60 anos de Brasília nos selos postais: a construção da memória da cidade – Parte II

Texto por Mayra Guapindaia

A história de Brasília está indubitavelmente associada a de seus monumentos. Na segunda parte desta exposição, colocaremos em destaque dois dos monumentos brasilienses mais focalizados em selos postais: A Catedral Nossa Senhora de Aparecida e o Congresso Nacional, ambas obras do Arquiteto Oscar Niemeyer. Mas, como não só de monumentos Brasília é constituída, daremos destaque também para a cena musical e para os ipês, elementos naturais que contornam os traços urbanos da cidade.

Catedral Nossa Senhora de Aparecida

Um dos maiores símbolos da cidade, e, consequentemente, um dos monumentos que mais foi retratado em selo postal. Foi o primeiro monumento a ser inaugurado em Brasília. É chamada Catedral Nossa Senhora de Aparecida, em homenagem à padroeira da cidade e do Brasil. Sua pedra fundamental foi colocada em 12 de setembro de 1958 e a inauguração foi feita em 1960, mas somente a área em forma de círculo de onde foram projetados as dezesseis colunas de concreto que dão a forma tão típica da catedral. A construção foi efetivamente terminada em 1970. Além do traçado característico de Niemeyer, outros elementos contribuem para formá-la enquanto obra de arte, tanto internamente quanto externamente. As esculturas na entrada da Igreja, representando os quatro apóstolos, são assinadas por Alfredo Ceschiatti. Os painéis internos do batistério são de Athos Bulcão. Os quadros que representam a Via Sacra são de Di Cavalcanti. A imagem do altar, de Nossa Senhora de Aparecida é uma réplica da que se encontra em Aparecida – SP.

Visita do Papa João Paulo II ao Brasil – 1980

Selo em homenagem à visita do Papa João Paulo II ao Brasil, Em 1980,composta de uma série de 5 selos, na qual ao fundo é possível ver as catedrais brasileiras das cidades por onde passou João Paulo II: Brasília, Rio de Janeiro, Fortaleza e Aparecida. O 5º selo traz ao fundo a Catedral de São Pedro.

Dia Nacional de Ação de Graças – 1984

O Dia Nacional de Ação de Graças possui uma história enquanto efeméride interessante no Brasil. A data foi oficialmente adotada como celebração oficial em 1949, a partir de lei sancionada pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, fruto de um projeto do deputado Pedro Vergara. O projeto atingiu a Câmara dos deputados a partir de um pedido civil do Movimento Noelista, composto sobretudo por mulheres. A data foi homenageada diversas vezes em selo postal e, em 1984, focaliza a imagem da Catedral de Brasília.

Copa do Mundo – 2014

Série de selos que trouxeram os cartazes oficiais das cidades-sede da Copa do mundo da FIFA. O símbolo escolhido para representar Brasília foi a catedral, comprovando a importância do simbolismo desta Igreja no imaginário artístico sobre a cidade.

Palácio do Congresso Nacional

As duas casas do Poder Legislativo, Câmara dos Deputados e Senado Federal, são abrigadas neste prédio, que conta com duas cúpulas (uma para cada casa) e duas torres de 28 andares. Tem sua localização da Praça dos Três Poderes, assim chamada por conter, além do Congresso, o Palácio do Planalto e o Palácio do Supremo Tribunal Federal. Como representante do centro do poder legislativo, o Palácio do Congresso foi focalizado inúmeras vezes em selo postal, quer como ponto turístico ou elemento de afirmação da representatividade político-democrática.

Tancredo Neves – 1985

Em um período de retorno da democracia e de inúmeras conquistas políticas, Tancredo Neves fez parte do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e apoiou as Diretas Já. As eleições de 1984, contudo, continuaram a ser indiretas, mas se abriu espaço para que Tancredo, da oposição, fosse eleito. Foi o primeiro civil a ser eleito após a ditadura militar, embora não empossado por ter vindo a falecer antes. Homenageado em selo postal na altura de sua morte, no calor de todos estes acontecimentos, sua imagem figura junto ao Congresso Nacional, em primeiro plano, acompanhado pelo Palácio da Alvorada e pelo Supremo Tribunal Federal.

Constituição de 1988

O Congresso foi focalizado em bloco em 1988, ano que marca a promulgação da nova Carta Constitucional. Foi neste local que se reuniu a Assembleia Nacional Constituinte, em 1987. Novamente, a imagem das casas legislativas é utilizada artisticamente como forma de ressaltar a conquista democrática do período.

Natal 1990 – Congresso Nacional

Este selo foi uma homenagem à iluminação de Brasília que, em estilo único, até hoje é responsável por contornar de maneira admirável as linhas da cidade monumental. Especialmente as luzes natalinas trazem à cidade um olhar diferente para seus admiradores. O selo também homenageava Brasília pelos seus 30 anos.

Homenagem a Ulysses Guimarães – 1993

A homenagem póstuma a Ulysses Guimarães é mais um caso da figura de um político participante do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e apoiador das Diretas Já que foi associado a do Congresso Nacional. É possível ver, ao fundo, pessoas reunidas, que, de acordo com o Edital do selo, são “as multidões que ele empolgou em sua luta incansável pela democracia”. Outra vez, as Casas são associadas ao exercício democrático.

