Bicentenário do Manifesto Paulista: a carta de José Bonifácio que levou Dom Pedro I à manifestação do Fico

Texto de Gercilio Cavalcante de Assis

Em 24 de dezembro de 2021, completam-se exatos 200 anos de emissão de um dos documentos que nos ajuda a entender os intricados rumos do Brasil em direção à emancipação política de Portugal, que ficou posteriormente conhecido como Manifesto Paulista. Trata-se da carta escrita por José Bonifácio de Andrada e Silva em 24 de dezembro de 1821, na condição de vice-presidente da então Província de São Paulo e personagem influente nos fatos que determinaram a autonomia brasileira.

No ofício, dirigindo-se a Dom Pedro I, José Bonifácio expõe-lhe o estado irremediável em que se encontram as relações entre os dois lados do Atlântico. Se, até pouco tempo antes, muitos homens da política eram favoráveis à continuidade com Portugal, a partir daquele momento o desenrolar das reuniões das Cortes em Lisboa revelavam que o Brasil poderia perder sua posição privilegiada no espectro político em favor do território português. Até então, o domínio americano ocupava a privilegiada posição de sede do Reino de Portugal, Brasil e Algarves, decretado em 1815 por Dom João VI, elevando-o ao nível da metrópole europeia. Por isso, o vice-presidente paulista pede ao Príncipe, em tom acalorado, que permaneça no país para, assim, evitar um possível o desmembramento territorial da América portuguesa. José Bonifácio chegou a aventar até a possibilidade de haver derramamento de sangue com a partida do regente.

O trecho abaixo da carta, reproduzindo a grafia e a pontuação da época, dá a exata dimensão do estado de aflição de Bonifácio diante das recentes exigências das Cortes de Lisboa, movimento reformista derivado da Revolução Liberal do Porto, de 1820, que buscava, entre outros objetivos, reconquistar a centralidade do território português, então limitada devido à condição do Brasil como centro do Reino de Portugal, Brasil e Algarves, e que, para atingir tal objetivo, exigiam o retorno de Dom Pedro:

“Sim, Augusto Senhor, é impossível que os habitantes do Brasil, que forem honrados, e se prezarem de ser homens, e mormente os Paulistas, possam jamais consentir em taes absurdos e despotismos: sim Augusto Senhor, Vossa Altesa Real deve ficar no Brasil, quaesquer que sejam os projectos das Cortes Constituintes, não só para nosso bem geral, mas até para a independência e prosperidade futura do mesmô Portugal. Se V. A. R. estiver (o que não é crivei) pelo deslumbrado e indecoroso Decreto de 29 de Setembro, além de perder para o Mundo a dignidade de homem, e de Príncipe, tornando-se escravo de um pequeno numero de desorganizadores, terá também que responder, perante o Céo, do rio de sangue, que de çerto vai correr pelo Brasil com a sua ausência; pois seus Povos, quaes tigres raivosos, acordarão de certo do somno amadornado, em que o velho Despotismo os tinha sepultado, e em que a astucia de um novo Machiavelismo Constitucional os pretende agora conservar.”

Dias após o ofício chegar-lhe às mãos, em 9 de janeiro de 1822, o Príncipe Regente, em desafio às imposições das Cortes de Lisboa, dirige-se ao povo concentrado em frente ao Paço Real, no Rio de Janeiro, para anunciar sua permanência no Brasil, na manifestação do Fico. Não há consenso entre os historiadores sobre os dizeres exatos do príncipe naquele momento, por haver divergências nos relatos, mas, em variadas pesquisas e obras, são atribuídas a ele as célebres palavras: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto! Digam ao povo que fico”.

O Dia do Fico, como o episódio entrou para a História, foi uma das decorrências das tensões entre Brasil e Portugal e essencial para compreender a complexidade do movimento de Independência. Se, no período da Revolução do Porto, muitas figuras políticas do Brasil apoiavam a instalação de uma Monarquia Constitucional e a continuidade com Portugal, a partir daquele momento, opta-se por uma outra via, de ruptura. A Independência, portanto, foi criada no calor do momento, sendo que a continuidade também era uma possibilidade.

Também denominada “Representação Paulista” ou “Deputação Paulista”, o manifesto idealizado por José Bonifácio teve ainda entre seus signatários seu irmão mais novo, o conselheiro Martim Francisco Ribeiro de Andrada; o presidente da província de São Paulo, João Carlos Augusto de Oeynhausen; e o brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão, entre outros nomes, e foi aprovado por todo o gabinete do governo paulista de então numa sessão solene realizada naquele emblemático 24 de dezembro de 1821.

Embora o bicentenário do documento ocorra somente em dezembro, devido à sua relevância histórica – e por estar relacionado aos elementos propulsores da Independência do Brasil – os Correios estão lançando em 8 de setembro um selo comemorativo dedicado ao referido manuscrito chancelado pelo Patriarca da Independência, epíteto perpétuo ao qual José Bonifácio é atribuído por seu incontestável protagonismo nos episódios do rompimento dos laços da nação com Portugal.

Outro motivo da escolha da data da emissão é que 8 de setembro de 2021 é o primeiro dia do Bicentenário da Independência do Brasil.
A peça filatélica foi elaborada em estreita colaboração do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva e Colégio Militar de São Paulo (CPOR/CMSP). A instituição é afeita à figura de José Bonifácio especialmente por situar-se na antiga sede da Fazenda Santana, inserida no que é hoje o bairro de Santana, na zona norte da capital paulista, e onde, naquele longínquo 1821, foi abrigo residencial do Patriarca da Independência e de seu irmão Martim Francisco Ribeiro de Andrada. Naquela morada, já demolida e modificada no decorrer do tempo por seus diversos usos até tornar-se o aquartelamento do CPOR/CMSP, foi delineada a citada declaração endereçada a Dom Pedro de Alcântara.

Tamanho sentimento de afeição da entidade militar a um dos personagens da gênese do Brasil como nação levou o Comando do Exército Brasileiro a outorgar ao CPOR/CMSP, em 17 de maio de 2004, a denominação histórica de “Centro Solar dos Andradas”.

As imagens do conjunto iconográfico que ilustram o selo comemorativo contemplam parte da edificação do pátio interno do CPOR/CMSP, alcunhado “Pátio Patriarca da Independência”, e do busto da escultura batizada “A Entrega do Manifesto Paulista” (disposta em primeiro plano), de autoria do artista plástico Claudio Antonio Callia, que foi concebida e produzida neste ano. Na parte superior da peça filatélica, foi inserida ainda a assinatura de José Bonifácio, de modo a enriquecer o quadro pictórico. A presente emissão pelos Correios é uma forma de a Filatelia legar uma justa homenagem e reconhecimento ao protagonista do Manifesto Paulista.

