Os Correios e a Corte Geral da Nação Portuguesa

Texto por Mayra Guapindaia

Hoje, dia vinte e três (23) de agosto, entra em circulação o penúltimo selo da série 200 anos da Independência, alusivo à participação do Brasil nas Cortes Gerais de Lisboa.

A reunião da Corte Geral da Nação portuguesa entre 24 de janeiro de 1821 e 4 de novembro de 1822 foi consequência direta da Revolução do Porto. O movimento foi inspirado pelos ideais liberais da época, e de acordo com a experiência da Constituição de Cádiz, assinada pelo Rei Espanhol Fernando VII em 1820. Assim, deputados de diversas regiões de Portugal foram eleitos para discutir, nas Cortes Gerais, a primeira Constituição Portuguesa, da qual seria signatário o rei de Portugal.

Inicialmente, não havia a previsão de participação de deputados brasileiros, o que gerou uma série de protestos. Finalmente os deputados das províncias brasileiras que demonstravam apoio à Revolução do Porto, foram escolhidos e tomaram assento na Assembleia somente em agosto de 1822. Nem todas as províncias eram a favor das Cortes e, especialmente, do retorno de D. João VI à Portugal. Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul não enviaram deputados, permanecendo no Brasil em favor ao então Príncipe Regente D. Pedro.

As Cortes de Lisboa fazem parte do longo processo histórico que culminou na Independência do Brasil. Seu contexto importa na medida em que permite perceber o gradual afastamento entre os interesses dos deputados brasileiros e portugueses, o que levaria posteriormente à decisão brasileira pela ruptura política.

Não obstante esta falta de conciliação, é inegável que as Cortes de Lisboa para o Brasil significaram a participação de uma primeira experiência parlamentar para a construção de uma carta constitucional. Portanto, as Cortes influenciaram diretamente a experiência parlamentar brasileira posterior, ou seja, após a Independência. Isso pode ser notado na própria estrutura organizacional da Constituinte de 1823 e, posteriormente, no texto constitucional de 1824, que guarda inúmeras semelhanças com a Constituição Portuguesa de 1822.

Um dos pontos de sincronia diz respeito justamente às discussões parlamentares sobre a questão da Administração dos Correios e da garantia do direito individual, por parte do Estado, da inviolabilidade das cartas. Este debate estava de acordo com a visão liberal da época da manutenção da privacidade como extensão dos direitos fundamentais. Ele aparece tanto nas atas das Cortes de Lisboa quando na documentação referente à Assembleia Constituinte em, 1823.

Historicamente, a questão do sigilo das cartas não é nova, e não surgiu somente com o liberalismo político do século XIX. As Ordenações Filipinas, compilação jurídica portuguesa do século XVII, continha um artigo intitulado Dos que abrem as cartas do Rei, ou da Rainha, ou de outras pessoas, condenando a abertura indevida de cartas e prevendo sanções que poderiam acarretar até em pena de morte. Já em final do século XVIII, com as reformas postais em Portugal e em seus domínios ultramarinos, uma série de normas foram publicadas. Em algumas, é possível perceber o refinamento da questão da segurança da correspondência, que ficava cada vez mais no encargo dos Correios como instituição pública de Estado. O empregado dos Correios, que, a esta altura já era um funcionário público, pago pelo real erário, que cometesse o crime de abrir cartas, deveria ser preso e punido segundo as leis.

É principalmente no período das reformas postais de 1798 que, cada vez mais, os Correios passam a ser valorizados como uma questão de Estado. Vale lembrar que, antes deste ano, os serviços postais eram monopólio privado de uma família, os Gomes da Mata, que tinham direito à exploração financeira da entrega de cartas. Toda a estrutura operacional e administrativa também era provida por esta família, sem recair nas mãos da monarquia. Em 1797 o ofício de Correio-mor foi reintegrado ao patrimônio régio, e os Correios passam a ser providos diretamente pela Coroa. Assim, a contratação de funcionários, manutenção das malhas postais e a segurança das cartas passou a fazer parte das responsabilidades diretas do Estado.

