Texto: Christina Habli Brandão Dutra
2020 um ano de reinvenção, reconstrução, novos olhares, novas formas de se relacionar, de se conectar. Um novo mundo a chegar? Um mundo em reconstrução. E nessa reinvenção, buscamos também dar valor ao que é essencial, ao que toca o coração, laços de vida que fazem toda a diferença nesse cenário tão incerto, desafiador.
O equilíbrio está no que conforta o coração e essa emissão de Natal traz poesia em selos, palavras de afeto que voam longe e chegam pertinho de quem se gosta. Palavras que dizem o que tantos já querem demostrar há tempos.
São 10 palavras, 10 selos, 10 demonstrações de afeto que passam a sensação e o visual de um trabalho feito à mão em diferentes texturas, silhuetas, formas e significados para deixar mais perto quem está longe.
No edital, a certidão de nascimento do selo, a poetisa Helena Lucena criou o dicionário afetivo dessa emissão e descreve a seguir um pouco da sua inspiração com as palavras.
“Bom mesmo é abrir o dicionário, vestir as palavras com afeto e dançar de olhos fechados pela sala… Brinco tanto com as palavras que já tenho um guarda-roupa abarrotado delas. Meu nome é Helena Lucena. Sou formada em Letras-Português, pela Universidade de Brasília. Sou também formada pelo que as letras formam. Peguei um apelido de infância e o emancipei. Fiz uma página no Instagram, o @poesiadabe. E, quando vi, meu guarda-roupa já estava em outros quartos também.”
Lucas Elias, designer brasiliense de 31 anos, buscou na sensibilidade do olhar expressar as palavras de afeto e assim mostrar o que é humano, indo além da perfeição do que é digital e trazendo os detalhes e a empatia do que é feito à mão, com letras feitas com pincel e tinta de nanquim. Conheça a seguir como foi o processo criativo do artista e as definições que os nortearam.
Abraços: ação de envolver algo ou alguém com os braços, mantendo essa pessoa ou coisa próximo ao peito.
A palavra traz consigo o gesto de abraçar. O artista usa uma tipografia mais arredondada, que remete a essa sensação macia do abraço, com uma textura bem aparente que faz a ligação com o tátil. A arte traz o conforto do abraço, utilizando o espaço negativo para desenhar o gesto em que os bracinhos envolvem a palavra. Os elementos florais retratam o florescimento do relacionamento. Quando se dá um abraço, você quer dizer praquela pessoa que você quer cultivar aquilo, o que trouxe às flores, o floreio.
Amor: forte afeição por outra pessoa, nascida de laços de consanguinidade ou relações sociais.
Lettering cursivo bem expressivo com alguns floreios que reforçam a sensação do amor, uma coisa expansiva, delicada, que vai dando essas voltinhas, o que casa muito com a ideia do amor. E as cores vibrantes reforçam essa expressividade que o sentimento do amor nos traz
Muita textura e elementos florais são usados, que no caso das duas palavras apresentadas são afetos que combinam muito bem com esse tipo de ornamento. Para esse selo há um outro tipo de ilustração feita à mão. Por mais que o resultado final seja um arquivo digital, tudo teve origem em um processo manual, com vários rascunhos, várias etapas.
Chamego: atração por interesse demonstrado por alguém ou gesto afetivo.
Com o estilo de lettering que se chama Interlock, uma palavra ou letra é interligada a outra. Por exemplo, na arte o H está quase dentro do C. Já o M, o E se encaixando, o G passando por cima do O e isso tem tudo a ver com a palavra, com o que é o gesto do chamego. Um estilo que reforça o próprio conceito da palavra.
Além disso, o artista estilizou a estética do cordel, monocromático com várias ranhuras feitas com ferramentas que marcam a madeira. Isso porque tanto a literatura de cordel quanto a palavra têm uma origem nordestina, o que faz muito sentido estarem juntas nessa peça.
Felicidade: qualidade ou estado de feliz; estado de uma consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento, bem-estar.
O artista explorou um lettering com serifas, floreios bem grossos, quase que exagerados no tamanho, que geralmente são mais delicados, mas na arte é mais interessante estarem realmente vistosos como a felicidade, um sentimento expansivo, em que se acaba contagiando outras pessoas.
O estilo de ilustração ao fundo, raios coloridos, trazendo muito do movimento hippie que trouxe a busca da felicidade como objetivo primário expresso em cartazes da época utilizando cores vibrantes. Assim como na palavra chamego, essa arte traz um estilo, uma estética muito aderente ao conceito da palavra felicidade.
Gratidão: a gratidão ou o agradecimento é o ato de reconhecimento de uma pessoa por alguém que lhe prestou um benefício, um auxílio ou um favor.
