Exposição virtual de selos postais 300 anos de Minas Gerais

Esse sábado (07), entra no ar a Exposição Virtual 300 anos de Minas Gerais: os selos postais e a(s) história(s) de um território, no site do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.

A exposição foi feita em parceria entre o IHGMG e os Correios e tem o objetivo de levar ao público a história dos selos postais sobe este estado, que existem desde os anos 1930 e chegam até os dias atuais.

Confira abaixo o vídeo de convite para a exposição, que também estará no Youtube do IHGMG.

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A construção dos 125 Anos das Relações Diplomáticas Brasil-Japão pelos selos postais brasileiros

Texto por Mayra Guapindaia

As relações diplomáticas entre Brasil e Japão, de grande importância para ambos os países no momento presente, remonta do fim do século XIX. Em 1895, é assinado o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação, o que possibilitou a imigração nipônica para São Paulo alguns anos depois. Nesse período, tanto o Japão quanto o Brasil eram países bastante diferentes do que são hoje em dia. O primeiro havia acabado de sair da era Edo (1603-1868) e estava passando pela restauração Meiji. Isso marcou a volta do Imperador ao poder e reabertura para o exterior, vista como uma forma de solucionar o declínio rural que diversas regiões então sofriam. Já o Brasil configurava-se enquanto país prioritariamente agroexportador, sendo o café seu produto mais importante. Havia, também, acabado de sair de um sistema monárquico e escravista, e apostava na mão-de-obra estrangeira para, após a abolição, suprir os braços necessários para o trabalho agrícola.

Em 28 de abril de 1908, parte de Kobe, o navio Kasato, primeira embarcação levando imigrantes japoneses rumo ao Brasil. A viagem, que durou dois meses, foi extremamente cansativa, marcada por doenças e faltas de suprimento para os viajantes. Em 18 de junho, desembarcaram no Porto de Santos 781 pessoas, a maioria oriunda das províncias de Okinawa, Kagoshima e Fukushima. Iam rumo às fazendas de café paulistas, marcando o início da integração econômica, social e histórica entre japoneses e brasileiros.

Se, inicialmente, os primeiros imigrantes vieram com destino ao trabalho agrícola nas fazendas de café, a commodit de maior valor de exportação mundial para o Brasil no início do século XX, atualmente, há cooperação em outras áreas. No acordo bilateral entre os países, firmado em 2014, vem sendo desenvolvidos pactos  mútuos de investimento em ciência, tecnologia e inovação. Nesse sentido, se destacam projetos conjuntos com terceiros países, como o sistema nipo-brasileiro de TV digital para a América do sul, central, África e Ásia.

Atualmente, a população da comunidade japonesa no Brasil é a terceira maior do exterior, com cerca de 200 mil pessoas. Já os “Nikkei”, descendentes de japoneses, são a maior população de origem nipônica fora do Japão: chegam a 2 milhões.

Os laços de amizade, de relações comerciais e diplomáticas com o Japão são extremamente importantes para o Brasil. Em 2018, o país asiático figurou como a terceira maior economia do mundo e foi o sexto maior investidor direto em nosso país.

Hoje, 3 de novembro, é lançado o selo personalizado comemorativo aos 125 anos de amizade Brasil-Japão, tendo como marco inicial a assinatura do tratado de 1895. Vemos, portanto, a reconstrução de um momento histórico em selo postal, ou seja, a visão do presente sobre a conexão das duas nações, atualmente bastante diferente do que foi no século XIX.

Ao longo do tempo, as relações entre os dois países foram marcadas simbolicamente pelo lançamento de selos postais comemorativos, especiais e personalizados, que buscaram comemorar a imigração nipônica e a integração das duas culturas. Conhecer estes selos é compreender como foram interpretadas, por meio da arte filatélica, o vínculo nipo-brasileiro ao longo da história e qual sua importância na visão oficial de ambos os países.

O primeiro selo foi lançado em 1957, marcando os 50 anos da imigração japonesa. O destaque da arte são os produtos agrícolas, vistos como elementos essenciais para os brasileiros e colonos japoneses naquele momento. Vale ressaltar que os anos 1950 registram a volta das relações diplomáticas entre Brasil e Japão, rompidas durante a Segunda Guerra. O fim deste evento bélico foi marcado pela existência, no Brasil, de japoneses que não acreditaram na rendição japonesa, havendo conflitos entre esse grupo e as autoridades brasileiras, especialmente em São Paulo. Em 1953, finalmente, a imigração nipônica foi retomada.

Selo de 50 anos da imigração japonesa, 1957

Em 1967, o príncipe herdeiro, Akihito (atualmente Imperador) e sua esposa, visitaram a capital Brasília. Foi um evento de grande importância, haja visto ser a primeira visita oficial de representantes japoneses em solo nacional. Por isso, foi marcada com selo postal.

Visita dos Príncipes Herdeiros do Japão ao Brasil – 1967
Veja o vídeo do desembarque dos príncipes herdeiros em Brasília, Acervo do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro

Ainda nos anos 1960, a integração entre ambos os países se solidificou com a inauguração do primeiro voo da Varig para solo japonês. 26 de junho de 1968, o avião partiu do Rio de Janeiro. Transportou 55 passageiros, integrantes da colônia japonesa no Brasil.

selo do voo inaugural Brasil-Japão, 1968

Este selo marca os 80 anos da imigração japonesa. O edital, assinado pelo Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, indica que na data existiam por volta de 80.000 pessoas que faziam parte da comunidade Nipo-brasileira. Na arte, é representada uma família japonesa, e, ao fundo é possível ver o navio Kasato Maru, o primeiro a desembarcar no Brasil com imigrantes do Japão.

Selo em homenagem aos 80 anos da imigração japonesa, 1988

Este selo marca o 5 de novembro de 1895, data da assinatura do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação, ato inaugural da relação diplomática entre os dois países. Em 1995, A data foi comemorada, tendo sido criada uma Comissão Organizadora Nacional das Comemorações do Centenário, que assinou o edital do selo.

selo em homenagem aos 100 anos da imigração japonesa

Este bloco de 2008 marca o centenário da primeira imigração japonesa. Em um dos selos, é possível vislumbrar o navio Kasato Maru. Nessa época, a população nipo-brasileira já chegava há 1.5 milhões.