Bibliografia:

OLIVEIRA, Hilton Meliande. “A Independência do Brasil”. Disponível em: <https://bndigital.bn.gov.br/dossies/rede-da-memoria-virtual-brasileira/politica/a-independencia-do-brasil/>Acesso em: (31/08/2021)

SALOMÃO, Ivan Colangelo. “O patriarca para além da Independência: as ideias político-econômicas de José Bonifácio de Andrada e Silva”. Disponível em: https://digital.bbm.usp.br/mwg-internal/de5fs23hu73ds/progress?id=ZElH3HHU-N7qSjIX5SXGMRrBNQpR925qaogxixOEVQU,>(30/08/2021)

“Independência do Brasil”. Disponível em: <https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/independencia-brasil.htm> Acesso em: (31/08/2021)

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Bicentenário de Anita Garibaldi

Escrito por Christina Habli Brandão Dutra

Anita Garibaldi, a “Heroína dos Dois Mundos”. Brasil, sua terra natal, e Itália, terra de seu companheiro de vida, Giuseppe Garibaldi, país que reconhece o casal como heróis responsáveis pela unificação italiana. E tanto lá quanto cá, Anita é uma personagem histórica conhecida por suas batalhas e por sua personalidade que fizeram dela uma mulher de perseverança e coragem. Nascida em 30 de agosto de 1821, em Laguna – SC, hoje, em seu aniversário de bicentenário, ela ganha mais uma homenagem.

 

Esta emissão celebra os duzentos anos de nascimento de uma mulher que foi eternizada como uma heroína em dois continentes por seus feitos. Para o artista do selo, José Carlos Braga, foi um desafio representar a grandiosidade desta personagem e resumir suas aventuras em um espaço tão restrito, e assim se mostravam um atrativo à parte para tentar explorar o assunto.

Para Braga a temática histórica e sua relevância pediam uma técnica de impressão nobre, diferenciada por sua tradição e segurança. A impressão calcográfica ou intaglio permite a reprodução de pequenos detalhes e a sensação de relevo que é transmitida da chapa de impressão para o papel. Explorando as possibilidades técnicas do equipamento destinado a este tipo de impressão, optou-se por utilizar o entintamento localizado em três cores, que em conjunto com a tonalidade do papel representam o Brasil e a Itália. Técnicas digitais e modernos processos de gravação mantém viva este meio de reprodução secular.

Em seu processo criativo, José Carlos realizou diversos estudos e diferentes composições foram experimentadas, tentando abordar suas múltiplas facetas: a mãe, a guerreira e a mulher.

No selo e na vinheta que compõe a estampa são representadas algumas célebres passagens, como quando fugiu com o filho recém-nascido para salvarem-se do cerco das tropas inimigas e de quando em seu batismo de fogo remou em um bote, em plena batalha sob fogo inimigo, para buscar munição para abastecer seus companheiros.

A Rosa de Anita, representada no selo, na vinheta e também nos carimbos de primeiro dia de circulação, é o símbolo das comemorações de seu bicentenário. Trata-se de uma flor híbrida criada pelo botânico italiano Giulio Pantoli, que se inspirou na figura de Anita Garibaldi para desenvolver a rosa.

Os brotos foram trazidos no final de 2018 para o Brasil e adaptados à realidade climática do país. As primeiras mudas da Rosa de Anita foram plantadas nos municípios de Laguna, Imbituba, Tubarão, Anita Garibaldi, Lages, Curitibanos e Garopaba.

A vida de Anita é marcada por sua coragem e determinação. Fábio Andreas Richter, historiador da Fundação Catarinense de Cultura relata no edital desta emissão um desses momentos:

“O casal seguiu com as forças farroupilhas para o Rio Grande do Sul, onde Anita deu à luz, em 16 de setembro de 1840, a seu primeiro filho, Menotti, na localidade de Mostardas. A região foi atacada por forças imperiais e Anita, mesmo convalescendo do parto, conseguiu fugir a cavalo dos atacantes, com seu filho recém-nascido nos braços. A família seguiria para São Gabriel, sede dos farroupilhas, onde Giuseppe solicitou sua saída das forças combatentes, mudando-se a seguir com Anita e seu filho para Montevidéu.”

No Uruguai, único país da época que aceitava o divórcio e que havia reconhecido a República Rio-Grandense, Anita e Giuseppe oficializaram seu casamento em 26 de março de 1842. Ele acabaria se envolvendo nas lutas dos uruguaios contra as forças do ditador argentino Juan Manoel Rosas, tendo criado naquele momento a Legião Italiana, composta por exilados políticos, a qual também o acompanharia no retorno à Itália e nas lutas para unificação daquele país. No Uruguai nasceram mais três filhos do casal, Rosita, Teresita e Riccioti, sendo que Rosita acabou falecendo de difteria em 1845.

Anita e Garibaldi se conheceram quando ela tinha 16 anos e no trecho abaixo a professora de história Juliana Bezerra menciona em seu artigo sobre a biografia de Anita a palavras de Garibaldi ao recorda-se do primeiro encontro:

“Um homem que tinha conhecido convidou-me a tomar café em sua casa. Entramos e a primeira pessoa que me apareceu era Anita. A mãe dos meus filhos! A companheira da minha vida, nos bons e nos maus momentos! A mulher cuja coragem tantas vezes ambiciono! Ficamos ambos estáticos e silenciosos, olhando-se reciprocamente, como duas pessoas que não se vissem pela primeira vez e que buscam na aproximação alguma coisa como uma reminiscência. A saudei finalmente e lhe disse: ‘Tu deves ser minha!”.

Personalidade de Anita

Em Laguna, sua cidade natal, há uma casa típica colonial luso brasileira construída por volta de 1711 – o Museu Casa de Anita onde estão expostos painéis com história de Anita: seu nascimento, casamento, batalhas, amor por Giuseppe Garibaldi e sobre a sua família. Um dos painéis do museu detalha aspectos de sua personalidade, confira na íntegra a seguir:

“Conhecida por sua personalidade forte, construída por uma infância livre e sadia, Anita despertou paixão pelos animais desde cedo, se revelando uma talentosa amazonas. Antes mesmo de se casa, Anita sofreu forte influência das ideias libertárias pregadas por seu tio Antônio Ribeiro da Silva, simpatizando dos ideais republicanos sustentados pelos Farroupilhas.

Durante o curto tempo de seu casamento, Anita conflitou seus ideais republicanos com os de seu marido, Manuel Duarte, defensor do regime monarquista, que veio a se alistar no exército imperial, abandonando-a. Enquanto Anita pregava pela república, seu marido defendia a monarquia, em suas cartas, hoje arquivadas no Museu do Rissorgimernto Italiano, em Roma, é possível perceber a influência dos ideais e sua vocação republicana. Em novembro de 1835, escreveu a seu Tio Antônio:

“…desde pequena aprendi os seus princípios de liberdade e justiça…”

Dois anos antes de Garibaldi e os farroupilhas a conquistarem, Laguna fabricava e enviava pólvora clandestina para os farroupilhas. A cidade estava em ebulição e Anita viveu intensamente este momento de conspiração contra o Império.

Em suas memórias Giuseppe Garibaldi descreveu a forte personalidade de Anita:

“…dentro de seu peito batia um coração de herói.”

Prossegue quando narra a Batalha de Curitibanos:

“…Quando se viu cercada pelos imperiais, em lugar de fugir, animou nossos soldados a lutarem e a defenderem-se e então enterrou as esporas no ventre do cavalo e dum salto passou pelo inimigo, tendo recebido uma única bala que lhe atravessou o chapéu e levou parte dos cabelos sem lhe atingir o crânio…”

Mesmo seus inimigos a admiravam e a respeitavam, como registrou em suas memórias o Coronel Albuquerque, do Exército Imperial:

“…Conquistou minha admiração e a dos meus comandados pois nunca imaginávamos ver uma mulher tão valorosa…enchia-nos de orgulho o fato de ser ela uma catarinense, uma compatriota que dava ao mundo provas de grande valor e intrepidez…”

Para este mulher de tantas qualidades, admirada por seus inimigos e amada por seu companheiro e seus parceiros de batalhas esta é a nossa homenagem em seus aniversario de 200 anos. Parabéns Anita por tudo que você representa!

