250 Anos de Ludwig van Beethoven

“Em 2020 o mundo celebrará o 250º aniversário de Ludwing van Beethoven”. Assim iniciava o texto da carta convite, enviada pelo Deutsche Post DHL Group, convidando os Correios para participar das comemorações relativas ao nascimento do compositor clássico mais tocado no mundo. O convite foi recebido com grande satisfação e o motivo incluído no Programa de Selos Postais 2020 com temática comum aos países.

Portanto, hoje, dia 17 de setembro de 2020, entra em circulação a Emissão Postal Comemorativa 250 Anos de Ludwig van Beethoven. O selo, com arte-finalização do designer Daniel Effi, apresenta Beethoven em uma de suas representações mais emblemáticas, pintura do alemão Joseph Karl Stieler.

Emissão Postal Comemorativa 250 Anos de Ludwig van Beethoven
Carimbo de Primeiro Dia de Circulação

A tarifa Primeiro Porte da Carta (R$2,05) tem o propósito de ser acessível a todo o território nacional, levando os brasileiros a conhecerem as comemorações relativas a este tão importante músico. Saiba mais sobre a emissão no edital do selo.

O Deutsche Post, em parceira com Beethoven-Haus, possibilitou a todas as administrações postais, convidadas a participar do projeto, a utilizar a logotipo oficial das celebrações, BTHVN 2020. Abaixo pode-se encontrar alguns exemplares de selos já emitidos com a mesma marca:

Emissão Postal da Alemanha
Emissão Postal de Portugal
Guernsey Post
Emissão Postal da Bósnia e Herzegovina
Jersey Post

Fonte:  http://www.wopa-news.com/2020/03/  
https://www.dhl.com/global-en/home/press/press-archive/2019/deutsche-post-presents-special-stamp-to-mark-beethovens-250th-anniversary-in-a-record-first-issue.html    
https://www.jerseystamps.com/en/Shop/Product?c=2003200&ProductCode=CISFD2C    
https://www.guernseystamps.com/Guernsey-to-issue-stamps-250th-Anniversary-of-Beethoven%27s-birth  
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Exposição virtual – O Cerrado nos Selos Postais Brasileiros

Para celebrar o Dia Nacional do Cerrado, neste 11 de setembro, a Gerência de Filatelia dos Correios organizou a exposição virtual em forma de vídeo “O Cerrado nos Selos Postais Brasileiros”. Este riquíssimo bioma nacional é o segundo maior do país, atrás somente da Amazônia. Os selos postais são importante forma de educação acerca do meio ambiente e, ao longo do tempo, ajudaram a levar para a população informações imagéticas e textuais a respeito do cerrado, que muitas vezes é desconhecido por parte da população brasileira. Confira o vídeo abaixo!

Dia Nacional do Cerrado

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Emissão Conjunta Brasil e Israel

Texto: Christina Habli Brandão Dutra

Hoje, dia 08 de setembro, é lançada a Emissão Especial Conjunta Brasil – Israel nas redes sociais oficiais dos Correios. A artista do selo é Lidia Marina Hurovich Neiva, que além criar duas belas paisagens em aquarela também tem um história com Israel. “Quando recebi o convite para fazer este selo, fiquei muito feliz, não só pelo selo em si, mas porque o tema tem a ver comigo, com a minha história, já que tenho família morando em Israel há mais de 40 anos. Naquela época em que a minha família se mudou para Israel, nós – meu pequeno núcleo familiar, pai, mãe, meu irmão e eu – nos mudamos para o Brasil, especificamente para o Rio de Janeiro” – relata Lídia.

A artista também conta que o selo foi desenvolvido a partir de duas pinturas em aquarela, reunindo a Praia de Tel Aviv vista de Yafo e a Praia do Recife vista de Olinda. As magníficas paisagens selecionadas para representar ambos os países foram pintadas com a técnica de aquarela tradicional no estilo urban sketching e depois, ao observar a paisagem dos dois países, foi identificado um elemento estético comum, a palmeira, apesar das espécies locais serem diferentes, foi utilizada no selo para unir as duas pinturas.

Primeiro desenho da palmeira aplicada no selo.
Aquarela original da Praia de Tel Aviv vista de Yafo

“Tudo foi feito com muito esmero. A tonalidade da paisagem de Israel foi finamente ajustada em computação gráfica”.

Aquarela original da Praia de Recife vista de Olinda

“Já no lado brasileiro, mantive a exuberância da coloração natural.”

Emissão Postal Especial | Emissão Conjunta Brasil e Israel

As técnicas usadas, aquarela tradicional e nanquim sobre papel com montagem em computação gráfica, giram em torno da união e do equilíbrio da peça, ora ao desenhar uma única linha no horizonte em um céu azul aquarelado dando esse unicidade, ora usando a mesma paleta de cores nas duas praias traduzindo uma coerência cromática. Foram inseridas micro letras com os respectivos nomes das paisagens.

O relacionamento entre Israel e Brasil começou às vésperas do estabelecimento do Estado de Israel, auxiliado pelo estadista brasileiro Osvaldo Aranha, que presidiu a reunião das Nações Unidas em 29 de novembro de 1947 e contribuiu para aprovar a resolução que estabeleceu o estado judeu em Eretz Israel. Embora Israel seja uma das menores nações do planeta e o Brasil é a quinta maior do mundo, as relações bilaterais entre esses dois países estão florescendo.

Eles têm economias compatíveis e suas diferenças permitem uma troca de conhecimentos e recursos com base nos pontos fortes de cada país. Relações diplomáticas completas existem continuamente em todos os campos. Israel e Brasil são sociedades multiculturais de imigrantes pluralistas que apreciam os laços entre pessoas, o sacrifício humano e a unidade que nos fortalecem em nossos momentos mais fortes e fracos. Os países compartilham valores comuns, como o da solidariedade, que tem sido expresso ao longo dos anos em organizações internacionais e por meio de ajuda humanitária e relações diplomáticas.

Para a artista do selo unir esses dois países, intimamente ligados em sua história, tem um papel especial – “A minha felicidade em ter feito esse selo é muito intensa porque fiquei realmente contente em expressar através da minha arte o meu amor por ambos os países. Agradeço realmente a oportunidade de ter participado da elaboração desse selo e espero que todos gostem tanto quanto eu gostei. Todos amem tanto quanto eu amei participar e que as relações diplomáticas entre ambos os países continuem sempre florescendo, crescendo cada vez mais.”

Esta emissão tem tiragem de 400.000 selos gomados com valor facial de R$ 5,00 e folha é composta por 16 selos que já estão disponíveis nas agências de Correios e também na loja virtual.

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Série Independência e o Selo postal dos 200 anos da Revolução do Porto

Texto por Mayra Guapindaia

Hoje, 24 de agosto, entra em circulação o quarto selo da série “Brasil, 200 anos da Independência”, feita em parceria com a Câmara dos Deputados. Nesta emissão, é focalizado um importante evento para compreender o processo da emancipação política do Brasil em relação a Portugal: A Revolução do Porto que, este ano, celebra o seu bicentenário.