Bloco de dois selos lançado do Centenário da Imigração Japonesa

E, por fim, destacamos o selo personalizado de 2018, dos 110 anos da imigração japonesa, lançado no Paraná. Este estado é um dos que possui maior concentração de nipodescendentes, que passaram a habitar a região nos anos 1930. Estão concentrados sobretudo na cidade de Assaí. Atualmente, lá se comemoram festivais tradicionais que também se celebram anualmente no Japão, como o Tanabata e Bon Odori.

Selo personalizado dos 110 anos da imigração japonesa, lançado no Paraná em 2018

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NATAL 2020 – PALAVRAS DE AFETO

Texto: Christina Habli Brandão Dutra

2020 um ano de reinvenção, reconstrução, novos olhares, novas formas de se relacionar, de se conectar. Um novo mundo a chegar? Um mundo em reconstrução. E nessa reinvenção, buscamos também dar valor ao que é essencial, ao que toca o coração, laços de vida que fazem toda a diferença nesse cenário tão incerto, desafiador.

O equilíbrio está no que conforta o coração e essa emissão de Natal traz poesia em selos, palavras de afeto que voam longe e chegam pertinho de quem se gosta. Palavras que dizem o que tantos já querem demostrar há tempos.

São 10 palavras, 10 selos, 10 demonstrações de afeto que passam a sensação e o visual de um trabalho feito à mão em diferentes texturas, silhuetas, formas e significados para deixar mais perto quem está longe.

No edital, a certidão de nascimento do selo, a poetisa Helena Lucena criou o dicionário afetivo dessa emissão e descreve a seguir um pouco da sua inspiração com as palavras.

“Bom mesmo é abrir o dicionário, vestir as palavras com afeto e dançar de olhos fechados pela sala… Brinco tanto com as palavras que já tenho um guarda-roupa abarrotado delas. Meu nome é Helena Lucena. Sou formada em Letras-Português, pela Universidade de Brasília. Sou também formada pelo que as letras formam. Peguei um apelido de infância e o emancipei. Fiz uma página no Instagram, o @poesiadabe. E, quando vi, meu guarda-roupa já estava em outros quartos também.”

Lucas Elias, designer brasiliense de 31 anos, buscou na sensibilidade do olhar expressar as palavras de afeto e assim mostrar o que é humano, indo além da perfeição do que é digital e trazendo os detalhes e a empatia do que é feito à mão, com letras feitas com pincel e tinta de nanquim. Conheça a seguir como foi o processo criativo do artista e as definições que os nortearam.

Abraços: ação de envolver algo ou alguém com os braços, mantendo essa pessoa ou coisa próximo ao peito.

A palavra traz consigo o gesto de abraçar. O artista usa uma tipografia mais arredondada, que remete a essa sensação macia do abraço, com uma textura bem aparente que faz a ligação com o tátil. A arte traz o conforto do abraço, utilizando o espaço negativo para desenhar o gesto em que os bracinhos envolvem a palavra. Os elementos florais retratam o florescimento do relacionamento. Quando se dá um abraço, você quer dizer praquela pessoa que você quer cultivar aquilo, o que trouxe às flores, o floreio.

Amor: forte afeição por outra pessoa, nascida de laços de consanguinidade ou relações sociais.

Lettering cursivo bem expressivo com alguns floreios que reforçam a sensação do amor, uma coisa expansiva, delicada, que vai dando essas voltinhas, o que casa muito com a ideia do amor. E as cores vibrantes reforçam essa expressividade que o sentimento do amor nos traz

Muita textura e elementos florais são usados, que no caso das duas palavras apresentadas são afetos que combinam muito bem com esse tipo de ornamento. Para esse selo há um outro tipo de ilustração feita à mão. Por mais que o resultado final seja um arquivo digital, tudo teve origem em um processo manual, com vários rascunhos, várias etapas.

Chamego: atração por interesse demonstrado por alguém ou gesto afetivo.

Com o estilo de lettering que se chama Interlock, uma palavra ou letra é interligada a outra. Por exemplo, na arte o H está quase dentro do C. Já o M, o E se encaixando, o G passando por cima do O e isso tem tudo a ver com a palavra, com o que é o gesto do chamego. Um estilo que reforça o próprio conceito da palavra.

Além disso, o artista estilizou a estética do cordel, monocromático com várias ranhuras feitas com ferramentas que marcam a madeira. Isso porque tanto a literatura de cordel quanto a palavra têm uma origem nordestina, o que faz muito sentido estarem juntas nessa peça.

Felicidade: qualidade ou estado de feliz; estado de uma consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento, bem-estar.

O artista explorou um lettering com serifas, floreios bem grossos, quase que exagerados no tamanho, que geralmente são mais delicados, mas na arte é mais interessante estarem realmente vistosos como a felicidade, um sentimento expansivo, em que se acaba contagiando outras pessoas.

O estilo de ilustração ao fundo, raios coloridos, trazendo muito do movimento hippie que trouxe a busca da felicidade como objetivo primário expresso em cartazes da época utilizando cores vibrantes. Assim como na palavra chamego, essa arte traz um estilo, uma estética muito aderente ao conceito da palavra felicidade.

Gratidão: a gratidão ou o agradecimento é o ato de reconhecimento de uma pessoa por alguém que lhe prestou um benefício, um auxílio ou um favor.

Com uma caligrafia arredondada e estilo romântico, esse selo mostra os enlaces que envolvem a gratidão, um sentimento recíproco, que é oferecido e também recebido de volta. Aplicada em uma moldura mais erudita, mostrando sua nobreza, a gratidão é um sentimento elegante que quando dito de coração, cria esses laços de bondade e agradecimento emanando bons fluidos de harmonia e positividade.

Axé: o termo axé significa “energia”, “poder”, “força” pode se referir tanto aos assentamentos de orixás que ficam nos pejis (alteres de candomblé) quanto a força mágica que sustenta os terreiros de candomblé. Popularmente é conhecido como energia.

Como representar graficamente a energia? E como isso pode passar por uma palavra? Com uma estética que mostra alterações das letras junto com um movimento, a energia vai passando de uma letra pra outra, se alterando, criando um movimento. Na Bahia as pessoas falam “Muito axé pra você”, muita energia boa e isso volta para pessoa. Quando se deseja o bem, também se recebe o bem. E simbolizar essa energia que sai de uma pessoa para outra foi uma grande tarefa para Lucas, que também optou por trazer as cores primárias que se vê no Olodum, um movimento raiz na Bahia e representa muito o Axé no trabalho deles.

