FILATELIA
O artista por trás do selo

Adriana Shibata é uma das criadoras da emissão especial Obras de William Shakespeare, eleita a segunda mais bonita do mundo em 2017. Foto: Arquivo pessoal

Kátia Salina

Imortalizada. É assim que uma ilustração se torna ao virar selo. Viajando pelo mundo afora, a obra conecta pessoas, pensamentos, mensagens e sonhos. Mas como será que se sente o artista que cria essas imagens?

“Para mim é motivo de orgulho, felicidade, crescimento. Apesar das novas tecnologias e da comunicação digital, o selo ainda representa e promove o Brasil”, revela a designer Adriana Shibata.

A artista é, junto com a colega Bárbara Duarte, criadora da emissão especial Obras de William Shakespeare, lançada em 2017 e eleita a segunda mais bonita do mundo naquele ano pelo júri da Exposição Filatélica Internacional de Viena – WIPA Grand Prix, formado por artistas plásticos, jornalistas filatélicos e representantes da administração postal austríaca que, anualmente, elegem os mais belos selos de todos os correios do mundo.

De acordo com Adriana, elas queriam que o público jovem se identificasse com a arte, uma vez que Shakespeare, mesmo tendo escrito suas obras há séculos, continua atual. Assim, foi nascendo o bloco com selos individualizados que retratavam as obras do escritor. “Cada selo enfileirado representa a lombada de um livro, e, como numa estante de biblioteca, cada livro possui uma capa, que foi tratada de maneira única e finalizada com técnicas diferentes”, explica.

Selo“Obras de William Shakespeare”: o segundo mais belo do mundo
Foto: Divulgação/Correios

Jamile Sallum, que trabalha na gerência de Filatelia dos Correios, conta que antes da concepção de qualquer selo, a equipe recebe as orientações que norteiam sua criação. Cada emissão filatélica deve atender a certos critérios, como estilo (ilustração, aquarela, fotografia) e uso de alguns elementos obrigatórios determinados pelo seu idealizador.

Com o selo de Luxemburgo, por exemplo, lançado no ano passado, feito por Jamile em parceria com o designer Daniel Effi, também dos Correios, o processo começou com reuniões com o embaixador daquele país e sua equipe. “Eles demonstraram interesse em abordar determinados tópicos, e então passamos alguns dias pesquisando sobre o país, os pontos em comum com o Brasil, a imigração, e surgiu a ideia de trabalhar com construções dos dois países. Desenhei algumas em um estilo mais geométrico, e o Daniel aprimorou ainda mais a ideia e montou a arte da forma como ficou. Nesse meio tempo, apresentamos a proposta para o embaixador, que solicitou um ou outro ajuste até sua finalização”, relata.

Jamile Sallum: “Ter minha arte estampada em selo é uma honra”.
Foto: Arquivo pessoal

Para ser reconhecido internacionalmente, todo selo emitido precisa ter o seu edital, uma espécie de “Certidão de Nascimento” em que são detalhadas todas as características da emissão. Ao contrário da obra, foco da atenção dos colecionadores, para o artista, o anonimato é inerente ao trabalho e, de certa forma, natural. Mas ter a criação reconhecida e eternizada em uma peça filatélica tem sempre um sabor especial. Para Jamile, saber que seu nome está em editais e catálogos de selos que rodam o país e o mundo e ficarão para toda a vida é “indescritível”, segundo ela mesma, que conta ter vários amigos que compraram selos e ficaram fascinados ao ver seu nome em muitos deles. “Em alguns lançamentos de selos de minha autoria, já aconteceu até de filatelistas pedirem que eu assinasse suas peças filatélicas para agregar valor a elas”, confessa.

O primeiro selo a gente nunca esquece

Miriam Guimarães exibe com orgulho o
primeiro selo desenhado por ela.
Foto: Arquivo pessoal

Antes mesmo de terminar a faculdade de Desenho Industrial na Universidade de Brasília, Miriam Guimarães já tinha seu nome gravado em uma peça filatélica. O primeiro selo da designer foi Viola de Cocho, em 2006. Ela conta que recebeu as orientações básicas e foi pesquisar sobre o instrumento, que ela não conhecia. Descobriu, então, a forte relação dele com as danças típicas do Mato Grosso, como o Cururu e o Siriri, e resolveu dar um foco mais cultural para o desenho, mostrando como a viola é usada. “Representei homens, mulheres e crianças tocando e dançando, sem deixar de dar um destaque para o instrumento, bem grande no meio. Fiz uma coisa também, que depois o pessoal achou bastante inovador, que foi colocar as legendas do ano e o nome do tema integrados ao desenho, como se fosse a música passando”, conta orgulhosa.

O que acha de ser você o artista?

Para fazer parte do banco de artistas da Filatelia dos Correios, você pode enviar seu portfólio para o e-mail artesdegec@gmail.com, com trabalhos gráfico-artísticos, de autoria própria, publicados em meios de comunicação conhecidos – como jornais, revistas, portais e websites de renome. “O material pode conter fotografias, arte digital, arte tradicional fotografada, enfim, temos em nosso banco uma diversidade de artistas que vão de designers a grafiteiros”, explica Luciana Ramos, gerente de Filatelia dos Correios.

O artista pode ser chamado a participar do projeto de um selo de acordo com seu perfil de trabalho. A convocação se dá de duas maneiras: por concorrência, quando é oferecido um prêmio em dinheiro para a arte a ser elaborada; ou por parceria, quando não há prêmio em dinheiro. Em ambos os casos, os artistas cedem os direitos patrimoniais aos Correios.