Bicentenário de Anita Garibaldi

Escrito por Christina Habli Brandão Dutra

Anita Garibaldi, a “Heroína dos Dois Mundos”. Brasil, sua terra natal, e Itália, terra de seu companheiro de vida, Giuseppe Garibaldi, país que reconhece o casal como heróis responsáveis pela unificação italiana. E tanto lá quanto cá, Anita é uma personagem histórica conhecida por suas batalhas e por sua personalidade que fizeram dela uma mulher de perseverança e coragem. Nascida em 30 de agosto de 1821, em Laguna – SC, hoje, em seu aniversário de bicentenário, ela ganha mais uma homenagem.

 

Esta emissão celebra os duzentos anos de nascimento de uma mulher que foi eternizada como uma heroína em dois continentes por seus feitos. Para o artista do selo, José Carlos Braga, foi um desafio representar a grandiosidade desta personagem e resumir suas aventuras em um espaço tão restrito, e assim se mostravam um atrativo à parte para tentar explorar o assunto.

Para Braga a temática histórica e sua relevância pediam uma técnica de impressão nobre, diferenciada por sua tradição e segurança. A impressão calcográfica ou intaglio permite a reprodução de pequenos detalhes e a sensação de relevo que é transmitida da chapa de impressão para o papel. Explorando as possibilidades técnicas do equipamento destinado a este tipo de impressão, optou-se por utilizar o entintamento localizado em três cores, que em conjunto com a tonalidade do papel representam o Brasil e a Itália. Técnicas digitais e modernos processos de gravação mantém viva este meio de reprodução secular.

Em seu processo criativo, José Carlos realizou diversos estudos e diferentes composições foram experimentadas, tentando abordar suas múltiplas facetas: a mãe, a guerreira e a mulher.

No selo e na vinheta que compõe a estampa são representadas algumas célebres passagens, como quando fugiu com o filho recém-nascido para salvarem-se do cerco das tropas inimigas e de quando em seu batismo de fogo remou em um bote, em plena batalha sob fogo inimigo, para buscar munição para abastecer seus companheiros.

A Rosa de Anita, representada no selo, na vinheta e também nos carimbos de primeiro dia de circulação, é o símbolo das comemorações de seu bicentenário. Trata-se de uma flor híbrida criada pelo botânico italiano Giulio Pantoli, que se inspirou na figura de Anita Garibaldi para desenvolver a rosa.

Os brotos foram trazidos no final de 2018 para o Brasil e adaptados à realidade climática do país. As primeiras mudas da Rosa de Anita foram plantadas nos municípios de Laguna, Imbituba, Tubarão, Anita Garibaldi, Lages, Curitibanos e Garopaba.

A vida de Anita é marcada por sua coragem e determinação. Fábio Andreas Richter, historiador da Fundação Catarinense de Cultura relata no edital desta emissão um desses momentos:

“O casal seguiu com as forças farroupilhas para o Rio Grande do Sul, onde Anita deu à luz, em 16 de setembro de 1840, a seu primeiro filho, Menotti, na localidade de Mostardas. A região foi atacada por forças imperiais e Anita, mesmo convalescendo do parto, conseguiu fugir a cavalo dos atacantes, com seu filho recém-nascido nos braços. A família seguiria para São Gabriel, sede dos farroupilhas, onde Giuseppe solicitou sua saída das forças combatentes, mudando-se a seguir com Anita e seu filho para Montevidéu.”

No Uruguai, único país da época que aceitava o divórcio e que havia reconhecido a República Rio-Grandense, Anita e Giuseppe oficializaram seu casamento em 26 de março de 1842. Ele acabaria se envolvendo nas lutas dos uruguaios contra as forças do ditador argentino Juan Manoel Rosas, tendo criado naquele momento a Legião Italiana, composta por exilados políticos, a qual também o acompanharia no retorno à Itália e nas lutas para unificação daquele país. No Uruguai nasceram mais três filhos do casal, Rosita, Teresita e Riccioti, sendo que Rosita acabou falecendo de difteria em 1845.

Anita e Garibaldi se conheceram quando ela tinha 16 anos e no trecho abaixo a professora de história Juliana Bezerra menciona em seu artigo sobre a biografia de Anita a palavras de Garibaldi ao recorda-se do primeiro encontro:

“Um homem que tinha conhecido convidou-me a tomar café em sua casa. Entramos e a primeira pessoa que me apareceu era Anita. A mãe dos meus filhos! A companheira da minha vida, nos bons e nos maus momentos! A mulher cuja coragem tantas vezes ambiciono! Ficamos ambos estáticos e silenciosos, olhando-se reciprocamente, como duas pessoas que não se vissem pela primeira vez e que buscam na aproximação alguma coisa como uma reminiscência. A saudei finalmente e lhe disse: ‘Tu deves ser minha!”.