Xêro: expressão nordestina que designa o ato de beijar, cheirando antes, carinhosamente, outra pessoa.

Letras maiúsculas usadas como molde, criando rastros de tintas com várias pinceladas, construindo os traços com as letras que dão esse tom de energia, vibrante, muito íntima e também com um uso mais casual que é mandar um xêro em uma mensagem, mas que não é uma coisa que se fala pra todo mundo.

Sorria: rir sem ruído, apenas com um ligeiro movimento dos lábios e da face.

A inspiração foi no momento do acordar em que se vê um sol ensolarado e comenta com alguém ou pensa consigo mesmo: Que dia lindo!!! Geralmente acompanhado de uma sensação boa, uma vontade de sorrir. Você se sente energizado com aquele dia bonito. E assim colocar todas essas sensações nessa arte. Um dia bonito. Esse solzinho com esse rostinho, essa textura bem aparente, bem próxima. É um desenho em que não se está preocupado com a representação certinha da letra, buscando mais se aproximar da pessoa. Um desenho mais empático junto com as cores bem quentes representam aquele sorriso que esquenta, que acalenta.

Saudade: sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa, coisa ou lugar, ou a ausência de experiências prazerosas já vividas. Dualidade na palavra. Saudade de um tempo bom, ou saudade que dói.

“Essa palavra foi até um pouco difícil pra mim, porque ela tem uma dualidade dentro dela. Começa com um sentimento melancólico, mas também tem experiências prazerosas. E concordo muito com isso, a saudade pode te provocar uma coisa boa, mas no fim das contas eu acho que o comum dela é que você tem ausência, que pode te machucar, ou pode ser boa por lembrar de um tempo bom.” (Lucas Elias)

Falando da representação dela, o artista procurou fazer o contrário de tudo que fez porque saudade tem que ser bem diferente, bem marcante. Optou por ser minimalista para justamente mostrar a ausência. A ausência de vários elementos gráficos, sem ilustração de apoio, sem tantas cores, uma letra longe, espaçada uma da outra. Comunicando mais. O estilo reforça o conceito.

E usando esse estilo, o artista deixa a critério de quem tá vendo o selo e pensar se essa saudade é melancólica ou uma coisa boa, que vai lembrar das experiências prazerosas.

Fé: é a adesão de forma incondicional de uma hipótese que a pessoa passa a considerar como sendo verdadeira sem qualquer tipo de prova ou critério objetivo de verificação.

O que é fé? Como representá-la? Para o artista há duas formas de representação. Uma é íntima em que ter fé numa religião, não importa qual seja, está dentro de você e se você acredita, aquilo é muito poderoso. Gera uma outra força em você capaz de aguentar os dias difíceis, uma força que move, que lhe faz perdurar não importando qual situação esteja.

A arte foi criada nesse sentido. A palavra fé com floreio, delicada, bonitinha, que se liga a uma outra fé, uma outra palavra que já é mais forte, maiúscula serifada com um presença bem impactante.

“E foi justamente essa a ideia de uma fé de dentro, que é muito íntima que a gente tem a fé com esses floreios e interligada acaba gerando essa outra fé que é forte, presente. E assim, a gente tem essa maneira de entender esse conceito de fé, que te dá força.” (Lucas Elias)

Essa emissão tem um quê todo especial, um simbolismo e uma representação de grandes desejos de Natal para todos nós e está disponível na loja virtual e em breve nas nossas principais agências. Mande palavras de afeto a quem você gosta.

Para você toda a nossa gratidão por este ano. E de nós, dos Correios, as palavras de afeto que temos pra você neste Natal, hoje e sempre, são: sorria, não perca a fé, muita felicidade e aquele abraço.

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PAULO COMELLI – SÉRIE GRANDES NOMES DA FILATELIA BRASILEIRA

(*23/03/1943 – +09/05/2011)

2º selo da Série Grandes Nomes da Filatelia

Nascido no Rio de Janeiro, em 23 de março de 1943, passou a ter contato com a filatelia aos 15 anos. Ao longo de sua trajetória, especializou-se em selos clássicos e História Postal do Brasil. Foi um dos maiores responsáveis pelo estímulo à filatelia no país. Tinha como maior propósito: aperfeiçoar a visão de que a filatelia como sendo uma ciência auxiliar da história, muito mais do que colecionismo.

“A Filatelia é uma ciência auxiliar da história, pois ajuda a criar uma consciência de cidadania em crianças e adolescentes, graças aos aspectos históricos e geográficos que ela envolve, além do culto às tradições. Desta forma, a Filatelia deveria figurar entre as disciplinas obrigatórias do currículo escolar.”

Paulo Comelli recebeu a mais importante premiação filatélica mundial ao assinar o Roll of Distinguished Philatelists. Criado pelo Congresso Filatélico da Grã-Bretanha, em 1921, o RDP, como também é chamado, tem a primeira assinatura presente nesta relação a do Rei George V, sendo este convidado a pertencer a lista em função de seu posto como Presidente da Royal Society London, entre o período de 1896 a 1910, enquanto ainda era Duke of York.

The Roll of Distinguished Philatelists é formado por aqueles que ajudaram no desenvolvimento da filatelia mundial por meio de pesquisa, experiência ou dedicação de seu tempo e assim um dos membros do seleto grupo pode indicar o candidato que será avaliado pela Junta Eleitoral.

Tendo como patrono o ex-presidente da Royal Philatelic Society London, Christofer Harman, Paulo Comelli recebeu o grande prêmio na cerimônia que aconteceu durante o Congresso Filatélico Anual da Grã-Bretanha, em 24 de novembro de 2007, sendo o primeiro brasileiro a estar presente nessa importante relação.

Ao longo de sua trajetória, ocupou posições de destaque no cenário filatélico, como as de Presidente da Confederação Brasileira de Filatelia/CBF (1990-2003), Membro Fundador e Vice-Presidente da Federação Brasileira de Filatelia/FEBRAF (1997-2001), Vice-Presidente da Federação Interamericana de Filatelia/FIAF (1998-2001), Diretor da Associação Internacional dos Experts Filatélicos/AIEP (2006-2009) e o primeiro brasileiro nato a ser Diretor da Federação Internacional de Filatelia/FIP (2009-2011).