Bibliografia:

“Tour Virtual 360º Museu Casa de Anita”. Disponível em <http://www.ronaldoamboni.com.br/360/casadeanita.html> Acesso em: (04/08/2021)

Governo de Santa Catarina. “Símbolo dos 200 anos de nascimento de Anita Garibaldi, rosa floresce no Jardim do Museu Histórico de SC: Disponível em <https://www.sc.gov.br/noticias/temas/cultura/simbolo-dos-200-anos-de-nascimento-de-anita-garibaldi-rosa-floresce-no-jardim-do-museu-historico-de-sc>  Acesso em: (24/08/2021)

CIB/SC – Círculo Ítalo Brasileiro de Santa Catarina. “Bicentenário de Anita Garibaldi” Disponível em <https://www.circuloitalobrasileiro.com/post/bicentenário-de-anita-garibaldi> Acesso em: (24/08/2021)

Fundação Lagunense de Cultura. Museu Casa de Anita: Disponível em <https://www.laguna.sc.gov.br/cms/pagina/ver/codMapaItem/135769> Acesso em: (04/08/2021)

BEZERRA, Juliana. Biografia de Anita Garibaldi. Disponível em <https://www.todamateria.com.br/anita-garibaldi/> . Acesso em: (26/08/2021)

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Os Correios e a Corte Geral da Nação Portuguesa

Texto por Mayra Guapindaia

Hoje, dia vinte e três (23) de agosto, entra em circulação o penúltimo selo da série 200 anos da Independência, alusivo à participação do Brasil nas Cortes Gerais de Lisboa.

A reunião da Corte Geral da Nação portuguesa entre 24 de janeiro de 1821 e 4 de novembro de 1822 foi consequência direta da Revolução do Porto. O movimento foi inspirado pelos ideais liberais da época, e de acordo com a experiência da Constituição de Cádiz, assinada pelo Rei Espanhol Fernando VII em 1820. Assim, deputados de diversas regiões de Portugal foram eleitos para discutir, nas Cortes Gerais, a primeira Constituição Portuguesa, da qual seria signatário o rei de Portugal.

Inicialmente, não havia a previsão de participação de deputados brasileiros, o que gerou uma série de protestos. Finalmente os deputados das províncias brasileiras que demonstravam apoio à Revolução do Porto, foram escolhidos e tomaram assento na Assembleia somente em agosto de 1822. Nem todas as províncias eram a favor das Cortes e, especialmente, do retorno de D. João VI à Portugal. Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul não enviaram deputados, permanecendo no Brasil em favor ao então Príncipe Regente D. Pedro.

As Cortes de Lisboa fazem parte do longo processo histórico que culminou na Independência do Brasil. Seu contexto importa na medida em que permite perceber o gradual afastamento entre os interesses dos deputados brasileiros e portugueses, o que levaria posteriormente à decisão brasileira pela ruptura política.

Não obstante esta falta de conciliação, é inegável que as Cortes de Lisboa para o Brasil significaram a participação de uma primeira experiência parlamentar para a construção de uma carta constitucional. Portanto, as Cortes influenciaram diretamente a experiência parlamentar brasileira posterior, ou seja, após a Independência. Isso pode ser notado na própria estrutura organizacional da Constituinte de 1823 e, posteriormente, no texto constitucional de 1824, que guarda inúmeras semelhanças com a Constituição Portuguesa de 1822.

Um dos pontos de sincronia diz respeito justamente às discussões parlamentares sobre a questão da Administração dos Correios e da garantia do direito individual, por parte do Estado, da inviolabilidade das cartas. Este debate estava de acordo com a visão liberal da época da manutenção da privacidade como extensão dos direitos fundamentais. Ele aparece tanto nas atas das Cortes de Lisboa quando na documentação referente à Assembleia Constituinte em, 1823.

Historicamente, a questão do sigilo das cartas não é nova, e não surgiu somente com o liberalismo político do século XIX. As Ordenações Filipinas, compilação jurídica portuguesa do século XVII, continha um artigo intitulado Dos que abrem as cartas do Rei, ou da Rainha, ou de outras pessoas, condenando a abertura indevida de cartas e prevendo sanções que poderiam acarretar até em pena de morte. Já em final do século XVIII, com as reformas postais em Portugal e em seus domínios ultramarinos, uma série de normas foram publicadas. Em algumas, é possível perceber o refinamento da questão da segurança da correspondência, que ficava cada vez mais no encargo dos Correios como instituição pública de Estado. O empregado dos Correios, que, a esta altura já era um funcionário público, pago pelo real erário, que cometesse o crime de abrir cartas, deveria ser preso e punido segundo as leis.

É principalmente no período das reformas postais de 1798 que, cada vez mais, os Correios passam a ser valorizados como uma questão de Estado. Vale lembrar que, antes deste ano, os serviços postais eram monopólio privado de uma família, os Gomes da Mata, que tinham direito à exploração financeira da entrega de cartas. Toda a estrutura operacional e administrativa também era provida por esta família, sem recair nas mãos da monarquia. Em 1797 o ofício de Correio-mor foi reintegrado ao patrimônio régio, e os Correios passam a ser providos diretamente pela Coroa. Assim, a contratação de funcionários, manutenção das malhas postais e a segurança das cartas passou a fazer parte das responsabilidades diretas do Estado.

Esta estrutura dos Correios, tanto no Brasil quanto em Portugal, se manteve intacta durante o primeiro quartel do século XIX. Entretanto, na altura da reunião das Cortes de Lisboa, em 1821, havia muitas denúncias e insatisfações quanto ao serviço postal. Os deputados estavam preocupados com o desvio das cartas que muitas autoridades e pessoas importantes sofriam. Isso significava que a Administração Postal não estava agindo de acordo com as normas que a regiam desde 1798. Além disso, entrava em discussão o princípio liberal do direito à privacidade, algo que até então estava ausente das discussões políticas. Na seção de 8 de junho de 1821, o deputado Pereira do Carmo dá um exemplo concreto da desconfiança da abertura de cartas no serviço postal e como, por isso, os correspondentes preferiam escrever cartas sem muitos detalhes sobre assuntos sigilosos:

Satisfazendo ao que prometi na Sessão de ontem, isto é de reforçar a indicação do senhor Baeta acerca da falta de pontualidade na administração dos Correios. Ponho sobre a Mesa uma Carta assinada por Frei Joaquim do Sagrado Coração de Maria, morador no Convento do Senhor da Fraga, junto a Viseu, em que se desculpa de me não escrever Carta volumosa, e de não pôr no Sobrescrito o meu cargo de Deputado, porque nos Correios se abrem, e somem (diz elle) as cartas volumosas ou extraordinárias, dirigidas aos senhores Deputados, nas quais se presumem inclusos alguns papéis, que devem ser apresentados ao Soberano Congresso, pertentendo-se por esta maneira cortar acintemente as communicações entre a Nação e seus Representantes.

Para evitar a quebra do sigilo das cartas, e a responsabilização da Administração de Correios e dos agentes responsáveis, os deputados incluíram na Constituição Portuguesa de 1822, no Título 1: Dos direitos e deveres individuais dos portugueses, o artigo 18º, que afirma: o segredo das cartas é inviolável. A administração do correio fica rigorosamente responsável por qualquer infração deste artigo.