Este movimento faz parte do amplo e intricado contexto histórico-político que cercou a Independência brasileira. O Brasil, então já elevado à condição de membro do Reino Unido, juntamente com Portugal e Algarves, possuía grande relevância no Império português. Afinal, o Rei e sua Corte estavam instalados no Rio de Janeiro desde 1808.

Entrementes, alguns grupos sociais portugueses eram a favor da volta de de D. João para a Península Ibérica. Com a derrota napoleônica em 1815, e o fim da ocupação francesa em Portugal, eram diversos os argumentos pelo retorno do Rei, uma vez que a mudança para o Brasil foi justificada devido as ameaças da França.  E esse foi um dos principais objetivos do movimento que tomou lugar em 24 de agosto de 1820, apoiada sobretudo por liberais monarquistas. Outra das suas características era a clara tendência para a moderação do poder real por meio da promulgação de uma Constituição e, por isso, o evento também é conhecido como “Revolução Constitucionalista”. Portanto, é um marco do enfraquecimento da autoridade monárquica e abertura para ideais liberais.

Esta “Revolução” não deve ser entendida com o significado atual que temos da palavra, associado a motim ou tumulto. Na verdade, foi um evento pacífico, liderado por militares. Os próprios idealizadores do movimento temiam uma associação com Revolução Francesa e seus ideais anti-monárquicos. A ideia era manter a monarquia portuguesa, embora com poderes limitados pela carta constitucional. Por isso, preferiam o termo “regeneração” (CARDOSO, 2019, p.19).

Com a deflagração dos eventos em Lisboa, em 15 de setembro, o próximo passo foi a convocação das Cortes, que não ser reuniam desde 1689, para a elaboração da Constituição. Por fim, D. João VI concordou em retornar à Portugal e jurar fidelidade à nova carta constitucional e ele e sua corte zarparam do Rio de Janeiro em 26 de abril de 1821.

Em um primeiro momento, boa parte das províncias brasileiras foram favoráveis à Revolução e aderiram a sua causa. Inclusive, na reunião das Cortes Constituintes em 1821, responsáveis por elaborar o texto da nova Constituição, contaram com deputados brasileiros que, até o último momento, defenderam a união luso-brasileira. Contudo, estes representantes buscavam um acordo que favorecesse a liberdade política das províncias, como, por exemplo, a formação de uma Regência com nomes indicados pelos governos provinciais (BERBEL, 2006, pos.2252). De uma maneira geral as províncias, buscando autonomia de governo frente à centralização do poder no Rio de Janeiro, então capital, foram favoráveis, até certo ponto, aos ideais constitucionais (ENDERS, 2015, Pos. 411).

Contudo, uma região bastante prejudicada pelos planos constituintes foi, justamente, o Rio de Janeiro, que então perderia a autoridade enquanto capital. Era defendido, dentre outras questões, o fim das instituições centrais construídas na cidade desde 1808 (Idem, pos.432). Então, agentes políticos antes a favor da manutenção do Império, passaram a se inclinar cada vez mais à separação política entre Brasil e Portugal.

Aos poucos, preocupadas com a perda de autonomia diante da inflexibilidade das Cortes reunidas em Lisboa, muitas províncias também aderiram a este plano e voltaram para a órbita de influência do Rio de Janeiro (Idem, pos.449). Contudo, locais como Bahia, Maranhão e Pará, se mantiveram fiéis à causa portuguesa, sendo que a adesão aos planos independentistas ocorreu nesses lugares somente a partir da intervenção militar (BERBEL, 2006, pos. 2304).

Portanto, a Revolução do Porto deve ser entendida a partir da complexa conjuntura política do Império luso-Brasileiro naquele momento. A Independência, que ocorrerá nos passos posteriores a esse evento, não era um plano claro e definido a princípio, e foi sendo estruturada enquanto possibilidade no desenrolar dos fatos. Mesmo em 1820, a opção pela separação ainda não era clara ou mesmo a melhor opção para diversos grupos políticos que então estavam em debate. É importante, portanto, inserir essa parte da história do Brasil na longa duração (PIMENTA, 2008, p.85).

A partir desta discussão, podemos então analisar este selo postal, em conjunto com os outros da série. É perceptível, justamente pelo caráter seriado dos mesmos e a alusão à eventos anteriores a própria Independência, que há a preocupação em mostrar esta parte da história brasileira como um processo. Assim, não compartilha a ideia de que a mesma foi apenas um evento isolado, fruto de vontades individuais.

Além disso, a emissão serve como importante meio de divulgação de uma fonte iconográfica da época, e sua observação pode nos levar a refletir sobre como as pessoas daquele período pensavam a Revolução Constitucionalista. O selo traz uma das gravuras de Constantino Fontes (1777 – 1840), a qual faz parte de uma série de desenhos, baseados nas obras de Antonio Maria da Fonseca intitulada “Alegoria à Constituição”. O que vemos na imagem é, justamente, uma representação artística dos acontecimentos de 24 de agosto de 1820. Atualmente, estas e outras gravuras fazem parte do acervo da Sociedade Martins Sarmento, em Portugal.

O selo e a gravura nele reproduzida são subsídios para ajudar a pensar a história da Independência, bem como o contexto social e político deste momento peculiar. A observação deste pequeno pedaço de papel pode levar aos colecionadores, ou mesmo a alunos em sala de aula, incentivados pelo professor, a pensar quais as características deste evento histórico, qual a influência do pensamento liberal neste processo, que tipo de Constituição os deflagradores do movimento pretendiam promulgar e por quais motivos, e qual o diálogo deste evento com a separação entre Brasil e Portugal. Por fim, pode ser útil também à análise de qual tipo de representação imagética este e outros selos da série dão à Independência, ou seja, como este processo vem sendo reconstruído por mídias como o selo postal nas vésperas dos seus 200 anos. Nos outros três selos da série, é possível ver mais alguns eventos que estão ligados ao processo de Independência: Bicentenário de D. Leopoldina, Bicentenário da Aclamação de D. João VI e Bicentenário do retorno de José Bonifácio ao Brasil. Estes, é claro, não esgotam as inúmeras abordagens que podem ser feitas sobre a temática, e são, como toda fonte histórica, um recorte que serve à reflexão de como o evento histórico é atualmente retratado.



Referências

BERBEL, Márcia Regina. Os apelos nacionais nas cortes constituintes de Lisboa (1821/22). In: MALERBA, Jurandir (org) A Independência brasileira: novas dimensões. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. Edição do Kindle. Pos.1977-2336.

CARDOSO, José Luís. A Revolução Liberal de 1820. Lisboa: CTT, 2019.