Esta estrutura dos Correios, tanto no Brasil quanto em Portugal, se manteve intacta durante o primeiro quartel do século XIX. Entretanto, na altura da reunião das Cortes de Lisboa, em 1821, havia muitas denúncias e insatisfações quanto ao serviço postal. Os deputados estavam preocupados com o desvio das cartas que muitas autoridades e pessoas importantes sofriam. Isso significava que a Administração Postal não estava agindo de acordo com as normas que a regiam desde 1798. Além disso, entrava em discussão o princípio liberal do direito à privacidade, algo que até então estava ausente das discussões políticas. Na seção de 8 de junho de 1821, o deputado Pereira do Carmo dá um exemplo concreto da desconfiança da abertura de cartas no serviço postal e como, por isso, os correspondentes preferiam escrever cartas sem muitos detalhes sobre assuntos sigilosos:

Satisfazendo ao que prometi na Sessão de ontem, isto é de reforçar a indicação do senhor Baeta acerca da falta de pontualidade na administração dos Correios. Ponho sobre a Mesa uma Carta assinada por Frei Joaquim do Sagrado Coração de Maria, morador no Convento do Senhor da Fraga, junto a Viseu, em que se desculpa de me não escrever Carta volumosa, e de não pôr no Sobrescrito o meu cargo de Deputado, porque nos Correios se abrem, e somem (diz elle) as cartas volumosas ou extraordinárias, dirigidas aos senhores Deputados, nas quais se presumem inclusos alguns papéis, que devem ser apresentados ao Soberano Congresso, pertentendo-se por esta maneira cortar acintemente as communicações entre a Nação e seus Representantes.

Para evitar a quebra do sigilo das cartas, e a responsabilização da Administração de Correios e dos agentes responsáveis, os deputados incluíram na Constituição Portuguesa de 1822, no Título 1: Dos direitos e deveres individuais dos portugueses, o artigo 18º, que afirma: o segredo das cartas é inviolável. A administração do correio fica rigorosamente responsável por qualquer infração deste artigo.

Os debates que ocorreram na Assembleia Constituinte brasileira de 1823 foram similares aos das Cortes de Lisboa, e muitos deputados apontaram a falha da Administração de Correios em manter o segredo das cartas. E, como consequência dessas discussões, o Artigo 179 da Constituição Brasileira de 1824, que garantia a inviolabilidade dos direitos civis, e políticos dos cidadãos brasileiros, tendo por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, trazia, no item XXVII, o exato mesmo conteúdo da Constituição Portuguesa de 1822 sobre a inviolabilidade das cartas.

Ou seja, a partir deste debate da primeira experiência constitucional portuguesa, ficou reconhecido o direito individual ao sigilo das comunicações à distância, sendo que os Correios foram os principais responsáveis pela manutenção deste interesse de cada cidadão. Com este caso, podemos perceber como o sistema postal, em Portugal e no Brasil, foram reconhecidos enquanto instituição pública essencial para a manutenção de direitos básicos de cidadania.

Referências:

BRASIL. Constituição política do Império do Brasil (25 de março de 1824). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm>. Acesso em: 27/07/2021

CABRAL, Dilma. Cortes gerais e extraordinárias da nação portuguesa. Disponível em: <http://mapa.an.gov.br/index.php/dicionario-periodo-colonial/164-cortes-gerais-e-extraordinarias-da-nacao-portuguesa>. Acesso em: 27/07/2021.

DOLHINKOFF, Miriam. História do Brasil Império. São Paulo: Contexto, 2020.

POTTUGAL. Constituição de 23 de setembro de 1822. Disponível em: <https://www.parlamento.pt/Parlamento/Documents/CRP-1822.pdf>. Acesso em: 27/07/2021

PORTUGAL. Diários das Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa. Anos 1821 e 1822. Disponível em: <https://debates.parlamento.pt/catalogo/mc/c1821>. Acesso em: 27/07/2021

Publicado em Programação Filatélica 2021 | 1 Comentário

Série Independência e o Selo postal dos 200 anos da Revolução do Porto

Texto por Mayra Guapindaia

Hoje, 24 de agosto, entra em circulação o quarto selo da série “Brasil, 200 anos da Independência”, feita em parceria com a Câmara dos Deputados. Nesta emissão, é focalizado um importante evento para compreender o processo da emancipação política do Brasil em relação a Portugal: A Revolução do Porto que, este ano, celebra o seu bicentenário.