Os debates que ocorreram na Assembleia Constituinte brasileira de 1823 foram similares aos das Cortes de Lisboa, e muitos deputados apontaram a falha da Administração de Correios em manter o segredo das cartas. E, como consequência dessas discussões, o Artigo 179 da Constituição Brasileira de 1824, que garantia a inviolabilidade dos direitos civis, e políticos dos cidadãos brasileiros, tendo por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, trazia, no item XXVII, o exato mesmo conteúdo da Constituição Portuguesa de 1822 sobre a inviolabilidade das cartas.

Ou seja, a partir deste debate da primeira experiência constitucional portuguesa, ficou reconhecido o direito individual ao sigilo das comunicações à distância, sendo que os Correios foram os principais responsáveis pela manutenção deste interesse de cada cidadão. Com este caso, podemos perceber como o sistema postal, em Portugal e no Brasil, foram reconhecidos enquanto instituição pública essencial para a manutenção de direitos básicos de cidadania.

Referências:

BRASIL. Constituição política do Império do Brasil (25 de março de 1824). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm>. Acesso em: 27/07/2021

CABRAL, Dilma. Cortes gerais e extraordinárias da nação portuguesa. Disponível em: <http://mapa.an.gov.br/index.php/dicionario-periodo-colonial/164-cortes-gerais-e-extraordinarias-da-nacao-portuguesa>. Acesso em: 27/07/2021.

DOLHINKOFF, Miriam. História do Brasil Império. São Paulo: Contexto, 2020.

POTTUGAL. Constituição de 23 de setembro de 1822. Disponível em: <https://www.parlamento.pt/Parlamento/Documents/CRP-1822.pdf>. Acesso em: 27/07/2021

PORTUGAL. Diários das Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa. Anos 1821 e 1822. Disponível em: <https://debates.parlamento.pt/catalogo/mc/c1821>. Acesso em: 27/07/2021

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Insulina e Diabetes Mellitus

Texto escrito por Spartaco Astolfi Filho

Nesse ano em que completam 100 anos da descoberta da insulina, os Correios prestam homenagem a esse feito histórico lançando um selo postal comemorativo.

Existem dois principais tipos de Diabetes Mellitus, ambos caracterizados pelo excesso de glicose no sangue e na urina: quando ocorre em consequência do pâncreas parar de produzir ou diminuir a produção de insulina (diabetes tipo I ou insulino-dependente), ou – quando a insulina não é capaz de agir de maneira adequada, devido à dificuldade de reconhecer o seu receptor localizado nas membranas celulares (diabetes tipo II ou insulino-resistente). O tipo I aparece de uma hora para outra, na maioria dos casos em crianças ou adolescentes, e é reflexo de uma reação autoimune do organismo que destrói as células produtoras de insulina e o tratamento necessita de reposição da insulina. Antes da descoberta da insulina e sua produção industrial a maioria dos pacientes com casos graves de diabetes tipo I falecia devido à doença. O tipo II aparece como consequência da má alimentação e da obesidade na maioria dos casos a partir dos 40 anos de idade e o tratamento é feito com dieta adequada, exercícios físicos e de medicamentos como: metilformina, glimepirida e gliclazida e em caso mais graves pode-se fazer uso também de insulina.

Os sintomas da diabetes podem variar de acordo com o tipo da doença, porém de maneira geral os primeiros sinais da diabetes são muita sede, muita vontade de urinar, muita fome, cansaço, visão embaçada e formigamento nos membros. Quando o nível de glicose sanguíneo fica alto por muito tempo, como o que ocorre no Diabetes Mellitus não tratado adequadamente, aumenta o risco de ocorrerem complicações como: doenças cardíacas e enfarte; lesões oculares, renais e neurológicas; dificuldade de cicatrização, infecções fúngicas recorrentes e disfunções sexuais.

A história da descoberta da Diabetes Mellitus e da insulina e o seu desenvolvimento como um biofármaco é muito rica, teve influência no desenvolvimento de diversas áreas da ciência e da tecnologia, entre elas: medicina, farmácia, bioquímica, biologia molecular e engenharia genética.

O primeiro relato de Diabetes foi descrito por médicos egípcios no documento médico “Papiro de Ebers” datado de 1552 a.C., onde descrevem uma doença em que os pacientes urinavam muito, tomavam muita água e emagreciam até a morte. Em 250 a.C. Apolônio de Memphis usa pela primeira vez o termo diabetes, palavra grega que significa sifão, devido nessa doença ocorrer uma rápida passagem de líquidos pelo corpo. Só em 150 d.C. Aritaeus da Capadócia adiciona o termo mellitus devido ao sabor adocicado das urinas desses pacientes.

Em 1889 os alemães Oskar Minkowski e Joseph von Mering demonstraram que a retirada do pâncreas de cães causava Diabetes levando-os a óbito e um pouco antes em 1869 o também alemão Paul Langerhans havia descrito um tipo de células do pâncreas que, devido à sua disposição espacial, chamou de ilhotas. Em 1900 o estadunidense Eugene Opie descreveu que, em casos de Diabetes Mellitus grave, ocorria a degeneração das células das ilhotas de Langerhans.

Em 1910, o inglês Edward Sharpey-Schafer levantou a hipótese de que o Diabetes seria causado pela deficiência de uma substância, produzida pelas células das ilhotas de Langerhans do pâncreas, razão pela qual ele a denominou de insulina, termo derivado da palavra latina insula (ilha). A confirmação dessa hipótese veio em 1921 pelos canadenses Frederick Banting e Charles Best, eles injetaram em cachorros diabéticos, extratos ilhotas de Langerhans de pâncreas de cachorros saudáveis, revertendo o quadro de diabetes. Os dois pesquisadores em seguida trabalhando na Universidade de Toronto, em colaboração com o escocês John Mcleod purificaram a insulina de pâncreas bovino e foram os primeiros a tratar um humano diabético com sucesso, um jovem canadense adolescente de 14 anos. Por essa façanha Banting e Mcleod ganharam o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 1923. A partir de então a empresa farmacêutica estadunidense Eli Lilly & Co. bem como empresas farmacêuticas da Europa passaram a produzir insulina bovina e suína em larga escala para tratamento do Diabetes Mellitus.

Em 1955, o inglês Frederick Sanger desenvolveu a metodologia que permitiu determinar a sequência completa de aminoácidos da insulina por isso ganhou o Prêmio Nobel de Química em 1958. Pelo desenvolvimento da metodologia de cristalografia de Raios-X para determinar a estrutura tridimensional de moléculas e após determinar a estrutura da penicilina e da vitamina B12, a britânica Dorothy Hodgkin recebeu o Prêmio Nobel de Química em 1964, sendo que alguns anos depois em 1969 ela publica a estrutura tridimensional de uma molécula bem mais complexa – a insulina.

A indústria farmacêutica, para produzir por processo extrativo cerca de 1 Kg de insulina bovina e suína para tratamento do Diabetes, precisava coletar pâncreas de 50.000 animais. Além dessa dificuldade, a bovina difere da humana em 3 aminoácidos enquanto a suína em um aminoácido, o que em alguns casos o tratamento resultava em reação imune e o paciente passava a fazer anticorpos contra a insulina animal o que dificultava o tratamento. A solução para isso veio com a invenção da Tecnologia do DNA Recombinante, também chamada de Engenharia Genética, pelos estadunidenses Stanley Cohen, Herbert Boyer e Paul Berg em 1973. Em 1978, trabalhando na empresa de biotecnologia Genentech recentemente criada em San Francisco (CA – USA), os também estadunidenses David Goeddel e Dennis Kleid expressam pela primeira vez um gene de insulina humana na bactéria Escherichia coli e 5 anos depois a Genetech juntamente com a Eli Lilly & CO, após aprovação pelo FDA (USA), lançam no mercado um dos primeiros produtos da engenharia genética – a insulina humana com o nome de Humulin.