Luta contra a discriminação racial – 2013

Os contornos do Congresso Nacional aparecem neste selo como símbolo da luta contra a discriminação racial e em homenagem às conquistas da população afro-descendente no Brasil. Assim, vemos a simbologia da democracia associada às conquistas de minorias durante tanto tempo excluídas na história do país.

Brasília Musical

Do Choro – Brasília tem sua cena musical formada antes mesmo do seu nascimento. Em 1956, quando o presidente Juscelino Kubitschek inaugurou o Catetinho, sua residência oficial durante a construção da cidade, convidou o violonista e chorão Dilermando Reis. Este músico compôs, em uma primeira homenagem à cidade, “Exaltação a Brasília”. Após a inauguração, muitos chorões, que também eram funcionários públicos, passaram a habitar a capital. Assim o Choro, que surgiu no Rio de Janeiro, com a mudança do centro político, também foi “transferido” para Brasília e lá ganhou contornos únicos. Em 1977 foi fundado o Clube do Choro.

Brasília tem sua cena musical formada antes mesmo do seu nascimento. Em 1956, quando o presidente Juscelino Kubitschek inaugurou o Catetinho, sua residência oficial durante a construção da cidade, convidou o violonista e chorão Dilermando Reis. Este músico compôs, em uma primeira homenagem à cidade, “Exaltação a Brasília”. Após a inauguração, muitos chorões, que também eram funcionários públicos, passaram a habitar a capital. Assim o Choro, que surgiu no Rio de Janeiro, com a mudança do centro político, também foi “transferido” para Brasília e lá ganhou contornos únicos. Em 1977 foi fundado o Clube do Choro.

…ao Rock dos anos 1980!

A história de Brasília está ligada à efevercência musical dos anos 1980, sobretudo na ascensão do rock no país neste momento. Esta trajetória musical também conecta-se ao momento de redemocratização do país, e muitas das músicas surgidas neste contexto trazem críticas políticas, como, por exemplo “Que País é Esse?” do Aborto elétrico, banda a qual participava Renato Russo. Posteriormente, com Legião Urbana, ele fez seus ouvintes conhecerem Brasília em outros aspectos. Fãs do país todo, pela primeira vez, entravam em contato com locais tipicamente brasilienses, como o Parque da Cidade, devido a música “Eduardo e Mônica”, que também detalha os hábitos de vida e as gírias locais. Em “Faroeste Caboclo”, puderam conhecer a Ceilândia e o entorno do Plano Piloto, também parte importante da cidade, normalmente pouco ressaltada em sua história oficial. Até A DF 002, uma das vias principais de Brasília, foi por ele homenageada em “Travessia ao Eixão”. O artista apresentou a vida brasiliense em suas especificidades. Este selo postal, lançado em 2019, foi mais um elemento que ajudou a compor a vasta memória de Renato Russo. A impressão registra o músico durante um show na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional, em Brasília, no ano de 1986.

A natureza surge no traçado urbano: Ipês

Apesar de estar distribuída em várias regiões brasileiras, esta árvore definitivamente transformou-se num dos símbolos de Brasília. Com seu colorido inconfundível, estão presentes na paisagem urbana em suas diversas cores, sendo que os primeiros a mostrar suas flores são os roxos, seguidos dos amarelos, dos brancos e, por fim, dos rosas. Existem mais de 200 mil exemplares no Distrito Federal, sendo 25 mil só no Plano Piloto (ANDRADE, 2019). Os ipês são símbolos da temporada de seca, muito bem conhecida pelos habitantes da cidade. Foram homenageados diversas vezes em selo postal, sendo que em 2003 se destacou o caráter medicinal do Ipê roxo.

Referências

ANDRADE, Juliana. Começa a temporada de ipês; os roxos são os primeiros a florescer. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2019/06/07/interna_cidadesdf,760873/temporada-de-ipes.shtml

CÂMARA dos Deputados. Palácio do Congresso. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/a-camara/visiteacamara/palacio-do-congresso-nacional

CATEDRAL Metropolitana Nossa Senhora de Aparecida. História. Disponível em: https://catedral.org.br/historia

CLUBE do Choro. A História do Clube do Choro em Brasília. Disponível em: http://www.clubedochoro.com.br/nossa-historia/

INSTITUTO Brasileiro de Florestas (IFB). Espécies de Ipê: conheça todos os tipos e cores. Disponível em: https://www.ibflorestas.org.br/conteudo/especies-de-ipe-conheca-todos-os-tipos-e-cores

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5 respostas para 60 anos de Brasília nos selos postais: a construção da memória da cidade – Parte II

  1. Pedro Tadeo Zorzetto disse:

    Perfeito !!!

  2. Jorge Angeloni disse:

    LIndos, caprichosamente.

  3. José Luis de Avila disse:

    Bom dia ,
    Parabéns a todos que estiveram empenhados nesta pesquisa e exposição.
    Excelente apresentação, muito bom conhecer nossa história contada por selos.
    sou Filatelista a 42 anos, e sempre fico emocionado quando encontro um bom trabalho, parabéns.

    José Luis de Avila

  4. Reinaldo Estevão de Macedo disse:

    Desestimula enviar comentários para a primeira parte do trabalho e nao merecer a atenção dos correios.

  5. Júlio César Rangel Trindade disse:

    Magnífico!

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