Como produção intelectual, Paulo Comelli publicou mais de 540 artigos sobre selos brasileiros, algumas dezenas de artigos sobre a filatelia didática e outros tantos sobre dados históricos da filatelia. Produziu dois livros, o primeiro, com 638 páginas sobre a Coleção de Dom Pedro II e, o segundo, intitulado Carimbo do Império no Rio Grande do Sul, que, infelizmente, não chegou a ser publicado. Foi, também, fundador e editor chefe da revista Mosaico (CBF), além de ter contribuído com artigos para diversos periódicos filatélicos nacionais e internacionais.

Mais do que se dedicar aos estudos da Filatelia Brasileira, aplicou seus conhecimentos na identificação e análise de falsificações e fraudes na filatelia, tendo produzido mais de uma centena de exames em cartas, carimbos e selos brasileiros e internacionais.

Suas coleções conquistaram mais de uma dezena de medalhas e prêmios nas principais exposições filatélicas ao redor do mundo, colocando-o entre os brasileiros mais premiados internacionalmente. Destacam-se as coleções: Dom Pedro II (1866-1878) – American Bank Note, que conquistou 15 medalhas (7 Gold e 8 Grand Gold) e 6 prêmios especiais; e a coleção Brazilian Mail to Foreign Destinations – From Correio – MOR to UPU, vencedora de 4 medalhas Grand Gold.

Paulo Comelli encerrou sua trajetória em 9 de maio de 2011, em Belo Horizonte, deixando um sólido legado de conhecimento e de estímulo à Filatelia para as gerações futuras. A folha do selo personalizado gomado está disponível na loja virtual.

Fontes: http://www.fefibra.org.br/RDP_comelli.pdf http://www.fefibra.org.br/textos.asp?id=201 https://en.wikipedia.org/wiki/Roll_of_Distinguished_Philatelists https://en.wikipedia.org/wiki/Paulo_Comelli https://comelliphilatelist.com/rdp www.filatelia77.com

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LAÍS SCUOTTO – SÉRIE GRANDES NOMES DA FILATELIA BRASILEIRA

(*12/12/1945 – +09/01/2019)

3º selo da série Grandes Nomes da Filatelia Brasileira

Natural do Rio de Janeiro, onde nasceu em 12 de dezembro de 1945, Laís Scuotto trouxe da origem italiana de sua família seu grande apreço pelas artes.

Seu bisavô, Francesco Scuotto, esteve à frente de importante atelier de ofícios das artes em Gênova (Itália). Convidado a vir trabalhar no Brasil, escolheu enviar seu filho, Alfredo, que desenvolveu trabalhos de escultura e fundição junto à Escola de Belas Artes de São Paulo, tornando-se amigo e colaborador do escultor Rodolfo Bernardelli.

Laís é a segunda filha da união entre Elvira Muccillo e Francisco Scuotto, filho de Alfredo que seguiu os passos do pai. Francisco foi servidor da Casa da Moeda do Brasil, autarquia na qual chefiou o Departamento de Fundição. Entre os muitos projetos que coordenou, o mais conhecido é a fundição da “Estátua de Bellini”, no Estádio do Maracanã, em comemoração ao primeiro título mundial da seleção brasileira de futebol.

A arqueologia era sua paixão desde criança que se concretizou na sua formação em Museologia, profissão que exerceu de maneira exemplar ao longo de mais de quatro décadas. Laís graduou-se pelo antigo Curso de Museus do Museu Histórico Nacional, com habilitação para Museus Históricos (1969) e para Museus Científicos (1970). Décadas mais tarde, Laís Scuotto participou ativamente da luta pela regulamentação da profissão de museólogo, tendo sido a primeira presidente do Conselho Federal de Museologia – COFEM.

A jovem museóloga passou a integrar a equipe técnica da Assessoria Filatélica dos Correios, no Rio de Janeiro, tendo entre suas atividades o estudo, do ponto de vista das técnicas museográficas, do amplo acervo postal, telegráfico e filatélico herdado pela ECT do extinto Departamento de Correios e Telégrafos.

Certamente, esses estudos foram muito importantes para o projeto que coordenou referente à criação do novo Museu Postal e Telegráfico, em Brasília, que passou a dar ênfase especial para a filatelia nacional e internacional. Laís coordenou tanto esse projeto de implantação do novo museu, em 1980, quanto o seu projeto de reformulação, em 2012, que proporcionou aos visitantes novas formas de experiências artísticas e culturais.

Ela foi inicialmente parte do grupo de especialistas responsável pela mudança conceitual da filatelia com a ampliação da temática dos motivos filatélicos e com a modernização do design do selo, fatos que resultaram no aumento do seu impacto visual, socioeducativo e de suas qualidades como instrumento de comunicação cultural.

Depois, coube a Laís estar à frente da chefia da Assessoria Filatélica da ECT, órgão responsável por colocar em prática essas novas estratégias de gestão da filatélica, durante mais de 20 anos.

Em 09 de janeiro de 2019, Laís Scuotto encerrou sua trajetória de amor às artes, em especial à filatelia. Fez muito! E seu legado será sempre merecedor de muitas homenagens.

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ROLF HARALD MEYER – SÉRIE GRANDES NOMES DA FILATELIA BRASILEIRA

(*22/05/1927 – +23/11/2014)

Primeiro Selo da Série Grandes Nomes da Filatelia

Rolf Harald Meyer, ou mais conhecido como RHM, nasceu na cidade de Hamburgo, Alemanha, depois de seu pai tentar a vida no Brasil em 1924. A revolução daquele ano fez a família voltar a Alemanha, já com duas meninas nascidas no Brasil.

O retorno da família ao Brasil, em 1932, coincidiu com outra revolução, a Constitucionalista, o que não impediu que dessa vez ficassem definitivamente por aqui.

Desde jovem Rolf já trabalhava na fábrica de geradores do seu pai e nas horas de folga colecionava e trocava selos. Aos 15 anos de idade já era um comerciante filatélico, quando decidiu sair de casa para viver exclusivamente dessa atividade. Sua loja era o saguão do edifício dos Correios e seu estoque ficava em uma mala preta.

Com o Brasil entrando na Segunda Grande Guerra as coisas ficaram muito difíceis para os alemães que viviam por aqui. O sonho de participar de uma Olimpíada como nadador foi embora. As casas foram invadidas, os livros e alguns pertences foram levados. Ficaram os selos.