No Brasil a empresa Biobrás Bioquímica do BrasiL SA, situada em Montes Claros (MG), idealizada pelo empreendedor professor da UFMG Marcos Luiz dos Mares Guia, produzia insulinas bovina e suína desde 1978. Em 1988 a Biobrás iniciou uma colaboração com a UnB, coordenada na universidade pelo professor Spartaco Astolfi Filho, para desenvolver no Brasil a tecnologia de produção de insulina humana por engenharia genética e fermentação bacteriana. Esse processo foi concluído com sucesso com a construção do setor industrial de produção de insulina humana em 1998 com inclusive patente concedida nos USA no ano 2000.

Embora uma empresa farmacêutica multinacional tenha adquirido a BIOBRÁS em 2001 e interrompido o processo de produção no Brasil de insulina (do Insumo Farmacêutico Ativo – IFA), ficou demonstrada a capacidade de empreendedores e pesquisadores brasileiros de desenvolver tecnologias avançadas para a produção de biofármacos. Essa experiência adquirida por diversos pesquisadores nesse projeto tem sido de grande utilidade para o desenvolvimento de outras biotecnologias farmacêuticas no Brasil. É importante também ressaltar que recentemente a empresa BIOMM (Nova Lima-MG), uma spin off da extinta BIOBRÁS, além da BAHIAFARMA e FARMANGUINHOS/FIOCRUZ, têm declarado a intenção de produzir insulina humana (IFA) no Brasil, o que sem dúvida será uma garantia aos diabéticos brasileiros do suprimento desse importante medicamento no futuro.

FICHA TÉCNICA DA INSULINA

Natureza da Substância: Proteína formada de duas cadeias polipeptídicas A e B, a cadeia A tem 20 aminoácidos e a B tem 30 aminoácidos. Fórmula química: C254H337N65O75S6
Massa molecular: 5808 daltons
Local de síntese: Ilhotas de Langerhans no pâncreas.
Função: a insulina é um hormônio proteico que estimula a entrada da glicose do sangue para o interior das células e a síntese de glicogênio, um outro hormônio denominado de glucagon, também produzido pelo pâncreas pelas células alfa, tem uma ação inversa, estimula a quebra do glicogênio e a liberação da glicose das células para a corrente sanguínea; dessa forma os dois hormônios são os principais responsáveis pela homeostase da glicose no organismo.

Estrutura molecular da insulina:

Azul – Cadeia A, Verde – Cadeia B

Figura copiada de:
 https://www.dreamstime.com/stock-images-insulin-structure-image26544714

Spartaco Astolfi Filho
Bacharel em Ciências Biológicas pela UnB em 1975, Mestre em Biologia Molecular pela UnB 1978 e Doutor em Ciências pela UFRJ em 1987. Realizou em 1988-1989 Pós-Doutorado na área de Engenharia Genética no Instituto de Ciências e Tecnologia da Universidade de Mancherter (UK). Atuou no desenvolvimento das tecnologias de produção, por engenharia genética e fermentação, de: Taq DNA Polimerase (CENBIOT/UFRGS & UnB), Insulina Humana (BIOBRÁS & UnB) e Hormônio de Crescimento Humano (CRISTÁLIA & UFAM). Publicou 121 artigos em periódicos, requereu 13 patentes de invenção, orientou 77 mestres e 47 doutores. Aposentou-se como Professor Titular de Biotecnologia da UFAM. Integra o Conselho Científico da Cristália – Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda e atualmente é Professor Emérito da UFAM.

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Queijos do Brasil

Confira abaixo, na íntegra, a tradução do texto do Edital da emissão especial Queijos do Brasil

Brazilian cheeses

See below the full translation of the offical text for the stamp issue “Brazilian Cheeses

The production of artisanal cheese is the result of knowledge that dates back to colonial Brazil and has been passed down from generation to generation. With the decline of the main Brazilian economic cycles, cheese was gaining ground and consolidating.

The artisanal cheese is highly appreciated by consumers in Brazil. Several of these consumers are interested in the origin and form of production of the food products they consume, as well as their reputation, intrinsic value and identity. The Geographical Indication, for providing control mechanisms and product traceability and for promoting sustainable practices that preserve biodiversity, fits into this trend and adds value to the products, highlighting the typicality of each territory.

As Brazilian artisanal cheeses are spread throughout the country, here we bring the five Brazilian regions represented by some of these cheeses.

Marajó Cheese

Marajó Cheese has over 200 years of history. It was introduced to the region with the arrival of Portuguese and French settlers. Initially it was produced only with cow’s milk by the families of European descendants, being widely consumed throughout the island. With the arrival of buffaloes in the region, there was an expansion and currently, Marajó Cheese is produced from milk, originating mainly from buffalo cattle or by a composition of buffalo and bovine milk.

Marajó Cheese can only be made under the characteristic climatic conditions and handling of the region’s herd. There are two types of Marajó Cheese, the butter type and the cream type. Cream cheese is characterized by the process of cooking the dough, called “frying”, in which the cream obtained from skimming the milk to be coagulated is added. With the techniques brought by the Europeans, the production process of cream cheese underwent changes and adaptations, mainly with the use of the creamer. Butter type cheese is the one that in the process of cooking the dough, the butter itself is added.

The relevance of the Geographical Indication for the Marajó Cheese product is immense, as it is a differential that values ​​and protects the way of making, tradition, culture, identity and adds value to traditional products, opening markets, promoting the economic development of island, improving the lives of milk and cheese producers in Marajó, in addition to encouraging investments in the production area itself.

Cabacinha do Araguaia cheese

The fame of the Queijo Cabacinha do Araguaia is due to its know-how, which is passed on from generation to generation. The famous cheese is produced with the same quality and form of production in 10 municipalities, five in the state of Mato Grosso and five in Goiás. The Cabacinha cheese was declared cultural heritage in both states.

The dough is prepared with several waters, until obtaining a smooth and shiny dough. The specificity is in the acidity of the dough and in the shape of the product. Inside, the cabacinha cheese has layers like an onion. The method of preparation is different from cabacinha cheeses from other regions. It has the most characteristic milk flavor. When fried, the cheese is crunchy on the outside and creamy on the inside. The cheese is sold frozen and ripened. Due to the traditional know-how of making, it is made by hand in the gourd shape and this gives it a different texture from other known cheeses.

Artisanal Minas Cheese

The Minas Artesanal Cheese has its origins in the 18th century, a culture brought by the Portuguese who entered the territory of Minas Gerais in search of gold and diamonds. Cheese production took place around this mined territory, for the subsistence of families living there and also for supplying other regions of the province as well as a capital, Rio de Janeiro.

Since then, the production of Queijo Minas Artesanal has spread throughout the territory of Minas Gerais, representing a cultural factor of socio-economic importance for most rural families. This cheese production, even with the advent of technology, does not cease because it is an activity that has a history, it belongs to the “modus vivendi” of local families who, since the beginning of the occupation of these fields, saw in the manufacture of cheese as a safe alternative to income and disclosure. It is estimated that around ten thousand families are currently engaged in the production of this cheese in the state.

The government of Minas Gerais officially recognizes eight producing regions of Minas Artesanal Cheese: Araxá, Campo das Vertentes, Canastra, Cerrado, Serra do Salitre, Serra do Ibitipoca, Serro and Triângulo.

Coalho Cheese and Butter Cheese


The Northeastern hinterland was born cattle-raising, erecting its corrals and producing food for subsistence and to generate local economy, assuming its own regional characteristics, including the form and food recipes, such as the Coalho and Butter cheeses.

Historical accounts of where they were created, who made them and when were not highlighted. What is certain is that there are descriptions by travelers of the existence of country cheeses at the end of the 17th century, even if in an imprecise way and with some contradictions, since foreigners interpreted local foods in their own way.

The countryman Pery Lamartine reported that Coalho Cheese was the cheese for consumption in the house and sold at the local market, while Butter Cheese was for “preservation”, produced to keep for long periods of drought and also to trade over long distances. On most farms, the two were, and are still acquired together, and their stories are merged with these lands that resist to be cattle raising, valuing their food culture.

Serrano Craft Cheese

The production of Serrano Cheese occurs solely and exclusively in the Campos de Cima regions of the Serra de Santa Catarina and in Rio Grande do Sul, being one of the typical products of these regions which, although they belong to two states, present characteristics similar in terms of environment, culture and history.

The beginning of its manufacture dates back to the beginnings of the occupation of this territory by Portuguese descendants and, since then, it has been produced on rural properties by thousands of producers who transmit their way of doing it from generation to generation. Its manufacture is influenced by the environment, cattle feed and the handler’s handicraft work, being considered an identity food for the region’s inhabitants.

It is an artisanal product manufactured on a small scale, identified by a set of peculiar characteristics, related to flavor, aroma and texture, made with raw and whole bovine milk, mostly from beef cows that feed on native pastures.

In addition to its economic importance, many families produce cheese for cultural reasons, as they learned from their ancestors and producing it is a daily necessity. First Cheese with Geographical Indication in the Denomination of Origin modality in Brazil.

Diamond Region Cheese

Diamond cheese is a traditional colonial cheese, produced by approximately 25 families in small rural communities in the municipality of Major Gercino, Santa Catarina, the main one being the community of Diamante. Part of the cheesemaking tradition of this town is due to the strong traces of European immigration, especially from Germans, Italians and Poles.

It is a cheese produced with raw milk, at an average altitude of 700 meters, giving it special characteristics, influenced by temperature, humidity and its native pastures. It has a rectangular shape, due to the use of pink cedar wood shapes in different sizes. Once ready, it can be cured for a period of 15 to 40 days. These characteristics give this cheese a lot of personality and identity with a smooth flavor and a smooth texture. The peel is yellow, resulting from the daily washing of the pieces.

São Paulo Artisanal Cheese

In recent years, the cheese culture has been growing and spreading in the state of São Paulo. A real revolution. Consumers in the city of São Paulo, increasingly demanding and selective, found in the state’s producers an alternative to meet their demand.

In view of this, São Paulo producers went in search of teachings, techniques, and manufacturing processes – some sought knowledge abroad, others developed their own manufacturing method, others rescued sometimes forgotten traditions rooted in the family.

In this mix of techniques, the São Paulo Artisanal Cheese emerges – a synergy between producers from different regions of the state, each one with its characteristics, history, herd, but always with the same purpose – to bring to the consumer products made with technique, quality and lots of flavor.

The São Paulo Craft Cheese is in itself a great attraction, it is challenging and unique. Each producer puts in their cheese their DNA, their history, the daily dedication of the man and woman of the countryside.

São Paulo artisan cheese is innovative.

There are currently more than 300 varieties of cheese produced in the state of São Paulo, in artisanal cheese factories located in several municipalities, generating income and strengthening rural tourism in the state.

Sebrae and entities representing cheese producing regions

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Rendas Brasileiras – Blog da Filatelia

Escrito por Christina Habli Brandão Dutra

Entrelaces, fios, desenhos, movimento. O tecer das rendas é uma verdadeira dança de fios que resulta em um trabalho de delicadeza e presteza. Presente no imaginário coletivo em várias formas, texturas e transparências a renda está nos detalhes de vestidos de noiva, toalhas de mesa, em peças que dão um toque especial por onde passam. A produção artesanal das rendas chegou ao Brasil pelos portugueses, compondo o patrimônio histórico e cultural do país.

“No Brasil, parece que a primeira vez que se falou na palavra renda, foi ainda no reinado de D. Sebastião em 1560.

Mas foi só no reinado de D João V, com início 130 anos depois, que a produção nacional já era uma realidade. Durante este reinado, as produtoras de rendas nacionais entram em conflito com o protocolo da corte que obrigava o uso das rendas flamengas nas roupas. Este fato é a origem da “revolta das rendeiras nortenhas”, que só vai conquistar de volta a liberação do uso da renda nacional nas roupas brancas de uso das pessoas em 1751, no reinado de D José.

De lá para cá, a evolução dessa história é longa e está intimamente ligada à evolução dos desenhos, nomenclatura e tradições da produção de rendas nacional”. (BARCELLOS, Telma apud MONTEIRO, 2019)

O lançamento do Selo Especial Rendas Brasileiras, em parceria com o SEBRAE e Renato Imbroisi, acontece no Youtube do SEBRAE, às 16h do dia 07/07/2021. E destaca a arte de quatro tipos de rendas: o Bilro, a Irlandesa, o Filé e a Renascença.

Renda de bilro: De origem portuguesa, está muito presente em regiões litorâneas do Nordeste e de Santa Catarina. O tecido é produzido sobre almofadas cilíndricas, envoltas num papel grosso, no qual são presos alfinetes ou espinhos de plantas, formando o desenho da renda. Em cada fio de linha a ser trabalhado, há um peso ou bilro, e as rende- rias os movimentam rapidamente, entrelaçando-os e tecendo a renda e produzindo uma percussão característica, pelo bater dos bilros.

Filé: A renda é feita sobre uma espécie de malha de linha que se assemelha a uma rede de pesca. Costuma ser associada à rede de pesca. Por essa razão, se diz que onde há pesca, se faz filé. Alagoas e Ceará são os principais núcleos produtivos.

Irlandesa: Ao contrário do que pode parecer, não veio da Irlanda, mas a história conta que foi trazida e ensinada por feiras irlandesas. É tradicional da pequena cidade sergipana de Divina Pastora, a 34 Km da capital, Aracaju. Foi declarada patrimônio histórico em 2009, pelo IPHAN. A renda é produzida entre duas fitas cilíndricas que são presas sobre o papel onde se fez o desenho da peça.

Renascença: É parecida com a renda Irlandesa, com a diferença que se usa uma fita plana e não cilíndrica chamada lacê. Há também diferenças nos pontos, mas também se trabalha sobre um papel com o desenho da renda. A região do Cariri, na Paraíba, e o Estado de Pernambuco são os principais núcleos produtivos.

Cada fio de linha que se entrelaça vai tecendo as rendas; diferentes nos pontos, nos formatos das fitas e no núcleo onde são produzidas. O artista Renato Imbroisi mergulhou no universo da revitalização técnica e estética do artesanato para registrar sua criação nos selos postais.

O Selo Especial Rendas Brasileiras utiliza o recurso da calcografia branca, que simula a renda. A folha composta por 06 quadras totalizando 24 selos também apresenta uma vinheta lateral e está disponível na loja virtual e nas principais agências dos Correios.