Este movimento faz parte do amplo e intricado contexto histórico-político que cercou a Independência brasileira. O Brasil, então já elevado à condição de membro do Reino Unido, juntamente com Portugal e Algarves, possuía grande relevância no Império português. Afinal, o Rei e sua Corte estavam instalados no Rio de Janeiro desde 1808.

Entrementes, alguns grupos sociais portugueses eram a favor da volta de de D. João para a Península Ibérica. Com a derrota napoleônica em 1815, e o fim da ocupação francesa em Portugal, eram diversos os argumentos pelo retorno do Rei, uma vez que a mudança para o Brasil foi justificada devido as ameaças da França.  E esse foi um dos principais objetivos do movimento que tomou lugar em 24 de agosto de 1820, apoiada sobretudo por liberais monarquistas. Outra das suas características era a clara tendência para a moderação do poder real por meio da promulgação de uma Constituição e, por isso, o evento também é conhecido como “Revolução Constitucionalista”. Portanto, é um marco do enfraquecimento da autoridade monárquica e abertura para ideais liberais.

Esta “Revolução” não deve ser entendida com o significado atual que temos da palavra, associado a motim ou tumulto. Na verdade, foi um evento pacífico, liderado por militares. Os próprios idealizadores do movimento temiam uma associação com Revolução Francesa e seus ideais anti-monárquicos. A ideia era manter a monarquia portuguesa, embora com poderes limitados pela carta constitucional. Por isso, preferiam o termo “regeneração” (CARDOSO, 2019, p.19).

Com a deflagração dos eventos em Lisboa, em 15 de setembro, o próximo passo foi a convocação das Cortes, que não ser reuniam desde 1689, para a elaboração da Constituição. Por fim, D. João VI concordou em retornar à Portugal e jurar fidelidade à nova carta constitucional e ele e sua corte zarparam do Rio de Janeiro em 26 de abril de 1821.

Em um primeiro momento, boa parte das províncias brasileiras foram favoráveis à Revolução e aderiram a sua causa. Inclusive, na reunião das Cortes Constituintes em 1821, responsáveis por elaborar o texto da nova Constituição, contaram com deputados brasileiros que, até o último momento, defenderam a união luso-brasileira. Contudo, estes representantes buscavam um acordo que favorecesse a liberdade política das províncias, como, por exemplo, a formação de uma Regência com nomes indicados pelos governos provinciais (BERBEL, 2006, pos.2252). De uma maneira geral as províncias, buscando autonomia de governo frente à centralização do poder no Rio de Janeiro, então capital, foram favoráveis, até certo ponto, aos ideais constitucionais (ENDERS, 2015, Pos. 411).

Contudo, uma região bastante prejudicada pelos planos constituintes foi, justamente, o Rio de Janeiro, que então perderia a autoridade enquanto capital. Era defendido, dentre outras questões, o fim das instituições centrais construídas na cidade desde 1808 (Idem, pos.432). Então, agentes políticos antes a favor da manutenção do Império, passaram a se inclinar cada vez mais à separação política entre Brasil e Portugal.

Aos poucos, preocupadas com a perda de autonomia diante da inflexibilidade das Cortes reunidas em Lisboa, muitas províncias também aderiram a este plano e voltaram para a órbita de influência do Rio de Janeiro (Idem, pos.449). Contudo, locais como Bahia, Maranhão e Pará, se mantiveram fiéis à causa portuguesa, sendo que a adesão aos planos independentistas ocorreu nesses lugares somente a partir da intervenção militar (BERBEL, 2006, pos. 2304).

Portanto, a Revolução do Porto deve ser entendida a partir da complexa conjuntura política do Império luso-Brasileiro naquele momento. A Independência, que ocorrerá nos passos posteriores a esse evento, não era um plano claro e definido a princípio, e foi sendo estruturada enquanto possibilidade no desenrolar dos fatos. Mesmo em 1820, a opção pela separação ainda não era clara ou mesmo a melhor opção para diversos grupos políticos que então estavam em debate. É importante, portanto, inserir essa parte da história do Brasil na longa duração (PIMENTA, 2008, p.85).