ENDERS, Armelle. Os Vultos da Nação: fábrica de heróis e formação dos brasileiros. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2014. Edição do Kindle.

PIMENTA, João Paulo. A Independência do Brasil e o liberalismo português: um balanço da produção acadêmica. Revista Digital de História hibero-americana. Vol 1, n.1, 2008, pp. 70-105.

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Dia do Selo é comemorado com Selo Personalizado

Texto: Christina Habli Brandão Dutra

Este ano, mais um selo se junta ao hall do imaginário às principais interpretações e sentimentos que marcam as comemorações do selo postal brasileiro. Hoje é lançado um selo personalizado do Dia do Selo, que através de doodles, indica de forma aleatória a trajetória de concepção, criação e os processos do selo. A designer Jamile Costa Sallum dá destaque aos selos nacionais e à Filatelia, por meio do agrupamento de diversos elementos deste universo.

Confira o lançamento desse selo personalizado página oficial dos Correios no Instagram e conheça mais curiosidades sobre essas pequenas obras de arte. Esse selo personalizado já está disponível na loja online  aumente a sua coleção ou quem sabe comece uma nova. 

Selo personalizado lançado em 01/08/2020

Os desenhos evidenciam, com leveza e dinamismo, como um fluir de pensamentos, as inúmeras inspirações que podem se transformar em emissão filatélica. Afinal, há selo pra tudo! E à medida que os selos caíram no gosto das pessoas, sugestões para motivos que chegam da população nunca faltaram. Vinham por cartas e, com a internet, agora é só entrar aqui no Blog da Filatelia e fazer a sua sugestão para selo comemorativo ou especial em “Sua Ideia Pode Virar Selo”. Faça sua ideia criar asas, ela pode voar pelo mundo em uma emissão. 

Este ano, as comemorações do Dia do Selo são inspiradas no passo-a-passo para a criação das emissões postais. O processo de criação dos selos comemorativos ou especiais tem diversas fases. Tudo começa quando uma pessoa (física ou jurídica) de qualquer parte do mundo imagina um motivo para selo, acessa o sistema “Sua Ideia Pode Virar Selo”  e cadastra  sua ideia (proposta).

De janeiro a fevereiro de cada ano, a equipe de Filatelia avalia todas as ideias (propostas recebidas) de selos do ano seguinte, uma por uma, agrupando aquelas que possuem o mesmo tema, e eliminando aquelas que são impossibilitadas de virar selo, seguindo critérios técnicos e regulatórios. 

O próximo passa é submeter as propostas válidas para a Comissão Filatélica Nacional – CFN, órgão que tem a missão de escolher 08 (oito) propostas para os selos postais brasileiros, o que ocorre no mês de março de cada ano. 

Já os selos personalizados possuem um processo mais simples. Basicamente, qualquer um pode ter um selo personalizado e nele colocar qualquer imagem ou arte de seu gosto ou interesse, bastando para isso entrar em contato com os Correios para saber dos detalhes da produção e custos.

Hoje em dia os selos podem divulgar as artes, a cultura, as ciências bem como os gostos individuais e eventos importantes do cotidiano de cada um de nós. Foi uma longa jornada, desde os olhos-de-boi até a criação da filatelia, dos selos comemorativos e especiais e, por fim, dos personalizados. Tudo isso merece ser comemorado no dia do selo!

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Dia do Selo: do Olho-de-Boi às comemorações do selo postal brasileiro

Texto por Mayra Guapindaia

Os segundos selos do mundo são brasileiros e foram lançados apenas três anos após seu antecessor, o Penny Black, inglês. Os Olhos-de-Boi, assim chamados devido ao formato arredondado aonde figuravam apenas as tarifas de 30, 60 e 90 réis, entraram em circulação no dia 1º de agosto de 1843, quando atualmente se comemora o Dia do Selo. A data foi escolhida por ser aniversário do selo pioneiro, mas, atualmente, celebra não só os Olhos-de-Boi, e sim todos os selos postais brasileiros e a prática do colecionismo. O surgimento desta comemoração deve ser entendido como um processo histórico, pois a prática de colecionar selos é posterior à criação do mesmo. Ou seja, inicialmente, os selos postais foram lançados como comprovantes de franquia e não como item de colecionismo. As evidências da existência da filatelia no Brasil datam dos últimos anos do século XIX, quando surgiram os primeiros clubes filatélicos (ALMEIDA, 2003, p.28). Além disso, os selos comemorativos, atualmente os mais associados ao colecionismo, apareceram pela primeira vez no país em 1900. Portanto, o surgimento do Olho-de-Boi e o entendimento do 1º de agosto como um dia para comemorar todos os selos do Brasil não são eventos coincidentes e a comemoração é uma construção posterior.

A primeira celebração do “Dia do Selo” foi uma concepção do período do Estado Novo, no governo autoritário de Getúlio Vargas (1937-1945). O surgimento do selo brasileiro foi lembrado em 1943, por conta do seu centenário, em um bloco no qual, além da releitura dos Olhos-de-Boi, pode-se ver a figura de D. Pedro II ao lado de Vargas. Percebe-se que, apesar do foco ser os primeiros selos postais, já há uma extrapolação da temática para todos os selos, conforme pode-se observar no título “1º Centenário do selo no Brasil”. Além disso, é evidente o caráter personalista da peça, típica do período do Estado Novo. A equiparação de D. Pedro II e Getúlio Vargas atendia à lógica da época que dava destaque para as ações daqueles entendidos como os “grandes homens” da história, normalmente associados a eventos políticos.

01/08/1943: Primeira homenagem aos Olhos-de-Boi e ao selo brasileiro

A tendência de utilizar o aniversário do 1º selo brasileiro para abordar a filatelia de forma mais ampla afirmou-se ainda mais na emissão de 01/08/1953, lançada em homenagem ao Dia do Selo e para marcar a 1ª Exposição Filatélica Nacional de Educação do Rio de Janeiro. Ou seja, vemos a data, o aniversário do Olho-de-Boi, associada a outros elementos do universo filatélico, neste caso, uma exposição.

Selo lançado em 01/08/1953 para marcar o Dia do Selo e a 1ª Exposição Filatélica Nacional de Educação

Em 01/08/1961 são lançados selos bastante curiosos, os quais confirmam ainda mais a construção de um novo sentido de comemoração mais alargada. A emissão celebra o centenário dos “coloridos”, emitidos na época do Império, posteriormente aos Olhos-de-Boi. Percebam, contudo, que esta releitura foi lançada justamente no aniversário do primogênito. Isso indica clara extrapolação do Dia do Selo para algo além da celebração da primeira emissão brasileira. Vale ressaltar que os “coloridos” entraram em circulação não no dia 1º de agosto, mas em 22 de julho de 1854, para portear cartas para a França (valor de 280 réis) e outros países da Europa (valor de 430 réis) (RIBEIRO, 2003). Contudo, eles foram homenageados por conta do seu centenário no 1º de agosto, já então consagrado como o “Dia do Selo Brasileiro”.

Selos lançados em 01/08/1961 – Centenário dos “Coloridos”

A comemoração se solidificou ainda mais nos anos posteriores. Especificamente, foi a partir de 1968 que se tornou comum a emissão de um novo selo em todo 1º de agosto. Daí em diante, emissões relativas ao Dia do Selo passaram a ser anuais e frequentes até 1982. (SOUZA, 2006, p. 230).

Selo em homenagem ao “Dia do Selo”, 1968

Interessante notar que a emissão de 1968 traz outros elementos da história postal que ajudam a compor a própria narrativa do selo, entendido como parte de um contexto mais amplo: uma caixa de correspondência do Império colocada sobre um fundo com os contornos de um envelope. O texto do edital, menciona “o famoso” Olho-de-Boi, adjetivo escolhido para exaltar a experiência brasileira de ter emitido o segundo selo postal do mundo. Mais do que nunca, os selos daquele ano em diante tiveram o propósito não de relembrar a primeira emissão brasileira em específico, mas sim chamar a atenção para a filatelia de um modo geral.

Apesar das várias releituras do selo pioneiro lançadas em alguns 1º de agosto, isso não se tornou regra, havendo espaço para outras imagens relacionadas ao universo do selo e da filatelia. Como boa parte das datas comemorativas, também o Dia do Selo foi uma construção posterior ao fato, e os sentidos atribuídos à celebração passaram a se alargar para englobar questões relacionadas ao presente, ou seja, a necessidade de se divulgar a filatelia brasileira como um todo. Inclusive, o artifício de homenagear o jubileu de outros selos, como em 1953, foi novamente utilizado em 1981 (Centenário do selo D. Pedro II “Cabeça Pequena”) e 1989 (120 anos da emissão D. Pedro II).

Alguns selos em homenagem ao Dia do Selo lançados nos anos 1970 e 1980

Se as emissões do “Dia do Selo” muitas vezes não trouxeram em sua arte o Olho-de-Boi, também a homenagem a ele não se restringiu ao seu dia. Podemos perceber que ele aparece em artes que comemoram outras datas, como aniversários de clubes e sociedades filatélicas e em emissões que divulgam exposições, o que acabou por interligar ainda mais a imagem do selo pioneiro brasileiro ao colecionismo. Abaixo podemos ver algumas emissões que trazem o primeiro selo, mas que não foram lançadas no dia 1º de agosto. O destaque vai para o bloco do centenário do Penny Black, lançado no aniversário do selo inglês, que figura ao lado de uma releitura do exemplar de 30 réis.

Bloco lançado em 18/12/1981, no aniversário do Clube Filatélico
Bloco lançado em 03/05/1993 – para marcar os 150 anos do Penny Black e também a Exposição Filatélica Internacional de Londres

Outro importante conjunto de selos diz respeito àqueles que foram lançados para anunciar exposições filatélicas como a Brasiliana e a Lubrapex. Esse são os casos de emissões de 1993, e de uma série mais recente, lançada entre 2011 e 2013. Somente no primeiro selo da série, de 2011, não há a associação ao Dia do Selo, pois a imagem de 60 réis foi usada para marcar o aniversário da Sociedade Filatélica Brasileira, e por isso o lançamento se deu em 18 de novembro daquele ano. Contudo, os próximos selos e blocos foram lançados todos em 1º de agosto, trazendo também o elemento de divulgação da Lubrapex 2012 e Brasiliana 2013.

Bloco lançado em 29/07/1983, durante a Brasiliana
Bloco Brasilana 93. Lançado em 30/07/1993, durante a Brasiliana
Selo lançado em 18/11/2011 – Aniversário da Sociedade Filatélica Brasileira
Selo lançado em 01/08/2012 – Para anunciar a LUBRAPEX, que ocorreu entre 10 e 18 de novembro daquele ano
Bloco lançados em 01/08/2013 – para anunciar a Brasiliana, que ocorreu entre 10 e 25 de novembro daquele ano
Selo Brasiliana 2013

Por meio da análise desse conjunto de selos lançados ao longo do tempo, foi possível perceber que o Dia do Selo, tal como conhecemos hoje, juntamente com os elementos que a data evoca são sobretudo fruto de um processo histórico. Especificamente, a comemoração é uma concepção do século XX, quando então se tentava promover a filatelia para alcançar mais pessoas. Certamente não foi pensada pelos homens de 1842. Os primeiros passos para a construção da data se derem na celebração do centenário dos Olhos-de-Boi. A partir daí, e cada vez mais, esta se tornou um evento universalizado, usado para construir novas celebrações da cultura filatélica brasileira.

Referências:

ALMEIDA, Cícero Antônio de. Os correios e os selos postais no Brasil. In:_______; VASQUEZ, Pedro KARP. Selos postais do Brasil. São Paulo: Metalivros, 2003, p.60-75.

CYRELLI, Hellder de Souza. Os cartões de visita do Estado. A emissão dos selos postais e a Ditadura Militar Brasileira. UFRGS, tese de mestrado. Porto Alegre, 2006.

RIBEIRO, Antônio Sérgio. Olho-de-Boi, o primeiro selo do Brasil, completou 160 anos. Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=281158

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7 Milhões de Voltas ao Redor do Mundo

Por Altemar Henrique de Oliveira

No final de 2009 publiquei um artigo de quatro páginas na edição nº 215 da Revista COFI – Correio Filatélico, importante publicação dos Correios do Brasil para incentivo da Filatelia e outras práticas de colecionismo – sobre a iniciativa de um jovem lusitano que, tal como os pioneiros navegadores descritos por Camões, adorava viajar e também receber cartões-postais. Em função de sua paixão, ele criou algo inovador: uma plataforma dentro da internet para trocar cartões-postais!

Sim, cartões-postais de papel! De verdade! Nada virtual! O nome da comunidade criada era Postcrossing e, até 15/10/2009 – a data do artigo da COFI – os cartões-postais trocados pelos participantes daquela atividade lúdica já tinham percorrido 426 mil voltas ao redor do mundo. A ideia me pareceu tão inusitada que também resolvi participar da brincadeira. Foi divertido encaminhar os postais e recebê-los da Holanda, da China, do Canadá, dos EUA, da Alemanha, da Croácia, da Rússia, da Austrália, de Luxemburgo e, inclusive, de Portugal. Com o tempo, como normalmente acontece em nossas vidas, acabei indo cuidar de “assuntos de gente grande”.