Os entrelaces das rendas as rendas têm relação direta com o tempo, a técnica e a delicadeza do trabalho artesanal. Uma arte nobre que encanta olhares pela sua tamanha beleza.

Bibliografia: MONTEIRO, Lívia. Histórias da Renda: seus diferentes padrões e técnicas. Disponível em: <https://blog.modacad.com.br/a-historia-da-renda/>. Acesso em: (22/06/2021).

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Selo Postal “Auto da Compadecida”: uma homenagem a Ariano Suassuna

Escrito por Christina Habli Brandão Dutra

Dia 16 de junho, aniversário de nascimento de Ariano Suassuna, uma data especialmente escolhida para o lançamento do Selo Especial Auto da Compadecida que também marca os 50 anos do Movimento Armorial, que tem no escritor um de seus fundadores.

A Arte Armorial Brasileira é aquela que tem como traço comum principal a ligação com o espírito mágico dos folhetos do Romanceiro Popular do Nordeste – Literatura de Cordel, com a música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus ‘cantares’, e com a xilogravura que ilustra suas capas, assim como com o espírito e a forma das Artes e espetáculos populares com esse mesmo Romanceiro relacionados.  Ariano Suassuna

A arte do selo retrata a estética armorial inspirada em elementos da cultura popular nordestina. O comunicador visual, Ricardo Gouveia de Melo, a esposa e o filho do escritor, Zélia e Manuel Dantas Suassuna assinam a arte do selo.

Dantas, filho do casal, conta que Auto da Compadecida foi prontamente associada ao amor imortal que uniu e seguirá a unir Zélia e Ariano. “Meu sangue ferve contra a vão Razão e pulsa seu amor na escuridão!”, diz Ariano em seu poema “A Mulher e o Reino”. A arte, através de composição digital, utiliza um desenho de Zélia Suassuna, que ilustrou a capa da mais recente edição da peça com uma fusão entre o ferro utilizado por Ariano (como uma espécie de identificação) e o de sua amada Zélia.

Escrita por Ariano Suassuna, em 1955, Auto da Compadecida é uma peça teatral em forma de auto composta por três atos. O drama acontece no sertão nordestino brasileiro, traz elementos da literatura de cordel e da comédia, além de ser uma mistura entre cultura popular e tradição religiosa.

A primeira encenação da obra aconteceu em Recife em 1956. Já em 25 de janeiro 1957, poucos dias depois de ter se casado com Zélia, Ariano estreia Auto da Compadecida no Rio de Janeiro em um festival nacional promovido por Dulcina na Cinelândia.


Estreia no Rio de Janeiro
(Fonte: Território do Conhecimento)

Na entrevista a seguir, o dramaturgo retrata sua emoção nessa estreia.

https://www.youtube.com/watch?v=SisBCTYHJ1I

Fonte: Território do Conhecimento

Auto da Compadecida teve sua primeira montagem há 65 anos, sendo Socorro Raposo a primeira atriz a interpretar Nossa Senhora. Sua primeira adaptação para cinema aconteceu em 1969, mas foi com a exibição de minissérie de TV, em 1999, que ficou popularmente conhecida.

A minissérie foi gravada em Cabaceiras, no sertão da Paraíba, uma cidade próxima a Taperoá, cidade em que as aventuras de João Grilo e Chicó são retratadas na peça teatral. Em 2000, a adaptação para TV ganhou as telonas de cinema sendo sucesso de bilheteria com mais de 2 milhões de espectadores. Além de ser premiada no Brasil e no exterior.

A live de lançamento do Selo Especial Auto da Compadecida e do documentário “Meio Século Armorial” acontece também no dia 16, às 19h, no canal do Youtube do Quinteto da Paraíba. O selo está disponível para venda na loja virtual dos Correios e nas principais agências.

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Correios lançou selo em homenagem aos 150 anos de nascimento do Maestro Tonheca Dantas

Os Correios promoveram nesse domingo (13), em Carnaúba dos Dantas (RN), o lançamento do selo comemorativo aos 150 anos de nascimento do Maestro Tonheca Dantas. O evento, que integra a programação em homenagem a esse ilustre músico e compositor potiguar, foi transmitido online, às 11h, no canal do YouTube da Filarmônica Onze de Dezembro.

Autodidata e intuitivo, Tonheca Dantas fez parte de várias bandas militares tocando os mais variados tipos de instrumentos. Em 1898, foi contratado como maestro da Banda de Música da Polícia Militar, além de ter sido regente da Banda de Música do Corpo de Bombeiros em Belém do Pará, em 1903.

As composições do Maestro Tonheca Dantas ficaram conhecidas em todo o Brasil e fora dele. A sua música de maior notoriedade é “Royal Cinema”, apontada pelos pesquisadores como sua mais notável produção e tocada durante a Segunda Guerra Mundial pela Rádio BBC de Londres, mas infelizmente executada como “autor desconhecido”. Muitas outras composições conseguiram o acatamento das mais primorosas orquestras, a exemplo das valsas “Delírio” e “A Desfolhar Saudades”.

O Maestro Tonheca Dantas nasceu em 13 de junho de 1871 em Carnaúba de Baixo (depois Carnaúba dos Dantas), então pertencente ao Município de Acari, na região do Seridó do Rio Grande do Norte.  Filho do Tenente-Coronel João José Dantas e da escrava alforriada Vicência Maria do Espírito Santo, recebeu o nome de Antônio, em cumprimento à tradição luso-espanhola de reverência ao santo do dia. Antônio Pedro Dantas, por completo, apelidado Tonheca.

Aos 7 de fevereiro de 1940, aos 68 anos de idade, Tonheca Dantas falece na cidade de Natal/RN, deixando seu legado na história da música não só do Rio Grande do Norte, mas do Brasil. O reconhecimento de sua importância está marcado pela aposição de seu nome a uma sala do Teatro Alberto Maranhão e pelo patronato da cadeira 33 da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras.

Arte do selo – A emissão busca ressaltar a importância e resgatar a história do Maestro Tonheca Dantas. O desenho é de autoria de Francisco Iran e a fotografia de Evaldo Gomes. O selo é composto pela foto do maestro que tem ao fundo a partitura da valsa Royal Cinema e a ilustração de um de seus instrumentos, o bombardino. Já a folha é composta por 12 selos e apresenta uma vinheta com destaque ao aniversário de 150 aos do maestro. Com tiragem de 120 mil exemplares e valor unitário de 1º Porte da Carta (R$ 2,10), o selo está disponível para venda na loja virtual e, também, nas principais agências dos Correios.

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Filatelia – Confira a programação dos selos especiais de 2022

Foram homologados, pelo Ministério das Comunicações, os oito motivos que estarão presentes na Programação Anual de Selos Comemorativos e Especiais de 2022, que retrata atos históricos, personalidades e a diversidade cultural do país.

São eles:

1.       Vacinas;

2.       Centenário da Semana de Arte Moderna;            

3.       Homenagem à Daniel Azulay;         

4.       Centenário da Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul;             

5.       Pôr-do-sol;            

6.       200 Anos da Independência do Brasil;         

7.       Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim; e         

8.       As Vilas e as Populações Caiçaras do Brasil.

O anúncio oficial do MCom ocorreu após a 119ª Comissão Filatélica Nacional (CFN) eleger, em votação, os motivos dos selos comemorativos e especiais associados que foram selecionados com base nas sugestões  de toda a população através do sistema Sua Ideia Pode Virar Selo realizadas no ano anterior.