Com uma caligrafia arredondada e estilo romântico, esse selo mostra os enlaces que envolvem a gratidão, um sentimento recíproco, que é oferecido e também recebido de volta. Aplicada em uma moldura mais erudita, mostrando sua nobreza, a gratidão é um sentimento elegante que quando dito de coração, cria esses laços de bondade e agradecimento emanando bons fluidos de harmonia e positividade.
Axé: o termo axé significa “energia”, “poder”, “força” pode se referir tanto aos assentamentos de orixás que ficam nos pejis (alteres de candomblé) quanto a força mágica que sustenta os terreiros de candomblé. Popularmente é conhecido como energia.
Como representar graficamente a energia? E como isso pode passar por uma palavra? Com uma estética que mostra alterações das letras junto com um movimento, a energia vai passando de uma letra pra outra, se alterando, criando um movimento. Na Bahia as pessoas falam “Muito axé pra você”, muita energia boa e isso volta para pessoa. Quando se deseja o bem, também se recebe o bem. E simbolizar essa energia que sai de uma pessoa para outra foi uma grande tarefa para Lucas, que também optou por trazer as cores primárias que se vê no Olodum, um movimento raiz na Bahia e representa muito o Axé no trabalho deles.
Xêro: expressão nordestina que designa o ato de beijar, cheirando antes, carinhosamente, outra pessoa.
Letras maiúsculas usadas como molde, criando rastros de tintas com várias pinceladas, construindo os traços com as letras que dão esse tom de energia, vibrante, muito íntima e também com um uso mais casual que é mandar um xêro em uma mensagem, mas que não é uma coisa que se fala pra todo mundo.
Sorria: rir sem ruído, apenas com um ligeiro movimento dos lábios e da face.
A inspiração foi no momento do acordar em que se vê um sol ensolarado e comenta com alguém ou pensa consigo mesmo: Que dia lindo!!! Geralmente acompanhado de uma sensação boa, uma vontade de sorrir. Você se sente energizado com aquele dia bonito. E assim colocar todas essas sensações nessa arte. Um dia bonito. Esse solzinho com esse rostinho, essa textura bem aparente, bem próxima. É um desenho em que não se está preocupado com a representação certinha da letra, buscando mais se aproximar da pessoa. Um desenho mais empático junto com as cores bem quentes representam aquele sorriso que esquenta, que acalenta.
Saudade: sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa, coisa ou lugar, ou a ausência de experiências prazerosas já vividas. Dualidade na palavra. Saudade de um tempo bom, ou saudade que dói.
“Essa palavra foi até um pouco difícil pra mim, porque ela tem uma dualidade dentro dela. Começa com um sentimento melancólico, mas também tem experiências prazerosas. E concordo muito com isso, a saudade pode te provocar uma coisa boa, mas no fim das contas eu acho que o comum dela é que você tem ausência, que pode te machucar, ou pode ser boa por lembrar de um tempo bom.” (Lucas Elias)
Falando da representação dela, o artista procurou fazer o contrário de tudo que fez porque saudade tem que ser bem diferente, bem marcante. Optou por ser minimalista para justamente mostrar a ausência. A ausência de vários elementos gráficos, sem ilustração de apoio, sem tantas cores, uma letra longe, espaçada uma da outra. Comunicando mais. O estilo reforça o conceito.
E usando esse estilo, o artista deixa a critério de quem tá vendo o selo e pensar se essa saudade é melancólica ou uma coisa boa, que vai lembrar das experiências prazerosas.
Fé: é a adesão de forma incondicional de uma hipótese que a pessoa passa a considerar como sendo verdadeira sem qualquer tipo de prova ou critério objetivo de verificação.
O que é fé? Como representá-la? Para o artista há duas formas de representação. Uma é íntima em que ter fé numa religião, não importa qual seja, está dentro de você e se você acredita, aquilo é muito poderoso. Gera uma outra força em você capaz de aguentar os dias difíceis, uma força que move, que lhe faz perdurar não importando qual situação esteja.
A arte foi criada nesse sentido. A palavra fé com floreio, delicada, bonitinha, que se liga a uma outra fé, uma outra palavra que já é mais forte, maiúscula serifada com um presença bem impactante.
“E foi justamente essa a ideia de uma fé de dentro, que é muito íntima que a gente tem a fé com esses floreios e interligada acaba gerando essa outra fé que é forte, presente. E assim, a gente tem essa maneira de entender esse conceito de fé, que te dá força.” (Lucas Elias)
Essa emissão tem um quê todo especial, um simbolismo e uma representação de grandes desejos de Natal para todos nós e está disponível na loja virtual e em breve nas nossas principais agências. Mande palavras de afeto a quem você gosta.
Para você toda a nossa gratidão por este ano. E de nós, dos Correios, as palavras de afeto que temos pra você neste Natal, hoje e sempre, são: sorria, não perca a fé, muita felicidade e aquele abraço.