Mas voltei! Mais de 10 anos se passaram depois da publicação do artigo, quando fiquei sabendo que os Correios lançariam um selo postal justamente em homenagem ao Postcrossing. Ainda que tantos de nós teimosamente continuemos a ignorar o assunto, a iniciativa sobrevive firme e forte mesmo após 15 anos da concepção original. No dia 15/10/2009 eram 133.665 participantes espalhados por 205 países que se orgulhavam de já ter recebido 3.115.379 cartões-postais, objetos que, juntos, teriam viajado 17 bilhões de quilômetros. Mesmo em um mundo em que cada vez mais predomina as relações virtuais e o impessoal, forçando o contato físico se reduzir à fluidez fugaz da modernidade líquida de Zygmunt Bauman – fatores agravados ainda mais pela pandemia de covid-19 – no dia 04/07/2020, o número de membros do Postcrossing era quase 6 vezes maior: 791.904 pessoas de 206 países diferentes fazendo com que mais de 40 milhões de postais já percorram cerca de 289 bilhões de quilômetros – uma distância 17 vezes maior do que a de 11 anos atrás.

Os russos parecem ser agora os maiores apaixonados pela ideia. Se, há pouco mais de dez anos, eram os finlandeses que lideravam o ranking de troca de cartões, atualmente Rússia e Taiwan são os países que ocupam as duas primeiras posições, únicos com mais de 100 mil usuários cadastrados. Se o Brasil era o oitavo país em 2009, infelizmente despencou para a 20º posição com 8.983 participantes, mas ainda fica bem a frente da Argentina, com apenas 681 postcrossers.

A finlandesa de nickname Linus que então era a recordista mundial de envios, com 1.861 postagens, parece ter interrompido suas trocas em 2010 – torcemos que não seja pela pior razão possível. Com “apenas” 2.101 cartões-postais agora enviados, ela foi ultrapassada por muitos outros postcrossers, principalmente o novo líder do ranking mundial, um alemão de 59 anos chamado Wilhelm que já tinha enviado, até o início do mês de julho deste ano, 29.770 cartões-postais para 174 países diferentes, 333 deles especificamente para o Brasil.

Dentre os brasileiros, Karina Bueno, a jornalista paulista que entrevistamos no mesmo artigo de 2009 como a maior postcrosser do Brasil, passou de 528, naquela ocasião, para os atuais 1.415 postais. Quase triplicou seus envios, o que não foi suficiente para mantê-la sequer entre os 10 maiores postadores do Brasil, cujo ranking agora é liderado pelo morador de Belo Horizonte, Celio Andrade. Desde 2005, Célio já enviou 6.290 cartões-postais para os mais diversos países do mundo.

As regras para participar continuam sendo muito simples: após efetuar o cadastro inicial, solicita-se um endereço aleatório de destino do seu primeiro cartão-postal. De posse dos dados, basta ir até uma agência dos Correios para adquirir e enviar o postal, tomando o cuidado de não esquecer de identificar o objeto com o código alfa-numérico gerado pelo site, o qual será utilizado pelo destinatário para registrar que recebeu seu cartão-postal. Tão logo é efetuado o registro eletrônico do cartão recebido, o remetente passa automaticamente a ser o destinatário de um novo, que virá aleatoriamente de qualquer lugar do planeta. Mas o usuário não precisa esperar o seu cartão chegar para efetuar novas postagens e, prevalecendo a máxima franciscana do “é dando que se recebe”, quanto mais cartões forem enviados, mais serão recebidos.

A sensação de receber um objeto físico que veio do outro lado do mundo, de uma pessoa da qual nunca se ouviu falar e que talvez nem entenda o seu idioma é indescritível, o que faz a troca se tornar ainda mais emocionante. Além disso, a partir do primeiro cartão-postal as relações interpessoais podem continuar tornando-se mais intensas, criando laços duradouros de amizade ou até mesmo… uniões matrimoniais.

Ana Campos, também portuguesa, criadora da imagem visual do projeto e uma das envolvidas no desenvolvimento e gestão, durante uma apresentação sobre o Postcrossing em evento TEDx na cidade do Porto, em 2014, explicou sobre o cuidado com que as pessoas buscam o postal perfeito, de como elas escolhem o selo mais adequado e procuram escrever as palavras mais atenciosas possíveis… toda uma aparentemente inexplicável preocupação com detalhes para enviar algo para alguém que você talvez nunca verá em toda a sua vida. Nas palavras dela: “As pessoas o fazem porque sabem que vai fazer alguém feliz, que esse postal vai ser especial para elas. É um pequeno ato altruísta: fazemos qualquer coisa por alguém, sem esperar nada em troca. Isso faz-nos fazer sentir bem com nós próprios.”

O jovem lusitano que citamos no início deste texto é Paulo Magalhães. Com esse projeto criativo ele conseguiu atender uma de suas necessidades mais básicas: encher sua caixa de correio de cartões-postais. Formado em Engenharia de Informática, ele se definia como um nômade depois de viver em lugares tão diferentes como Holanda, EUA e China, além de sua própria terra natal. No meu artigo original, o considerei uma espécie de Infante Dom Henrique, o nobre português da dinastia de Avis que, no século XV, fundou e conduziu a Escola Náutica de Sagres, sem a qual não teria ocorrido o expansionismo marítimo de Portugal, que não só fez daquele país uma das maiores potências econômicas dos primórdios do mundo moderno como viabilizou a chegada dos portugueses no Brasil. As grandes navegações portuguesas agora acontecem por meio dos cartões-postais do Postcrossing e já somam mais de 7 milhões de voltas ao redor do mundo.

Parabéns Paulo Magalhães e Ana Campos pelos 15 anos dessa iniciativa fantástica e que ela continue a integrar seres humanos dos mais distantes recantos do mundo por muitos e muitos anos, possibilitando tanto resgatar o antigo prazer de dar e receber um cartão-postal com mensagens pessoais únicas, como também “transformar a caixa de correio numa pequena caixa de surpresas!”

Emissão Postal Especial Postcrossing –
Arte de Daniel Lourenço

Sobre o Selo: A ilustração do selo mostra duas pessoas trocando postais. Para demonstrar a aleatoriedade da prática, postais foram colocados como se estivessem caindo de ambos os lados. A arte retrata Lisboa, capital do país onde foi criado o Postcrossing, e Paris, cujo monumento Torre Eiffel é um ponto turístico reconhecível em qualquer lugar do mundo. Um dos postais que aparecem no selo retrata o Rio de Janeiro com o Cristo Redentor. Deste modo, o Brasil também está representado. A linha pontilhada que passa por todo o selo remete às viagens pelo mundo e também ao globo terrestre. As técnicas utilizadas foram nanquim, aquarela, marcador e lápis de cor.  Adquira o seu em nossa Loja Virtual

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Selos postais e saúde pública combate à COVID-19

Texto por Mayra Guapindaia

No dia 8 de julho comemora-se o dia nacional da Ciência e o dia nacional do pesquisador científico, ambos instituídos em lei federal no Brasil (Lei No 10.221, De 18 de abril de 2001 e Lei Nº 11.807, de 13 de novembro de 2008, respectivamente). A data foi oficialmente escolhida por marcar a criação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em 1948. A SBPC surgiu a partir da iniciativa de cientistas da Sociedade Brasileira de Medicina que, no contexto do pós Segunda Guerra Mundial, reconheceram a necessidade da institucionalização da ciência no Brasil, haja vista os avanços nesta área serem necessários para a recuperação social e econômica em todo o mundo. A própria criação desta data comemorativa nos demonstra a importância da medicina e da ciência, essencial no contexto atual em que vivemos. Além disso, é importante destacar que este mês de julho possui outras datas comemorativas também relacionadas a este universo, como, por exemplo, o dia dos hospitais (2/07) e o dia do socorrista (11/07).