Em 1948, Rolf conseguiu abrir a empresa RHM e alugou, juntamente com Adalberto Marcus, uma pequena sala na Rua Barão de Itapetininga, em São Paulo. Em 1952 retornou à sua cidade natal, em meio à uma viagem à Helsinque para acompanhar os Jogos Olímpicos daquele ano. Entusiasta por esportes, ele sempre nos contava com alegria sobre ter visto Adhemar Ferreira da Silva conquistar a medalha de ouro, quebrando o recorde mundial no salto triplo.

Em Hamburgo conheceu Liese Lotte Meyer. Ficaram noivos e se casaram logo depois, união que durou até o fim de sua vida. Aqui chegaram em 1953. Rolf acabou adquirindo os direitos autorais do Catálogo de Selos do Brasil junto ao Dr. Francisco Schiffer em 1976, catálogo de referência para o mercado filatélico até os dias de hoje. O Catálogo RHM, como é conhecido, serve como base de praticamente todas as empresas do setor que compram e vendem selos brasileiros no Brasil e no exterior.

Sempre muito apegado aos selos, Rolf lamentava profundamente ter que vendê-los e dedicou sua vida à filatelia, deixando uma vasta contribuição. É por isso que ele é homenageado como um grande nome da filatelia brasileira. A folha do selo personalizado gomado está disponível na loja virtual.

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O Universo dos Selos Personalizados – Série Os Grandes Nomes da Filatelia Brasileira

Texto por Maria de Lourdes Torres de Almeida Fonseca

As invenções surgem por alguma razão ou motivadas por fatores que levam o homem a agir e a pensar diferente em algum momento. Assim, no mundo dos selos postais, que gira em torno das modalidades de selos comemorativos, regulares e especiais emitidos pelos Correios, surgiu o Selo Personalizado, demonstrando o poder de renovação da Filatelia.

O universo dos selos postais é vasto e dinâmico. Folheando os catálogos ou visitando os acervos de colecionadores, contemplamos a expressiva iconografia das emissões em suas diferentes modalidades. Constatamos um movimento estruturado, embasado nas tendências mundiais em torno da Filatelia, que preserva a função postal do selo no campo das correspondências e o tornam presença marcante nas coleções daqueles que se dedicam a esse hobby.

Desde a sua criação, os selos propagam motivos associados a personalidades ilustres, episódios históricos relevantes e a diversidade ambiental dos países emissores. Com visual atraente, associado ao tema, os selos representam produto de características singulares, pois, além da função de comprovantes de franqueamento, ainda despertam o interesse de colecionadores em todo o mundo.

A Filatelia é, indiscutivelmente, o hobby mais praticado no mundo, em vista de seus princípios e valores, fortemente influenciados pelas modernas formas de comunicação. Após uma jornada de transformações, seguindo o exemplo de nações bem-sucedidas nos empreendimentos filatélicos, o Selo Personalizado surgiu no Brasil marcando as comemorações de seus 500 anos de Descobrimento. E assim nasce como uma oportunidade de eternizar histórias de amor entre familiares, amigos e até bichinhos de estimação. E porque não registra também momento especiais de marcas, empresas, parcerias. Afinal, tem selo pra tudo!

O Selo Personalizado surgiu para satisfazer o desejo de clientes especiais, sem as formalidades e as normas legais inerentes às demais fórmulas de franqueamento postal. Podemos dizer que neste selo quem manda é o cliente. Nasceu como nasce todo produto, e foi ganhando espaço e simpatia no mundo filatélico. Hoje, é produto encontrado nas coleções de selos e procurado por aqueles que o enxergam como um meio eficaz de comunicar e o consideram relevantes. As motivações são diversas.

Para coroar de êxito, como parte das comemorações para o Dia Mundial dos Correios, apresentamos a série Os Grandes Nomes da Filatelia Brasileira. Nada mais justa a homenagem a personalidades que dedicaram e muitas que ainda dedicam suas vidas à prática da Filatelia, considerados estudiosos, defensores e incentivadores dessa prática universal.

Em parceria com Julio César de Castro, esta Série e seu ineditismo criam um novo capítulo na história filatélica inovando em sua forma de comunicação, por reconhecer e propagar a obra daqueles que não pouparam esforços na tarefa de tornar os selos postais o centro de seus ideais e estilo de vida. Os primeiros selos de uma Série Personalizada representam emoção e reconhecimento a Rolf Harald Meyer (editor, por décadas, do Catálogo RHM), a Paulo Comelli (grande representante da Filatelia mineira e um dos Diretores da Federação Internacional de Filatelia – FIP), e a Lais Scuotto (profissional de Correios, museóloga, que conduziu a Filatelia por mais de duas décadas). O próximo homenageado será Leão W. Marek (dedicado ao comércio filatélico de São Paulo, com grandes contribuições ao desenvolvimento do mercado de selos em todo o Brasil). A obra de cada um deles vai agora ficar eternizada no campo filatélico.

Rolf Harald Meyer
Paulo Comelli
Lais Scuotto

Na próxima semana, acompanhe as publicações sobre cada um dos homenageados. Os personalizados em homenagem à Rolf Harald Meyer, Paulo Comelli e Lais Scuotto, já estão à venda na loja virtual e também podem ser encomendados nas agências próprias/terceirizadas.

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Centenário do Nascimento de Clarice Lispector

Arte: Mariana Valente

Os Correios lançam virtualmente, hoje, emissão postal em homenagem ao centenário da escritora Clarice Lispector, nos canais oficiais dos Correios nas redes sociais.

A arte do selo é da neta de Lispector, Mariana Valente, que construiu toda a ilustração com retalhos de cartas, páginas de livro antigos e envelopes que encontrou da própria Clarice como forma de homenageá-la e também sua paixão por correspondências. “Somos de diferentes épocas, mas compartilhamos desse íntimo prazer pelo analógico. Eu coleciono selos, postais e cartas antigas, que utilizo em minhas colagens há muitos anos, e ter tido a oportunidade de desenvolver algo que gosto tanto com total liberdade foi maravilhoso”, explica a artista.

A emissão tem tiragem de 900 mil selos, com valor de R$ 2,05 a unidade, e estará disponível nas principais agências de todo o país e também na loja virtual dos Correios.