A comissão é composta por até 21 participantes, entre representantes dos Correios e instituições externas, ABL (Academia Brasileira de Letras), SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus), MCom ( Ministério das Comunicações) , FEBRAF (Federação Brasileira de Filatelia).

Vale lembrar que, para 2023, o prazo para o público enviar novas ideias e sugestões de motivos para selos é até 30 de novembro deste ano. Os critérios estão disponíveis na portaria do MCOM 2014/2021. Não perca essa oportunidade de ver a sua ideia estampada em selos. Acesse o site dos Correios e use a criatividade

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Selo Série Profissões: Gari

Escrito por: Christina Habli Brandão Dutra

Quarto lançamento do ano, a Emissão Especial Série Profissões: Gari é o primeiro de uma sequência de 5 selos previstos até 2025. Presente entre os oito motivos eleitos na 118ª CFN, esta emissão faz parte do Programa de Selos Postais 2021 e vem para destacar a importância daqueles que são responsáveis pela limpeza das vias públicas.

Vários estudos apontam sobre a invisibilidade de algumas profissões, e o gari faz parte desse hall. Muito disso está ligado com a nossa história e este selo vem para homenagear estes profissionais que mostram diariamente o seu valor, que ganhou destaque de serviço essencial em tempos de pandemia por manter a saúde de todos nós.

Mesmo com uma bagagem histórica que nos marca, sempre é tempo de fazer melhor, rever pontos de vistas e padrões. Em 2012, Renato Sorriso, já conhecido e reconhecido em solo Tupiniquim pelo seu carisma na Marquês de Sapucaí, participou da cerimônia de encerramento dos Jogos de Londres lado a lado de grandes personalidades, como Pelé, que representam a brasilidade do nosso povo. Já em 2020, Tales Alves ficou conhecido nas ruas de Belo Horizonte como o Gari Galã, que já foi caixa de supermercado e escolheu ser gari.

Isso tudo mostra que o nosso olhar, e claro, as nossas atitudes são capazes de trazer o novo, e enxergar e valorizar todas as profissões. E mais do que isso, os rótulos não cabem mais. O que vale são os exemplos, as práticas e a honestidade de cada profissional.

O reconhecimento desta categoria por meio do selo postal é, além de uma justa homenagem, a oportunidade de passar uma mensagem imagética destes trabalhadores, por vezes invisíveis, como cidadãos de grande relevância.

Emissão Postal Especial – Profissão: Gari

O artista do selo é Bernardo França (1982), brasiliense que vive e trabalha em São Paulo desde 2009, ilustrador requisitado do mercado editorial, diretor de arte, cenarista para animação além de scriber.

Co-autor do livro infantil “São Paulo é Legal! Patrimônio”, autor de “Mulher-de-sexta”, Bernardo tem seus traços ilustrando livros de grandes editoras e dos maiores veículos de comunicação do Brasil. Além disso é diretor de arte do desenho animado nacional “Oswaldo”, cenarista de animação do longa-metragem “Historietas – O Filme” e da série infantil animada “Historietas Assombradas”, diretor de arte (cenários e designer de personagens) do programa “Vai que Cola” (2016). No exterior já ilustrou em diversas oportunidades para a revista Euroman da Dinamarca.

O ilustrador foi convidado, junto com outros três artistas, para participar da seleção para criação da arte do selo do Gari. Seu trabalho foi a escolhido pela comissão avaliadora desta emissão postal, que usou critérios como criatividade, apelo comercial, qualidade plástica, dentre outros.

Colecionador de disco de vinil e plantas, Bernardo conta um pouco de sua experiência como artista dessa emissão na entrevista a seguir:

Bernardo: Quando li que o homenageado do selo seria o Gari, fiquei muito feliz de participar. E pela admiração que carrego pela profissão sabia que entregaria algo que me orgulhasse de ter feito.

Filatelia: Como foi seu processo criativo para ilustração do selo Gari?

Bernardo: Recebido o convite para participar do concurso, eu começo desenhando ideias na cabeça até o momento que quero vê-las no papel. São rabiscos que apesar de seu estágio inicial já carregam boa carga da mensagem final. Escolhido o design que julguei melhor atender ao objetivo eu levo para o computador e começo do zero a finalização da obra. Nessa etapa entra outro elemento de grande importância, a seleção das cores. No início eu cheguei a desenhar alguns sketches de gari que usa o carrinho de mão, pá e vassoura e outros apenas com os garis de caminhão, da limpeza mais pesada. Mas seria injusto retratar apenas um ou outro. Logo entendi que unir os dois no selo seria melhor e mais justa opção.

Rascunho 1

Rascunho 02

Rascunho 03

Rascunho 04

Filatelia: Falando sobre o Gari, pra você qual a importância social dessa profissão?

Bernardo: Suma importância. Tenho grande admiração, especialmente pela equipe de profissionais que trabalha nos caminhões. Morando em uma cidade gigantesca como São Paulo, eu fico pensando o caos que seria sem nossos profissionais da limpeza urbana.

Filatelia: Como foi o desafio de fazer uma ilustração em um espaço tão restrito como o selo? Como foi essa experiência?

Bernardo: No dia a dia da profissão eu me deparo com serviços de ilustração nas mais variadas dimensões. Pode ter 4 metros ou 4 cm como o selo. Acho que já estou acostumado a essas adversidades, mas num trabalho como esse do selo é sempre importante privilegiar a leitura da imagem focando na simplicidade justamente por causa do tamanho da imagem final.

Filatelia: Os selos ou a filatelia fazem parte de algum momento da sua história?

Bernardo: Sou um apreciador distante. Gosto muito de bandeiras, heráldica, logomarcas, mas meu conhecimento do mundo dos selos é bem curto.

Filatelia: Se esta é a sua estreia na filatelia, o que isso representa pra você?

Bernardo: Trabalhando como ilustrador, idas aos Correios para envio de contratos eram bem comuns. Apesar do breve período entre ser chamado ao guichê até a aplicação dos selos no envelope pelo profissional dos Correios eu sempre olhava curioso quais selos eram colados. Teve um selo que era bem recorrente (também da série sobre Profissões), era o selo da Costureira. Eu lembro de imaginar como seria legal, eu sendo ilustrador e usuário dos Correios, ver um selo com um desenho meu. Comemoro como uma realização pessoal.

Filatelia: Observando alguns de seus trabalhos a vivacidade nas cores é muito presente trazendo muito da brasilidade e do popular para sua arte. Este é o seu estilo, uma espécie de marca registrada?

Bernardo: Como artista gráfico eu tento ao máximo me manter em constante movimento e seguir novos caminhos, mas claro que alguns elementos e diretrizes se fazem presentes ao longo da minha trajetória. Confesso que essa qualidade da brasilidade/popular é um tanto recente porém consciente. Afinal de que vale criar imagens que não representam nosso tempo e nosso povo?

Se interessou? Conheça mais do trabalho de Bernardo França em seu perfil do Instagram (@delaburns).

Vale lembrar que na filatelia, o gari foi destaque entre os profissionais que estão na linha de frente e são essenciais, no Bloco de Selos Especiais Combate à COVID-19, lançado em junho de 2020.

Serviços Essenciais

O edital da emissão especial Profissão Gari já está disponível aqui no Blog da Filatelia e os selos estão a venda na loja virtual.

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