A divulgação científica pelos selos postais revela como novas descobertas e entendimentos na área da saúde são prioritários para combater a desinformação e salvar vidas. Por isso, o lançamento da emissão “Combate à COVID-19” neste dia 8 de julho está inserida em um momento bastante singular vivido atualmente por todos nós. Feito em parceria com a OPAS/OMS, este bloco de seis selos focaliza os principais pilares para combater a epidemia: a busca por informações em meios de comunicação confiáveis, atenção aos principais sintomas da COVID-19, homenagem aos profissionais dos serviços essenciais e profissionais de saúde e, por fim, a importância da ciência. Destaque para os selos que focalizam os trabalhadores que continuam em suas funções para garantir a segurança e bens necessários para este período de pandemia, no qual a maioria deve, se possível, ficar em casa. Médicos, enfermeiros e suas equipes, além de entregadores, bombeiros, socorristas, garis e, é claro, os carteiros. Outro ponto alto é o selo no qual está representado o profissional da ciência. Como este é um vírus novo para o qual os seres humanos não têm imunidade, e pode ser letal, as pesquisas científicas são vitais para o desenvolvimento de testes e, principalmente, da vacina. No centro da vinheta, está ilustrada a sociedade civil representada a partir da realidade necessária do isolamento social. Na parte inferior, em pictogramas, existem outras importantes recomendações e formas de prevenção.

Como já divulgamos anteriormente na série “Selos Postais e Saúde Pública” (ver posts aqui e aqui), ao longo da história, os selos sempre divulgaram importantes campanhas. Ou seja, eram uma forma de conscientizar, por meio de imagens e textos assinados por instituições governamentais ou científicas, os principais meios de combate a doenças que afligiam a sociedade brasileira. O bloco “Combate à COVID-19” também cumpre esta função a partir da disseminação das melhores medidas a serem tomadas por todos, a partir de informações cientificamente validadas em todo o mundo e que devem ser seguidas também em nosso país.

Aproveitamos para apontar a importância de outros selos postais relacionados à temática “saúde”, que podem ser conhecido por meio dos seus editais na exposição virtual do Museu dos Correios Editais de Selo: um Registro da Saúde No Brasil

O bloco “Combate à Covid-19” nos ajuda a pensar em diversos pontos da realidade presente, que tangenciam as questões de saúde no mundo. No que diz respeito a questões relacionadas à equidade social, vemos na arte do bloco maior igualdade entre homens e mulheres e entre raças, pela ocupação de profissões variadas por pessoas pertencentes a estes grupos. Além disso, todas as mensagens passadas por imagens e por frases buscam comunicar de forma objetiva o que atualmente a ciência prega para evitar o contágio. É destacado o entendimento de que estamos todos juntos e, por isso, cada um deve fazer sua parte para proteger suas vidas e as dos demais.

SEJA CONSCIENTE, SEJA RESPONSÁVEL, SEJA SOLIDÁRIO! #JUNTOSVENCEREMOS

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Selos do correio aéreo e a comunicação à distância pelo ar

Texto por Mayra Guapindaia

Durante muito tempo, os locais do mundo separados por grandes distâncias marítimas só podiam manter a comunicação pela via dos oceanos. Foi assim que, até a primeira metade do século XX, o Brasil manteve suas principais relações comerciais, por meio de navios que deixavam e chegavam nos principais portos, vindos de lugares diversos. Durante o período da colonização, o entreposto com a Europa era feito sobretudo por meio de Portugal. A partir da abertura dos Portos, em 1808, as embarcações saídas do Brasil puderam navegar diretamente para outras regiões europeias. O contato com o continente Africano também era frequente, alimentado sobretudo pelo tráfico de escravos.

Não somente o comércio era ditado pelo ritmo marítimo, mas também quase todo e qualquer contato humano além-mar. Neste sentido, o correio marítimo desempenhou um papel crucial. Envio de cartas, livros, recebimentos de notícias, tudo era carregado por embarcações, as quais, até o século XIX, podiam demorar de dois a quatro meses no percurso entre Brasil e Portugal. Este tempo só foi diminuído a partir da navegação a vapor, responsável por tornar a comunicação e o comércio mais ágil. O século XX, contudo, traria um meio de transporte responsável por revolucionar as noções de distância: o avião.

Paralelamente a este processo, foram desenvolvidos selos postais exclusivos para cartas enviadas por avião, o que deu por sua vez origem à um ramo do colecionismo chamado “aerofilatelia”. Os selos postais aéreos são documentos deste período histórico bastante específico, no qual o mundo passa a se interligar de forma cada vez mais rápida pelo ar. É um novo momento para a globalização, marcado pela adição do espaço aéreo ao marítimo e terrestre. Estes selos possuem a característica particular de muitas vezes terem sido impressos pelas próprias empresas aéreas. Por eles eram cobrados, além do porte, uma taxa extra que tinha como intuito ser investido no correio por ar (GASTAL, 2009, p.10).

O desenvolvimento do correio aéreo está inserido no contexto da expansão global da comunicação e da busca de novos mercados a partir do fim da Primeira Guerra Mundial. Foi neste momento que surgiram diversas empresas europeias preocupadas em redirecionar os aviões de guerra em meios para o transporte de correspondência e mercadorias. No Brasil, em 1927 foi feito o primeiro voo comercial, operado pela Sindicato Condor, empresa alemã que buscava expandir seu mercado para a América Latina. Em 22 de fevereiro, o hidroavião Atlântico fez o primeiro transporte de cartas por avião, em uma viagem entre Porto Alegre e Pelotas, no Rio Grande do Sul (ALMEIDA, 2003, p.104). No mesmo ano, em março, foi autorizado o funcionamento de uma linha postal aérea brasileira pelo Ministério da Viação, a ser realizada pelo Condor Syndicat. Os selos postais específicos para as cartas transportadas por avião foram lançados em 8 de novembro deste ano, impressos na Alemanha e exclusivos da Sindicato Condor para a linha entre Porto Alegre e Rio de Janeiro (idem).