Nascida na Ucrânia, Clarisse Lispector veio com a família – pai, mãe e duas irmãs – para o Brasil com pouco mais de um ano de idade. Viveu em Pernambuco até os 14, quando foi para o Rio de Janeiro, onde anos mais tarde se formou em Direito, pela Universidade do Brasil, e conheceu o diplomata Maury Gurgel Valente, com quem se casou.

Sua estreia como escritora foi com “Perto do Coração Selvagem” (1943), porta de entrada o mundo da literatura. Segundo a biógrafa Teresa Montero, Clarice escreveu dezessete livros entre romances, contos, crônicas e histórias infantis que já alcançaram cerca de quarenta países e lhe alçaram ao patamar de uma das maiores escritoras do século XX.

A escritora assinou textos em veículos de imprensa como Agência Nacional, jornal A Noite, Jornal do Brasil, Última Hora e Correio do Povo. Também escreveu em páginas femininas sob pseudônimo em Comício, Correio da Manhã e Diário da Noite. Alcançou, ainda, grande popularidade como entrevistadora na Manchete e Fatos & Fotos.

Acompanhando o marido, Clarisse esteve na Itália, Suíça, Inglaterra e Estados Unidos, sempre se correspondendo com entes queridos. Finalmente, em julho de 1959, aos trinta e nove anos de idade, ela se fixou no Leme – até seu falecimento em 9 de dezembro de 1977.

Seu estilo inconfundível produziu obras que se tornaram clássicos como A Maçã no Escuro, Laços de Família, A Paixão Segundo G.H, Água Viva e A Hora da Estrela.

Publicado em Filatelia, Programação Filatélica 2020 | 6 Comentários

O Alfabeto Manual da Língua Brasileira de Sinais: a Libras e as potências de Ser Surdo

arte da folha de selos: Fabio Lopez

“Eu tenho orgulho de ser Surdo!” – essa foi, e ainda é, uma poderosa afirmação feita por muitas pessoas surdas ao redor do mundo. Esse orgulho é a força motriz de um movimento que luta pela virada da compreensão social sobre as pessoas surdas e suas potencialidades individuais e coletivas. Ao lançar uma série de selos com o Alfabeto Manual da Língua Brasileira de Sinais, mais conhecida pela sigla Libras, os Correios, nesta emissão inédita, se tornam um forte apoiador da luta dos movimentos sociais surdos brasileiros. Além da confecção e emissão de um selo para cada uma das 26 formas da mão que representam as letras do nosso alfabeto em Libras, serão impressos selos com as palavras em Libras que traduzimos para o português brasileiro como “Libras”, “Eu te amo”, “Brasil” e “Brincar”. Uma ação muito significativa na difusão da Línguas Brasileira de Sinais e dos valores políticos e sociais que essa língua tem para as Comunidades Surdas do nosso país.

arte da folha de selos: Fabio Lopez

A escolha do alfabeto manual da Libras nos parece muito assertiva para esse momento em que o assunto ganhou visibilidade e despertou o interesse de brasileiros antes distantes do tema. Pois o alfabeto manual tem a função de fazer uma “ponte” entre palavras das línguas orais (Português, Inglês, Francês e outras) para às línguas de sinais. Ao soletrar manualmente a grafia dessas palavras, cada letra corresponde a um formato assumido pela mão, ocorre um fenômeno linguístico chamado empréstimo por transliteração1. É uma forma de transpor do sistema gráfico de uma língua para fisicalidade de outra, ou seja, do som escrito para o gesto sinalizado. O sistema soletrado é, desse modo, um instrumento de diálogo entre as línguas orais e de sinais. Algumas palavras em Libras, normalmente chamadas de sinais, podem apresentar referências às letras do alfabeto manual – como no caso do sinal usado para “Brasil” que apresentam um formato de mãos semelhante à letra “B”. Esse é um exemplo entre muitos outros de como o alfabeto manual se incorpora à língua; ainda que essa não seja condição geral para todas as palavras em línguas de sinais. Essas línguas não se limitam ou dependem das letras dos alfabetos manuais ou das línguas orais. São sistemas gramaticais complexos em si e tem na relação gesto-visão os elementos linguístico-cognitivos que estruturam essas línguas em todos os seus níveis. Desse modo, o lançamento de uma série de selos que divulgam o Alfabeto Manual, ao nosso ver, cumpre a função propagadora de um dos principais objetivos das Políticas Surdas: a difusão e reconhecimento social dos Saberes Surdos para o diálogo e aproximação entre a sociedade e os coletivos surdos compreendidos, enfim, como formas autênticas de ser e estar no mundo.

arte da folha de selos: Fabio Lopez

Não existe uma língua de sinais universal, como se fosse um código, compartilhada por todos os surdos do mundo. Em todos os países onde são encontradas, essas complexas línguas gestuais são fruto das interações entre pessoas surdas nos coletivos surdos. São produto dos processos de agrupamento e formação das próprias Comunidades Surdas. Agenciamentos interpessoais que fizeram emergir, ao longo dos séculos, as línguas de sinais como sistemas linguísticos próprios. Uma história semelhante, mas singular em cada parte do mundo. Essas línguas são vivas e estão intrinsicamente ligadas aos modos de cidadania experienciados pelas pessoas surdas em cada parte do mundo. Politicamente cada país registra, legisla e/ou desenvolve ações para suas respectivas línguas de sinais – ASL nos Estados Unidos, BSL na Inglaterra, LSCh no Chile, Auslan na Austrália, Libras2 no Brasil, entre outras. Ainda, tal como as línguas orais, em um mesmo país podemos identificar tanto regionalismos típicos pelo uso das Língua de Sinais em diferentes regiões, assim como podemos nos deparar com formas emergentes dessas línguas em localidades fora dos centros urbanos (como por exemplo, as línguas de sinais faladas por coletivos surdos indígenas em povos originários registrados ao longo da história de vários países).