Personalidade de Anita

Em Laguna, sua cidade natal, há uma casa típica colonial luso brasileira construída por volta de 1711 – o Museu Casa de Anita onde estão expostos painéis com história de Anita: seu nascimento, casamento, batalhas, amor por Giuseppe Garibaldi e sobre a sua família. Um dos painéis do museu detalha aspectos de sua personalidade, confira na íntegra a seguir:

“Conhecida por sua personalidade forte, construída por uma infância livre e sadia, Anita despertou paixão pelos animais desde cedo, se revelando uma talentosa amazonas. Antes mesmo de se casa, Anita sofreu forte influência das ideias libertárias pregadas por seu tio Antônio Ribeiro da Silva, simpatizando dos ideais republicanos sustentados pelos Farroupilhas.

Durante o curto tempo de seu casamento, Anita conflitou seus ideais republicanos com os de seu marido, Manuel Duarte, defensor do regime monarquista, que veio a se alistar no exército imperial, abandonando-a. Enquanto Anita pregava pela república, seu marido defendia a monarquia, em suas cartas, hoje arquivadas no Museu do Rissorgimernto Italiano, em Roma, é possível perceber a influência dos ideais e sua vocação republicana. Em novembro de 1835, escreveu a seu Tio Antônio:

“…desde pequena aprendi os seus princípios de liberdade e justiça…”

Dois anos antes de Garibaldi e os farroupilhas a conquistarem, Laguna fabricava e enviava pólvora clandestina para os farroupilhas. A cidade estava em ebulição e Anita viveu intensamente este momento de conspiração contra o Império.

Em suas memórias Giuseppe Garibaldi descreveu a forte personalidade de Anita:

“…dentro de seu peito batia um coração de herói.”

Prossegue quando narra a Batalha de Curitibanos:

“…Quando se viu cercada pelos imperiais, em lugar de fugir, animou nossos soldados a lutarem e a defenderem-se e então enterrou as esporas no ventre do cavalo e dum salto passou pelo inimigo, tendo recebido uma única bala que lhe atravessou o chapéu e levou parte dos cabelos sem lhe atingir o crânio…”

Mesmo seus inimigos a admiravam e a respeitavam, como registrou em suas memórias o Coronel Albuquerque, do Exército Imperial:

“…Conquistou minha admiração e a dos meus comandados pois nunca imaginávamos ver uma mulher tão valorosa…enchia-nos de orgulho o fato de ser ela uma catarinense, uma compatriota que dava ao mundo provas de grande valor e intrepidez…”

Para este mulher de tantas qualidades, admirada por seus inimigos e amada por seu companheiro e seus parceiros de batalhas esta é a nossa homenagem em seus aniversario de 200 anos. Parabéns Anita por tudo que você representa!

Bibliografia:

“Tour Virtual 360º Museu Casa de Anita”. Disponível em <http://www.ronaldoamboni.com.br/360/casadeanita.html> Acesso em: (04/08/2021)

Governo de Santa Catarina. “Símbolo dos 200 anos de nascimento de Anita Garibaldi, rosa floresce no Jardim do Museu Histórico de SC: Disponível em <https://www.sc.gov.br/noticias/temas/cultura/simbolo-dos-200-anos-de-nascimento-de-anita-garibaldi-rosa-floresce-no-jardim-do-museu-historico-de-sc>  Acesso em: (24/08/2021)

CIB/SC – Círculo Ítalo Brasileiro de Santa Catarina. “Bicentenário de Anita Garibaldi” Disponível em <https://www.circuloitalobrasileiro.com/post/bicentenário-de-anita-garibaldi> Acesso em: (24/08/2021)

Fundação Lagunense de Cultura. Museu Casa de Anita: Disponível em <https://www.laguna.sc.gov.br/cms/pagina/ver/codMapaItem/135769> Acesso em: (04/08/2021)

BEZERRA, Juliana. Biografia de Anita Garibaldi. Disponível em <https://www.todamateria.com.br/anita-garibaldi/> . Acesso em: (26/08/2021)

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Uma resposta para Bicentenário de Anita Garibaldi

  1. JULIO CESAR FABRO disse:

    Parabéns pela montagem e combinação de cores/textura do selo. Sem mostrar as armas seria mais adequado ou, nesse caso, seria melhor uma lança farroupilha. Existiu um regimento farroupilha épico os “Lanceiros Negros”, esquecido nos meandros da história, que notabilizou-se na luta do ideário secessionista.

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