O dia que instalamos uma caixa de coleta de correspondências em uma escola pública de São Paulo
Gercilio de Assis
Em busca de resgatar uma forma de escrita afetuosa, única e antiga na sociedade, um grupo de professoras da Escola Municipal Cidade de Osaka, na zona leste de São Paulo (SP), criou um projeto de troca de cartas. Além de exercitarem a escrita e a leitura, os alunos do 5º ano, com idades entre dez e onze anos, discorrem sobre assuntos da atualidade, sugerem pautas para revistas e jornais, expressam sentimentos e se aproximam de amigos e familiares.
“Todos os alunos da classe participam, mesmo os que ainda não dominam por completo a leitura e escrita. Fazemos revisões coletivas dos textos, apontando os erros e, juntos, vamos fazendo os acertos. Isso tem colaborado bastante para o avanço deles na escrita”, explica a professora Ivani Cordeiro, uma das idealizadoras da ação.
A adesão ao projeto foi tão grande que, incentivados pelas professoras, os alunos escreveram uma carta para o Ministério das Comunicações com um pedido peculiar: a instalação de uma caixa de coleta de correspondências dentro da escola. ” As cartas são um misto de literatura e coloquialismo, que além de nos permitir expressar sentimentos nos traz a expectativa de como será recebida , o anseio pela resposta”, diz Ivani.
Em um trecho da carta, os estudantes destacaram o apreço deles pela nova atividade. Henrique, Lara, Lucas, Rhiana e Ryquelme escreveram: “Caro Ministro, (…) nós estamos achando muito legal este projeto, pois usamos os nossos sentimentos e não mensagens já escritas [por outros]. (…) Gostaríamos que Vossa Excelência enviasse para a nossa escola uma caixinha de correio para que outros estudantes possam colocar as suas correspondências”.
O pedido das crianças foi atendido pelos Correios. Nesta terça-feira (17), no Mês das Crianças e dos Professores, fizemos a inauguração oficial da caixa de coleta, instalada na entrada principal da escola. Para marcar ainda mais a nossa visita, além das presenças do carteiro Renato Silva Holanda e do nosso mascote Carteirito, montamos um guichê de atendimento para as crianças vivenciarem o processo postal, desta vez com a postagem de cartões-postais.
Outro momento especial foi a entrega da carta redigida pelo presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos. Na mensagem, o dirigente parabeniza a escola e incentiva os estudantes a continuarem escrevendo. “Vocês estão mostrando como a escrita de correspondências é divertida e importante. Sabe por que amamos cartas? Porque no mundo atual de mensagens rápidas, elas têm um jeitinho especial de nos conectar. Sigam escrevendo com o coração”, diz trecho da mensagem.
“Gostei muito da visita dos Correios à nossa escola. Foi bom entender melhor o caminho que as cartas fazem e realizar as atividades todos juntos. Também foi uma surpresa receber a carta do presidente dos Correios. Fiquei muito feliz com a mensagem!”, relatou o aluno Gustavo Derasmo Miranda, de 11 anos.
Cartas de afeto
Um exemplo de como o projeto tem impactado a vida das crianças foi o caso de um aluno que escreveu para o pai, que estava preso. Ao receber a carta na penitenciária, o pai ficou muito feliz e respondeu a correspondência do filho. “A criança levou a carta para eu ler. Foi uma experiência emocionante. Ao sair do presídio, o pai visitou a escola para me conhecer e expressar sua gratidão”, relembra, com orgulho, a professora Ivani.
A iniciativa da Escola Municipal Cidade de Osaka é um exemplo inspirador de como o ato de redigir cartas pode unir comunidades e disseminar o poder da escrita afetiva.