arte da folha de selos: Fabio Lopez

As línguas de sinais são, talvez, o marco mais emblemático da diferença surda como uma outra possibilidade potente de vida humana. Uma produção singular e enriquecedora para a atualidade de nossas sociedades que buscam entender a própria diversidade que as constituem. Em muitos países, essas línguas são o caminho pelo qual as Comunidades Surdas elaboram e lutam pelo direito à autodeterminação e respeito aos seus modos de existir. Nesse contexto, vale destacar que, desde o século XVIII, a formação organizada das Comunidades Surdas e suas línguas de sinais, pelo mundo, foi marcada pela institucionalização educacional de crianças surdas nos modelos de internatos. No Brasil, em 26 de setembro de 1857, o Imperador Pedro II motivado pela proposta enviada por carta pelo educador surdo e francês E. Huet, funda no Rio de Janeiro, aquele que hoje conhecemos como Instituto Nacional de Educação de Surdos, o INES. Na época foi intitulado Instituto Imperial dos Meninos Surdos-Mudos, mas ao longo dos anos assumiu outros nomes e modos de funcionamento que refletem as políticas de Estado para formação dos cidadãos surdos em vários períodos de nossa história. Não temos registros de línguas de sinais faladas em nosso país antes dessa época – por mais que não se negue a possibilidade de terem existido. Contudo, a fundação do INES como um espaço educativo de surdos em formato de internato, assim como a criação de outras instituições brasileiras especificas para educação de surdos em várias capitais brasileiras nos meados da década 1960, é vista hoje por diversos especialistas em Libras como a principal política de formação dos agrupamentos que geraram as Comunidades Surdas brasileiras. Assim como da própria emergência da Libras, como língua humana desenvolvida no interior dessas instituições, é reconhecida como fruto da interação e produto do poder cognitivo-comunicacional das próprias pessoas surdas.

arte da folha de selos: Fabio Lopez

Um marco dos Movimento Surdos é a produção de novas concepções sobre as qualidades e dificuldades do Ser Surdo no mundo marcado pelo estigma da diferença como deficiência. Essa nova maneira de compreensão tem como principal bandeira o protagonismo das próprias pessoas surdas, suas experiências e modos de compreensão dos sistemas sociais, comunicativos e familiares. A visão surda sobre o mundo é, nessa perspectiva, mais do que apenas uma experiência com a aparente ausência do som. Afinal de contas o som é uma experiência física que não é só interpretada pelos ouvidos. Assim como a língua é uma experiência linguística que não depende exclusivamente da voz. Ser Surdo se trata, nessa luta, do reconhecimento da vivência integral e positiva do surdo no mundo. Uma produção de vida que vem não só afirmar os sujeitos surdos, mas também ensinar à toda sociedade que existem muito modos possíveis de ser e estar do mundo. São diversas outras culturas que pulsam em territórios simbólicos e reais ainda não mapeados, fronteiras pouco discutidas ou atravessadas.

arte da folha de selos: Fabio Lopez

Entre os principais valores que as políticas de ressignificação afirmativa das pessoas surdas e das línguas de sinais defendem, elencamos, de forma concisa, os seguintes seis princípios3 :

arte da folha de selos: Fabio Lopez

A Potência do Ser Surdo:

Em oposição às interpretações que são feitas sobre a surdez como deficiência, as Comunidades Surdas lutam pela ressignificação da visão negativa das humanidades surdas como incompetências. Nessa perspectiva, a surdez se torna uma condição de corpo como diversas outras. identificada no nascimento ou adquirida ao longo da vida, ser surdo é uma dentre as complexas diversidades que formam nossas sociedades. Isso ressignifica para as famílias, escolas, clínicas, religiões e toda sociedade que ser surdo não é não uma falta, incompletude ou doença que determina a anulação total das capacidades desses sujeitos. O convite desse pensamento é para não olharmos mais para surdez e seus efeitos como forças depreciativas que precisam ser corrigidas. É para enxergarmos os surdos como sujeitos integrais e complexos inseridos nas redes sociais humanas. A afirmação das línguas de sinais tem um papel fundamental nesse processo, pois elas se tornam as línguas pela qual os surdos se agrupam e mediam a vida no mundo. A potência em Ser Surdo está na constatação de que é possível ser surdo e feliz ao mesmo tempo4 , que os ganhos surdos5 podem contribuir muito para todos.

arte da folha de selos: Fabio Lopez

A Matriz Linguístico-cultural:

O surgimento de estudos que comprovaram que as línguas de sinais têm valor linguístico e estruturas gramaticais como qualquer outra língua, contribuíram também para compreensão de que os coletivos usuários dessas línguas, centralmente os surdos, compartilham estruturas, valores, imaginários e campos simbólicos próprios. Fruto das múltiplas e atravessadas relações da pessoa surda com o meio, as línguas de sinais intermediam construindo o elo entre a visão e a cognição. A criação de cursos de graduação em Letras Libras, a produção de Literaturas Surdas, os Festivais de Arte e Cultura Surda, as Associações e os Movimentos Sociais Surdos têm cooperado para difusão da Libras sem separar essa língua dos modos culturais de organização dos coletivos surdos brasileiros. A constatação de que existem culturas e línguas próprias aos coletivos surdos ultrapassa e acrescenta algo a mais à antiga ideia de surdez como um peso a ser superado. Das ciências clínicas que reduziam e se dedicavam a cura de orelhas defeituosas, esse olhar sociológico escolhe atentar às forças e potências dos processos subjetivos vividos pela integralidade dos sujeitos e coletivos surdos, suas línguas e culturas.

arte da folha de selos: Fabio Lopez

O Ouvintismo Estrutural:

Um assunto muito sensível que surge nos debates sobre a Libras e os Saberes Surdos é a denúncia de processos de opressão vividos pelos surdos. O conceito de ouvintismo6 foi proposto para designar os processos estruturais de preconceito e discriminação que negam a autenticidade das pessoas surdas, suas línguas e suas culturas. Nesse processo opressor, não as pessoas ouvintes, mas a ideia de que o normal e melhor é ser como as pessoas que ouvem, acaba orientando negativamente decisões e comportamentos políticos, educativos, religiosos e familiares. Os processos de institucionalização de crianças surdas, por exemplo, são carregados de relatos nos quais a obrigação de falar uma língua oral, de ler lábios e a proibição do uso de línguas de sinais eram prestigiados como condições indispensável para que os surdos fossem reconhecidos como sujeitos pensantes e sociáveis7 . Um movimento que olhava as Línguas de Sinais como mímica ou como gestos combinados insuficientes e dependentes das palavras e lógicas orais-auditivas. O ouvintismo não vê a alienação social das pessoas surdas como consequência do isolamento comunicacional e negação dos saberes produzidos pelos próprios surdos, mas como uma incompetência intelectual e comportamental produzida pela surdez. É contra e pela ressignificação dessas ideias enraizadas que se pautam as lutas dos surdos como Movimento Social legítimo.