A partir desta discussão, podemos então analisar este selo postal, em conjunto com os outros da série. É perceptível, justamente pelo caráter seriado dos mesmos e a alusão à eventos anteriores a própria Independência, que há a preocupação em mostrar esta parte da história brasileira como um processo. Assim, não compartilha a ideia de que a mesma foi apenas um evento isolado, fruto de vontades individuais.

Além disso, a emissão serve como importante meio de divulgação de uma fonte iconográfica da época, e sua observação pode nos levar a refletir sobre como as pessoas daquele período pensavam a Revolução Constitucionalista. O selo traz uma das gravuras de Constantino Fontes (1777 – 1840), a qual faz parte de uma série de desenhos, baseados nas obras de Antonio Maria da Fonseca intitulada “Alegoria à Constituição”. O que vemos na imagem é, justamente, uma representação artística dos acontecimentos de 24 de agosto de 1820. Atualmente, estas e outras gravuras fazem parte do acervo da Sociedade Martins Sarmento, em Portugal.

O selo e a gravura nele reproduzida são subsídios para ajudar a pensar a história da Independência, bem como o contexto social e político deste momento peculiar. A observação deste pequeno pedaço de papel pode levar aos colecionadores, ou mesmo a alunos em sala de aula, incentivados pelo professor, a pensar quais as características deste evento histórico, qual a influência do pensamento liberal neste processo, que tipo de Constituição os deflagradores do movimento pretendiam promulgar e por quais motivos, e qual o diálogo deste evento com a separação entre Brasil e Portugal. Por fim, pode ser útil também à análise de qual tipo de representação imagética este e outros selos da série dão à Independência, ou seja, como este processo vem sendo reconstruído por mídias como o selo postal nas vésperas dos seus 200 anos. Nos outros três selos da série, é possível ver mais alguns eventos que estão ligados ao processo de Independência: Bicentenário de D. Leopoldina, Bicentenário da Aclamação de D. João VI e Bicentenário do retorno de José Bonifácio ao Brasil. Estes, é claro, não esgotam as inúmeras abordagens que podem ser feitas sobre a temática, e são, como toda fonte histórica, um recorte que serve à reflexão de como o evento histórico é atualmente retratado.



Referências

BERBEL, Márcia Regina. Os apelos nacionais nas cortes constituintes de Lisboa (1821/22). In: MALERBA, Jurandir (org) A Independência brasileira: novas dimensões. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. Edição do Kindle. Pos.1977-2336.

CARDOSO, José Luís. A Revolução Liberal de 1820. Lisboa: CTT, 2019.

ENDERS, Armelle. Os Vultos da Nação: fábrica de heróis e formação dos brasileiros. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2014. Edição do Kindle.

PIMENTA, João Paulo. A Independência do Brasil e o liberalismo português: um balanço da produção acadêmica. Revista Digital de História hibero-americana. Vol 1, n.1, 2008, pp. 70-105.

Publicado em Programação Filatélica 2020 | 3 Comentários

Emissão Postal Comemorativa – Série 200 anos da Independência do Brasil: Bicentenário do Retorno de José Bonifácio ao Brasil

Esta emissão postal é a terceira de uma série de seis, alusiva ao 200º aniversário da independência do Brasil, uma parceria da Câmara dos Deputados com os Correios que se iniciou em 2017 e se estenderá até 2022, culminando com a celebração, em 7 de setembro daquele ano, dos 200 anos da proclamação de independência. No Selo Comemorativo é mostrado retrato do Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva, personagem decisivo e protagonista inesquecível da nossa história.

Está disponível para venda na internet por meio da Correios Online.

Publicado em Programação Filatélica 2019 | Deixe um comentário

A Imperatriz Leopoldina é tema de um dos selos que comemora os 200 anos de Independência do Brasil

A Imperatriz D. Leopoldina, que teve papel fundamental em um dos acontecimentos mais importantes da nossa história: a Independência do Brasil, é tema da Emissão Comemorativa Série Relações Diplomáticas: Brasil – Áustria 200 Anos de Independência – Bicentenário da vinda de D. Leopoldina, lançada pelos Correios na terça-feira (7/11) .

 

A Emissão é a primeira de uma série de seis selos, denominada “Brasil, 200 anos de Independência”, que começa em 2017, com o bicentenário da vinda de Dona Leopoldina, e se estende até 2022, com a comemoração dos 200 anos da Proclamação da Independência.

 

A Arte do selo foi concebida pelas artistas Ely Borges e Isabel Flecha de Lima. Na parte superior da Emissão está a inscrição “Brasil, 200 anos de Independência” e o uso das cores de um nascer do sol identificam o alvorecer de uma nação. A seguir, a imagem da nau D. João VI, navio de construção sofisticada, que em 1817 trouxe a Princesa ao Rio de Janeiro, representado em aquarela.

 

Abaixo, o retrato da Princesa Leopoldina, gravura que mostra toda sua jovialidade na época da viagem ao Brasil. Por último, sua assinatura, em tinta calcográfica (relevo), já com a adoção do nome Maria Leopoldina, em homenagem à nova Pátria.

 

A folha com 12 selos traz uma vinheta identificando a emissão Série Relações Diplomáticas Brasil – Áustria, o Bicentenário da Vinda da Princesa e a efígie de Dª. Maria Leopoldina. O valor facial de cada selo é R$4,20. Foram utilizados recursos de tinta calcográfica e computação gráfica.

Publicado em Programação Filatélica 2019 | 2 Comentários

Entrevista – 100 anos da Ulysses

No dia em que celebramos o Bloomsday, a filatelia brasileira lança a Série Relações Diplomáticas Brasil – Irlanda marcando os 100 anos da primeira publicação da obra Ulysses, de James Joyce, que narra os acontecimentos vividos pelo protagonista Leopold Bloom durante 19 horas do dia 16 de junho de 1904. A data conhecida como Bloomsday é comemorada na Irlanda e se transformou em uma efeméride inserida do calendário cultural de vários países abrangendo, assim, um público muito além do círculo de leitores da obra.

Irlanda, como fundo. Em destaque, em jogo tipográfico, “Ulysses 100 Anos” cruza com os dizeres “Yes”, (Sim) característico da obra, e “James Joyce”, aproveitando o posicionamento das letras. No intuito de reforçar a identidade irlandesa para este selo, foi utilizado largamente o verde com alguns toques de laranja. Com uma tiragem de 64.000 selos e valor facial de R$ 2,60, esta emissão está à venda na loja virtual e também nas principais agências de Correios.

Em uma emissão da Série Relações Diplomáticas, a parceria com a embaixada da Irlanda é fundamental para este lançamento estreitando laços entre os dois países e trazendo sua contribuição no edital do selo.

Conversamos também Luísa de Freitas, brasiliense, pesquisadora e professora de línguas e literatura conhece a fundo as quase 900 páginas do livro em que todos os acontecimentos se dão em um único dia. Além do texto no edital, a pesquisadora também apresenta algumas curiosidades na entrevista a seguir:

1. Como surgiu seu interesse pela obra?
Comecei a me interessar pela obra de James Joyce na adolescência, lendo Dublinenses. Esses contos foram o início de um fascínio pessoal que se desenvolveria em interesse de pesquisa com o passar dos anos. Também passei por Um Retrato do Artista Quando Jovem e Exilados entre as leituras iniciais esparsas de Ulysses e Finnegans wake. Enquanto eu era estudante de Letras, o professor Piero Eyben promoveu reuniões para ler Ulysses em grupo na UnB. Isso propiciou a minha primeira leitura aprofundada do romance, com mais atenção e com o estímulo dos encontros.

2. Ulysses é conhecido como um livro denso e de difícil leitura. Quanto tempo você demorou pra ler o livro?
Não sei dizer ao certo o tempo que levou, mas foram meses a fio. Entre abrir o livro pela primeira vez na vida, deixá-lo de lado, voltar e concluir a leitura integral, passaram-se alguns anos. Fui alimentando esse interesse em meio a outras leituras e tarefas não relacionadas que atravessaram o processo. É bem verdade que leituras lineares e ininterruptas de livros como Ulysses são dificultadas pela falta de tempo, mas isso não deve desanimar ninguém. Afinal, ler por partes e aos poucos é muito melhor do que correr pelas páginas sem aproveitar. Ulysses é um romance que se pode ler e reler a vida toda.

3. Tem alguma dica para ler o livro?
Tudo depende das possibilidades e do contexto de cada um. Se for possível reunir pessoas interessadas na leitura, acho que isso pode fazer muita diferença e potencializar o prazer da incursão. Ler é uma atividade essencialmente solitária (e isso não é ruim!), mas Ulysses incentiva muito o compartilhamento, o que cria outra experiência. Isso não se deve só às dificuldades, mas também ao humor, às potencialidades de ler em voz alta etc. Em termos de apoio bibliográfico, o tradutor e professor Caetano Galindo lançou Uma Visita Guiada, que acredito ser muito útil ao público brasileiro, e há notas na tradução da professora Bernardina da Silveira Pinheiro.

4. Você faz parte de algum grupo de leitura da obra ou ajuda a leitura? Indica algum grupo de leitura?
Talvez haja grupos de leitura em atividade que eu desconheça, vale sempre procurar. Dia 13/06, dei uma aula aberta sobre o livro, online, em homenagem ao centenário. Para assistir a aula, basta se inscrever aqui.

A partir de primeiro de agosto, vou ministrar um curso de leitura acompanhada de dois meses, também online. Quem está promovendo é o Lugar de Ler, centro literário de São Paulo, e sempre são oferecidas bolsas.

5. Você já foi pra Irlanda? Teve a curiosidade de fazer o caminho do livro?
Pude ir uma vez, felizmente. Estive lá em 2019, logo após a conclusão do meu doutorado. Foram poucos dias, mas consegui fazer alguns trajetos na região mais central da cidade. Um dos locais que conheci foi a antiga farmácia Sweny’s, cuja caracterização vitoriana foi mantida. O local funciona hoje como centro joyciano e é mantido por P.J. Murphy e outros voluntários. Espero poder voltar a Dublin para conhecer muito mais, ainda há muito por ver.

6. Dia 16 de junho é conhecido como Bloomsday. Você já comemorou esta data? Como foi a experiência?
Na minha única ida à Irlanda, era Bloomsday. A melhor parte da experiência foi ver a difusão de celebrações pequenas e independentes pela cidade, organizadas por entusiastas diversos. Pude ver como a obra ressoa para além do turismo e dos ambientes acadêmicos. Ver a ficção mobilizar pessoas é muito interessante. Para mim, o Bloomsday é uma oportunidade para reunir pessoas e ouvir ou assistir a algo relacionado ao livro, ler trechos, enfim; não há roteiro específico. Em Brasília, também estive em alguns dos eventos promovidos pelo professor Piero Eyben, incluindo o de 90 anos de Ulysses, em 2012, quando o poeta e tradutor Augusto de Campos veio à UnB. É interessante justamente a variedade de possibilidades do Bloomsday, que pode ensejar eventos em centros culturais e universidades, mas também em bares, sebos, livrarias ou mesmo em casa.

7. Qual a importância desta homenagem da filatelia aos 100 anos da obra?
A recepção da obra de Joyce no Brasil, de forma geral e quanto a Ulysses, é antiga e continua se desenvolvendo. Fomos pioneiros em trazer para a língua portuguesa e continuamos produtivos em retraduções. A homenagem filatélica pode ser uma maneira de reconhecer essa ligação cultural, essa presença da obra por aqui. Ulysses completou 100 anos e ainda ressoa no Brasil. Suscita reflexões que facilmente dialogam com o que vivemos hoje.

Luísa de Freitas nasceu em Brasília em 1990. É pesquisadora e professora de línguas e literatura. Graduou-se em Letras e fez mestrado e doutorado em teoria literária pela Universidade de Brasília (UnB). Desenvolveu pesquisa em Yale com bolsa Capes de doutorado sanduíche. Em seus estudos, concentrou-se na última obra de James Joyce, Finnegans wake. Integra o Grupo de Estudos Joycianos no Brasil, que tem sede na Universidade Federal Fluminense (UFF) e é liderado pelo professor Vitor Alevato e pela professora Dirce Waltrick do Amarante.

Publicado em Programação Filatélica 2019 | