DISTANCIAMENTO SOCIAL?
Rede de cartões-postais conecta pessoas em todo o mundo

Em tempos de isolamento social, encontrar meios tangíveis de se conectar com pessoas nunca foi tão necessário. Imagina abrir a sua caixa de correio e se surpreender com uma mensagem carinhosa escrita à mão, por alguém do outro lado do mundo, especialmente para você? Essa é a proposta do Postcrossing, um tipo de rede social criada para interligar pessoas através de cartões-postais, que neste 14 de julho completa 15 anos. Para celebrar a data, os Correios lançaram um selo especial em homenagem ao projeto.

Por meio da plataforma digital, desenvolvida pelo português Paulo Magalhães em 2005, mais de 57 milhões de cartões-postais foram recebidos por quase 800 mil pessoas em 206 países. Um verdadeiro intercâmbio cultural, entre letras cursivas e monumentos históricos escolhidos a dedos, de onde também nascem laços de amizades e trocas de afeto.  

O criador do Postcrossing acredita que as ferramentas digitais não substituem e não possuem o mesmo significado de receber mensagens por cartões-postais. “Quase ninguém imprime um e-mail ou uma mensagem de Whatsapp — mas um postal ganha lugar na porta da geladeira lá de casa ou na parede do nosso quarto — ou até no nosso local de trabalho”, ressalta.

A cada postal enviado, recebe-se um de volta. Mas o que o torna o processo mais interessante é que não é escolhido para onde será enviado, nem de onde se recebe — é a plataforma que decide aleatoriamente.

O paulista Carlos Ramalho de Guaraci é um dos mais de 9 mil membros brasileiros inscritos na plataforma. Entre os postais que recebeu destaca um cartão da Finlândia com 30×20 cm. “Era um postal em formato de cogumelos, que nem coube na minha caixa postal”, relembra. Segundo ele, mesmo não sendo o intuito principal do projeto, já fez muitas amizades pelo Postcrossing. “Esse ano recebi a vista de uma portuguesa que vive na Alemanha. Eu iria retribuir a visita no início do próximo ano, mas adiei devido à pandemia”, conta Carlos.

O surto de coronavírus provocou mudanças também para o Postcrossing.  Embora muitos países, como o Brasil, considerem os serviços postais como essenciais, houve restrições em alguns correios. Se por um lado a troca de postais foi afetada pela suspensão de voos de passageiros, a procura pelo hobbie aumentou durante a pandemia.

“Muitas pessoas estão aproveitando o isolamento social para preparar os seus cartões-postais. Escrever para familiares e amigos, perto ou longe, é uma ótima forma de surpreender alguém com um ‘olá’ que não esperavam”, afirma o criador do Postcrossing, Paulo Magalhães.

Para o chinês Jingyuan Shi, o cumprimento inesperado chegou por e-mail. Após enviar postais ao Postcrossing, recebeu o agradecimento da equipe do projeto, que também se preocupou em perguntar como ele estava. A gentileza não passou despercebida ao jovem de 18 anos, que também organiza encontros de postcrossers na sua cidade. “Promovemos a paisagem e a cultura de Zhengzhou, capital e maior cidade da província de Henan, ao trocamos cartões-postais com nossos amigos. No ano passado, também participamos das atividades organizadas pela União Postal Universal (UPU) para comemorar o 150º aniversário da criação do cartão-postal”, orgulha-se. 

O jovem chinês Jingyuan Shi (ao centro) organiza encontros de postcrossers para promover sua cidade. Foto: Arquivo pessoal

Para os próximos 15 anos

O criador do Postcrossing revela como o projeto se transformou em uma aventura ao longo dos anos. “Uma pequena ideia revelou-se muito mais popular do que eu poderia esperar. Ainda hoje é, por vezes, difícil acreditar onde chegamos e na enorme comunidade que foi criada em volta do Postcrossing. Celebramos todos os marcos que atingimos, cada milhão de postais recebidos, porque são a prova de que ainda há muito interesse por esta forma de comunicação”, destaca Paulo.

Para o futuro, o português planeja expandir o projeto na área educacional. “Ao ter contato com postais, crianças podem conhecer o que as torna diferentes e especiais. Para os professores, também pode ser uma ótima ferramenta de ensino. É muito mais motivante receber um postal de um país longínquo e aprender sobre ele, do que ler apenas um texto num livro”, argumenta.