaram a “Emissão Postal Comemorativa 150 anos do Chorinho”. O bloco postal comemorativo tem a forma de dois instrumentos muito característicos: o bandolim e o pandeiro, além de ter em sua composição a lua em um céu estrelado atrás dos Arcos da Lapa, berço da boemia carioca e onde o Chorinho fez sua morada. Mais um importante exemplar filatélico para fazer parte da sua coleção!

As peças já estão disponíveis nas principais agências de todo o país e, também, na loja virtual dos Correios. Mais informações sobre o selo também no Blog da Filatelia.