Primeiro selo da Sindicado Condor de 8.11.1927
Selo de 9.01.1930 com a imagem de Victor Konder

No mesmo ano, em maio, foi criada a primeira empresa comercial aérea brasileira, a Varig, também por iniciativa de um alemão, Otto Meyer. Esta companhia também contou com a emissão de selos postais exclusivos. Em junho, devido aos acordos entre a empresa brasileira e a Condor, o hidroavião Atlântico foi transferido para posse da primeira. A Varig também passou a operar a “linha da Lagoa”, como ficou conhecida a rota entre Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, em referência à Lagoa dos Patos. Os selos postais desta companhia foram inicialmente provisórios, sendo aplicada uma sobrestampa em selos da Sindicato Condor. Selos exclusivos, impressos na Editora Globo, em Porto Alegre, com a figura de Ícaro, passaram a existir a partir de 1931 (GASTAL, 2009, p.12).

A estampa que indicava uso da sobretaxa para serviço aéreo foi comum. Inclusive, durante algum tempo, eram aplicadas em selos já existentes para indicar que eram de uso exclusivo do transporte de cartas por aviões. Este foi o caso dos selos oficiais “Marechal Hermes”, lançados pela primeira vez em 1913, que aparecem com sobrestampa do serviço aéreo a partir de 1927.

Os primeiros voos internacionais para a costa brasileira foram realizados a partir da exploração francesa, por meio da Lignes Aériennes Latecoère, posteriormente transformada em Compagnie Générale Aéropostale – CGA. Os primeiros voos que pousaram do oceano atlântico em Natal/RN foram realizados por esta companhia. Ela foi criada em 1918, após o fim da Primeira Guerra, quando o engenheiro Pierre-Georges Latécoère sugeriu ao governo francês a criação de uma linha aérea comercial entre França, Marrocos, Senegal e América do Sul. Latéocère produziu aviões de guerra para o exército francês e, nos tempos de paz, decidiu empreender esforços no sentido de criar rotas de aviões para ligações de comércio. O primeiro voo da “Linha”, como ficou conhecida, se deu em 25 de dezembro de 1918, entre Tolouse e Barcelona (MUSEU, 2009, p.46).

Em 1919 as expedições foram alargadas para a África do Norte, quando foi inaugurada a linha Tolouse-Barcelona-Rabat (Marrocos) e, no ano seguinte, Casablanca, também no Marrocos, foi incluído no percurso. Neste contexto é iniciada a contratação das Linhas Aéreas Latécoère pela Administração dos Correios, e as cartas passaram a ser transportadas por esta companhia. Aviões de guerra (Breguet XVI) foram adaptados, recebendo caixas de armazenamento de correspondência abaixo das asas (MUSEU, 2009, p.47).

Os planos continuaram tendo em vista o objetivo final de expandir a rota até a América do sul. Para isso, Pierre Geroges Latécoère contratou o capitão Joseph Roig para uma missão de reconhecimento para possível abertura de rota. A expedição durou cerca de três meses, quando diversos aviões cruzaram territórios argentinos e brasileiros e foi feito um plano de rota postal. Contudo, a ambição de uma linha para a América do Sul só se concretizaria anos depois (MUSEU, 2009, p.50).

Em 12 de maio de 1930 foi realizada a primeira viagem de travessia do Atlântico sul no hidroavião Laté 28-3, o Comte de la Valux, pilotado pelo aviador francês Jean Mermoz. O ex-piloto da Aeronáutica foi um dos melhores à trabalho na Aeropostàle, realizando 24 viagens de travessia do Atlântico entre 1930 e 1936 (p.55). À bordo, eram carregadas mais de 100 kg de cartas (Teixeira, p.53). O percurso foi entre Saint-Louis, no Senegal e Natal-RN, no Brasil. A empreitada foi iniciativa da empresa Áeropostale. Os planos da empresa de aviação para expandir os voos para a América do Sul foram finalmente concretizados. Antes disso, o correio saído do Senegal para o Brasil era feito por navio e a viagem durava 4 dias. Mermoz, por ar, conseguiu reduzir o percurso para 21 horas, chegando à Natal em 13 de maio pela manhã. O piloto continuou a trabalhar regularmente para a Aeropostale até ser vítima de um acidente aéreo no Atlântico, na qual foi impossível localizar qualquer vestígio. Desde então, o piloto foi bastante homenageado, sendo motivo de selos postais franceses e de diversos lugares da América Latina (MUSEU, 2009, p.55).

Miniatura do Avião Laeté – 28 Comte de la Valux. Acervo do Museu dos Correios.

Após a primeira experiência francesa, se tornou comum a exploração de rotas aéreas via Natal-RN por outras companhias europeias, sobretudo da Alemanha (Condor), EUA (Pan Am) e Itália (LATI). Esses voos inicialmente eram destinados para o envio de correspondências e encomendas, passando a comportar passageiros somente em 1936. É importante notar que os países europeus a realizarem estas viagens são as principais relações comerciais do Brasil naquele momento, e também participantes em polos opostos da Segunda Guerra Mundial que aconteceria após alguns anos (França e Estados Unidos faziam parte dos Aliados, enquanto Itália e Alemanha, do Eixo). Nesta conjuntura de disputas imperialistas, estas empresas sempre voltaram os olhos pare territórios dos continentes africanos e americanos. E, neste sentido, foi também possível realizarem outras conexões entre Brasil e África, anteriormente ligados pela questão da escravidão. Os novos percursos partiram sobretudo do Senegal, pois este país e o Brasil foram inseridos na rota de empresas aéreas que se interessavam na ligação comercial entre Europa, África e América.

Selos postais aéreos de 1929

Os selos aéreos foram lançados regularmente entre 1927 e 1934. Após este período, passaram a ser utilizados selos comemorativos ou regulares para esta função, e alguns traziam na sua indicação a legenda de serviço aéreo. O último selo com a indicação de aéreo é de 1966 e retrata o quadro Juventude de Eliseu Viscontini.

Selo comemorativo de 1939, em homenagem à criação da mala postal Brasil-EUA

Selos comemorativos com a indicação de “aéreo”

Último selo postal aéreo, de 1966

O correio aéreo também foi marcado com a inauguração da rota comercial do dirigível Graf Zeppelin para o Brasil, em 18 de maio de 1930. Foi um vôo de Frieddichsjaven, Alemanha, para o Rio de Janeiro, com escalas por Sevilha e Recife. Para garantir o porteamento das correspondências carregadas, foram impressos selos específicos na Alemanha. Alguns selos deste estilo trazem a sobrestampa “USA”, utilizada na viagem de volta do Zeppelin para a Europa, quando realizava escala nos Estados Unidos (ALMEIDA, 2003, p.104-105).

