Escrito por: Christina Habli Brandão Dutra
Quarto lançamento do ano, a Emissão Especial Série Profissões: Gari é o primeiro de uma sequência de 5 selos previstos até 2025. Presente entre os oito motivos eleitos na 118ª CFN, esta emissão faz parte do Programa de Selos Postais 2021 e vem para destacar a importância daqueles que são responsáveis pela limpeza das vias públicas.
Vários estudos apontam sobre a invisibilidade de algumas profissões, e o gari faz parte desse hall. Muito disso está ligado com a nossa história e este selo vem para homenagear estes profissionais que mostram diariamente o seu valor, que ganhou destaque de serviço essencial em tempos de pandemia por manter a saúde de todos nós.
Mesmo com uma bagagem histórica que nos marca, sempre é tempo de fazer melhor, rever pontos de vistas e padrões. Em 2012, Renato Sorriso, já conhecido e reconhecido em solo Tupiniquim pelo seu carisma na Marquês de Sapucaí, participou da cerimônia de encerramento dos Jogos de Londres lado a lado de grandes personalidades, como Pelé, que representam a brasilidade do nosso povo. Já em 2020, Tales Alves ficou conhecido nas ruas de Belo Horizonte como o Gari Galã, que já foi caixa de supermercado e escolheu ser gari.
Isso tudo mostra que o nosso olhar, e claro, as nossas atitudes são capazes de trazer o novo, e enxergar e valorizar todas as profissões. E mais do que isso, os rótulos não cabem mais. O que vale são os exemplos, as práticas e a honestidade de cada profissional.
O reconhecimento desta categoria por meio do selo postal é, além de uma justa homenagem, a oportunidade de passar uma mensagem imagética destes trabalhadores, por vezes invisíveis, como cidadãos de grande relevância.
O artista do selo é Bernardo França (1982), brasiliense que vive e trabalha em São Paulo desde 2009, ilustrador requisitado do mercado editorial, diretor de arte, cenarista para animação além de scriber.
Co-autor do livro infantil “São Paulo é Legal! Patrimônio”, autor de “Mulher-de-sexta”, Bernardo tem seus traços ilustrando livros de grandes editoras e dos maiores veículos de comunicação do Brasil. Além disso é diretor de arte do desenho animado nacional “Oswaldo”, cenarista de animação do longa-metragem “Historietas – O Filme” e da série infantil animada “Historietas Assombradas”, diretor de arte (cenários e designer de personagens) do programa “Vai que Cola” (2016). No exterior já ilustrou em diversas oportunidades para a revista Euroman da Dinamarca.
O ilustrador foi convidado, junto com outros três artistas, para participar da seleção para criação da arte do selo do Gari. Seu trabalho foi a escolhido pela comissão avaliadora desta emissão postal, que usou critérios como criatividade, apelo comercial, qualidade plástica, dentre outros.
Colecionador de disco de vinil e plantas, Bernardo conta um pouco de sua experiência como artista dessa emissão na entrevista a seguir:
Bernardo: Quando li que o homenageado do selo seria o Gari, fiquei muito feliz de participar. E pela admiração que carrego pela profissão sabia que entregaria algo que me orgulhasse de ter feito.
Filatelia: Como foi seu processo criativo para ilustração do selo Gari?
Bernardo: Recebido o convite para participar do concurso, eu começo desenhando ideias na cabeça até o momento que quero vê-las no papel. São rabiscos que apesar de seu estágio inicial já carregam boa carga da mensagem final. Escolhido o design que julguei melhor atender ao objetivo eu levo para o computador e começo do zero a finalização da obra. Nessa etapa entra outro elemento de grande importância, a seleção das cores. No início eu cheguei a desenhar alguns sketches de gari que usa o carrinho de mão, pá e vassoura e outros apenas com os garis de caminhão, da limpeza mais pesada. Mas seria injusto retratar apenas um ou outro. Logo entendi que unir os dois no selo seria melhor e mais justa opção.
Filatelia: Falando sobre o Gari, pra você qual a importância social dessa profissão?
Bernardo: Suma importância. Tenho grande admiração, especialmente pela equipe de profissionais que trabalha nos caminhões. Morando em uma cidade gigantesca como São Paulo, eu fico pensando o caos que seria sem nossos profissionais da limpeza urbana.
Filatelia: Como foi o desafio de fazer uma ilustração em um espaço tão restrito como o selo? Como foi essa experiência?
Bernardo: No dia a dia da profissão eu me deparo com serviços de ilustração nas mais variadas dimensões. Pode ter 4 metros ou 4 cm como o selo. Acho que já estou acostumado a essas adversidades, mas num trabalho como esse do selo é sempre importante privilegiar a leitura da imagem focando na simplicidade justamente por causa do tamanho da imagem final.
Filatelia: Os selos ou a filatelia fazem parte de algum momento da sua história?
Bernardo: Sou um apreciador distante. Gosto muito de bandeiras, heráldica, logomarcas, mas meu conhecimento do mundo dos selos é bem curto.
Filatelia: Se esta é a sua estreia na filatelia, o que isso representa pra você?
Bernardo: Trabalhando como ilustrador, idas aos Correios para envio de contratos eram bem comuns. Apesar do breve período entre ser chamado ao guichê até a aplicação dos selos no envelope pelo profissional dos Correios eu sempre olhava curioso quais selos eram colados. Teve um selo que era bem recorrente (também da série sobre Profissões), era o selo da Costureira. Eu lembro de imaginar como seria legal, eu sendo ilustrador e usuário dos Correios, ver um selo com um desenho meu. Comemoro como uma realização pessoal.
Filatelia: Observando alguns de seus trabalhos a vivacidade nas cores é muito presente trazendo muito da brasilidade e do popular para sua arte. Este é o seu estilo, uma espécie de marca registrada?
Bernardo: Como artista gráfico eu tento ao máximo me manter em constante movimento e seguir novos caminhos, mas claro que alguns elementos e diretrizes se fazem presentes ao longo da minha trajetória. Confesso que essa qualidade da brasilidade/popular é um tanto recente porém consciente. Afinal de que vale criar imagens que não representam nosso tempo e nosso povo?
Se interessou? Conheça mais do trabalho de Bernardo França em seu perfil do Instagram (@delaburns).
Vale lembrar que na filatelia, o gari foi destaque entre os profissionais que estão na linha de frente e são essenciais, no Bloco de Selos Especiais Combate à COVID-19, lançado em junho de 2020.
O edital da emissão especial Profissão Gari já está disponível aqui no Blog da Filatelia e os selos estão a venda na loja virtual.