arte da folha de selos: Fabio Lopez

As Culturas Minorizadas:

Compreender os coletivos surdos como movimento social historicamente situado entre outras minorias culturais é um passo importantíssimo para compreender os valores surdos. As línguas de sinais, como principal dispositivo político, não são uma proposta de negação das línguas orais. E, tão pouco, de segregação dos surdos. Politicamente, a bandeira levantada pelas Comunidades Surdas passa pelo bilinguismo – em nosso caso, por exemplo, Libras/Português. É, contudo, em oposição aos fantasmas de antigas práticas e concepções depreciativas e opressoras, que o movimento social surdo se compreende e se apresenta como minoria linguística. Uma luta pelo aperfeiçoamento das humanidades surdas que é respaldada por políticas linguísticas próprias. É para revogar a ideia de que a surdez produz atrasos intelectuais e comportamentais, que se aponta para restrição e privação de língua e cultura surda, essa sim, como principal produtor dos entraves para vida dos surdos. Luta-se para demonstrar que são os próprios surdos autores das ferramentas mais eficazes para o desenvolvimento das humanidades e cidadanias desses coletivos historicamente oprimidos. Há pontos de diálogo entre as comunidades Surdas e a sociedade. E as línguas e culturas surdas são as chaves de intermediação desses diálogos. Chave de abertura para novas leituras dos processos educacionais, econômicos e políticos que ao longo dos séculos moldaram as tensões entre as Comunidades Surdas e os modos como as sociedades negam ou dispõem direitos básicos e oportunidades às minorias.

arte da folha de selos: Fabio Lopez

Os Saberes Surdos:

As produções em coletivos surdos não formam apenas um conjunto de saberes tácitos e/ou discursivos passados entre as gerações de membros dessas comunidades. A experiência de Ser Surdo, de olhar para o mundo a partir desse corpo e dos valores das Comunidades Surdas têm feito emergir nas universidades e centros de pesquisa uma série de epistemologias que revisam os conhecimentos humanos antes e aparentemente consolidados. A saber, muito foi reformulado pelas consideradas grandes áreas a partir do que se investiga pelo Estudos Linguísticos das línguas de sinais, pelos Estudos da Tradução e, principalmente, pelos Estudos Surdos – como campo próprio de investigação socioantropológico sobre as pessoas surdas e os fenômenos associados a elas. Além dos novos quadros de produção sistemática dos saberes sobre os surdos, uma marca significativa dessa mudança de curso acadêmico-profissional é a entrada de pessoas surdas em diversas frentes de pesquisa, produção e intervenção da realidade social – tanto como consumidores, assim como produtores de conteúdo.

O Protagonismo Surdo:

A presença ativa de pessoas surdas é uma ferramenta importantíssima para afirmação legítima das línguas de sinais e das políticas desenvolvidas para as próprias pessoas surdas. Um exemplo, concreto que podemos suscitar são os contextos em que se deram a produção dos selos em Libras. Ao sermos procurados pelos Correios, o INES como centro de referência nos estudos e políticas para pessoas surdas, compreendeu que os mais aptos para análise e consultoria seriam os professores surdos que lecionam Libras na instituição. São eles os especialistas e os principais representados pelos efeitos desse projeto. Em nossa instituição de mais de 160 anos, desde a entrada desses professores efetivos surdos, há menos de dez anos, presenciamos uma forte concretização dos efeitos do protagonismo surdo. Um primeiro diretor surdo, alunos, chefes e equipes falando em Libras pelos espaços físicos e virtuais com muito mais frequência. Os modos surdos vão, enfim, reverberando uma série de mudanças institucionais inimagináveis há alguns anos. Quando os surdos deixam de ser mero objeto de estudo, informantes e sujeitos passivos nos processos institucionais, familiares e políticos para se tornarem, então, modelos e agentes autodeterminantes, produtores e pensadores, então, o jogo começa a mudar. A Libras se tornará a língua de uso e aquilo que chamávamos de acessibilidade será vista como procedimento comum. O orgulho de ser surdo se torna, então, uma prática crítica e sistematizada, uma política. Só assim, enfim, os surdos começarão a ocupar o lugar de escritores de suas próprias histórias. Escritores que falam sobre a vida, os conhecimentos e o mundo em outra língua potente e infinita em possibilidades. Uma língua que agora é trabalho também dos não surdos irem na direção de aprender e respeitar.

Ramon Santos de Almeida Linhares

Mestre, Tradutólogo e Pesquisador em Estudos Surdos

Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES/MEC

Ana Regina e Souza Campello

Doutora, Professora e Pesquisadora em Estudos Surdos e de Educação

Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES/MEC


[1] Cf. FARIA-NASCIMENTO (2009).

[2] Cf. Lei de Libras, nº 10.436/2004.

[3] Cf. LADD, 2004.

[4] Cf. McCLEARY. “O orgulho de ser surdo”, 2003.

[5] Cf. BAUMAN; MURRAY. “Deaf Gain: Raising the stakes for human diversity”, 2012.

[6] Cf. LANE. “A máscara da benevolência”, 1992.

[7] Cf. “Atas do Congresso de Milão para Educação de Surdos no Mundo – 1880”, entre outros estudos.

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Correios homenageia Martha Poppe na 14ª Primavera dos Museus

O Museu Correios está entre as instituições participantes da 14ª Primavera dos Museus, ação coordenada pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), que une instituições museológicas em atividades para todos os públicos. O evento será realizado de 21 a 27 de setembro. Este ano, os Correios participam com a exposição virtual “Os Painéis de Martha Poppe”, acervo com quatro painéis em vidrotil instalados na fachada do prédio do Museu Correios, localizado no Setor Comercial Sul, em Brasília. A mostra estará disponível no site dos Correios. O tema definido pelo Ibram para a edição de 2020 é “Mundo Digital: Museus em Transformação”. Em razão da pandemia causada pelo novo coronavírus, o órgão orienta a todos os museus participantes que desenvolvam apenas atividades em ambiente virtual. O Museu Correios continua fechado e em breve será reaberto com as adaptações necessárias para visitação. Mais informações na página do evento

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