Selos Graf Zeppelin, de 1930

Por fim, é necessário destacar a atuação do Correio Aéreo Nacional, iniciativa militar dos anos 1930 que foi responsável por ajudar a integrar territorialmente as vastas dimensões continentais brasileiras por meio do avião. Em 12 de junho de 1931 o Correio Aéreo Nacional funcionou pela primeira vez, e o avião Curtiss Fledgling K263 levou cartas do Rio de Janeiro para São Paulo. A partir dessa primeira rota, outras se seguiram, e o serviço foi expandido para Goiás, Mato Grosso, Curitiba e até ao Paraguai. Também houve rota específica para o São Francisco. Após a Segunda Guerra, esse projeto passou a ser cada vez mais incentivado e, atualmente, alcança todas as regiões do país, cumprido seu objetivo de garantir a integração territorial (CAMBESES JÚNIOR, s/d).

Selo do Correio Aéreo Nacional – 1956
  • Referências Bibliográficas
  • ALMEIDA, Cícero Antônio de. Os selos postais aéreos e o avião no transporte de correspondências. In:_______; VASQUEZ, Pedro KARP. Selos postais do Brasil. São Paulo: Metalivros, 2003, p.102-109
  • CAMBESES JÚNIOR, Manuel. A Saga do Correio Aéreo Nacional. Disponível em: https://www2.fab.mil.br/incaer/images/eventgallery/instituto/Opusculos/Textos/opusculo_can.pdf
  • GASTAL, Susana. Ações comunicacionais e transporte aéreo no Brasil: os passos iniciais da Varig. Anais do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Curitiba, PR – 4 a 7 de setembro de 2009, p.1-15.
  • MUSEU dos Correios de Paris. A França na rota dos selos. (Catálogo de exposição). Rio de Janeiro: Centro Cultural dos Correios, 2009.
  • TEIXEIRA, Rubenilson B. Por mar, terra e ar: Dakar, Natal e as conexões transatlânticas (1880-1940). Cahiers des amériques latines, n° 76, 2014/2, p. 131-157.
  • 1927: O ano da decolagem. 20 de dezembro de 2017. Disponível em: https://www.ebc.com.br/especiais/90anosaviacaoBR
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Exposição Virtual

O meio ambiente nos selos postais brasileiros

O Dia Mundial do Meio Ambiente foi instituído em 5 de junho de 1972 pela Organização das Nações Unidas (ONU). A data faz referência à abertura da Conferência das Nações sobre o Ambiente Humano, que aconteceu em Estocolmo naquele mesmo ano. Esta reunião foi um marco em relação às preocupações com o meio ambiente que, a partir do final dos anos 1960, entraram na agenda de estudiosos e organizações internacionais como um ponto crucial a ser discutido. Tal posicionamento foi uma reação à política econômica desenvolvimentista de muitos países (inclusive do Brasil), a qual pregava o crescimento industrial sem se preocupar com os danos causados aos recursos naturais.

No Brasil, apesar das políticas voltadas para o meio ambiente terem ganhado força significativa a partir dos anos 1970, existem ações governamentais anteriores. Exemplo disso é o primeiro código florestal promulgado, em 1934, pelo governo de Getúlio Vargas. Em 1965, surgiu um novo código atualizado de acordo com as preocupações da época. Ambas as legislações tiveram baixo impacto e eram sobretudo flexíveis aos interesses desenvolvimentistas e rurais, abrindo espaço para desmatação de áreas importantes para o plantio (CARVALHO et al, 2018, p.37). Contudo, não se pode negar que a existência dos códigos já aponta para uma guinada política, na qual as florestas e o meio ambiente passaram a ser entendidos como cruciais para a sociedade e, por isso, parte das preocupações do Estado.

É interessante notar como os selos postais brasileiros acompanham todas essas transformações a respeito da consciência em relação ao meio ambiente. Por isso, convidamos os leitores à mais uma exposição virtual, na qual pode ser acompanhada a diversidade de selos postais relativos à esta temática.

Anos 1950 – a Campanha da Educação Florestal

O primeiro selo postal a ser destacado é o “Campanha de Educação Florestal”, ação iniciada em 1956. Esta emissão faz parte de uma política mais ampla da época, iniciada pelo Serviço Florestal, criado pelo Ministério da Agricultura em 1938. O surgimento deste órgão está inserido no contexto das preocupações com a preservação que instituiu o Código Florestal em 1934.  Dentre as ações da campanha, está a concessão de uma medalha para civis, militares e instituições atuantes na educação florestal (DECRETO nº 39.604, de 14 de Julho de 1956).  O selo e a medalha possuem o mesmo design, apresentando uma árvore com os contornos do mapa do Brasil ao fundo.

Anos 1970 – multiplicidade de selos sobre meio ambiente

É nos anos 1970 que motivos de proteção ao meio ambiente passam a se tornar bastante expressivos na filatelia. Essa multiplicação de selos sobre a temática está claramente associada ao contexto mundial da época, quando houve eventos e ações internacionais relacionadas à preservação dos recursos naturais. Os selos acompanham esta tendência e, em 1968, começam uma série de selos representando fauna e flora, iniciando por “Pássaros Brasileiros”.

Em 1976 surgem diversas emissões com motivos de meio ambiente. A partir deste momento, fica evidente o caráter de campanha de preservação associado aos selos postais, como se pode perceber pelos nomes das emissões, as quais utilizam expressões como “Defesa” e “Proteção”. Esta mudança na escolha das palavras pode estar associada ao contexto histórico. Em 1975, a UNESCO realizou em Belgrado, Iugoslávia, o Encontro Internacional de Educação Ambiental e, nesta ocasião, criou o Programa Internacional de Educação Ambiental – PIEA. No Brasil, em 1976 surgiram pós-graduações em Ecologia em diversas universidades (Amazonas, Brasília, Campinas e São Carlos). Por outro lado, a crise do petróleo em 1973 também constitui um marco importante nesta conjuntura.

Emissão “Conservação do meio ambiente” – 1976

Dos anos 1980 aos dias atuais

A multiplicação de selos com motivos ambientais nos anos 1970 iniciou uma tendência que continua amplamente nos dias atuais, com a divulgação de uma grande diversidade de assuntos, desde aqueles sobre fauna e a flora até os voltados para campanhas de preservação. Conheça algumas dessas emissões:


Referências:

CARVALHO,  Ely Bergo; GUIDICE, Roberta del; RAJÃO, Raoni. Uma breve história da legislação florestal brasileira. Primeira Parte (1500-1979). Observatório do Código Florestal, 2018.

DECRETO nº 4.439, de 26 de Julho de 1939. Aprova o Regimento do Serviço Florestal. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-4439-26-julho-1939-347090-publicacaooriginal-1-pe.html

Decreto nº 39.604, de 14 de Julho de 1956. Institui a “Medalha de Serviços Relevantes à Campanha de Educação Florestal”, promovida pelo Ministério da Agricultura, atraves do Serviço Florestal. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1950-1959/decreto-39604-14-julho-1956-334207-publicacaooriginal-1-pe.html MINISTÉRIO da Educação. Um pouco da História da Educação Ambiental. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoambiental/historia.pdf

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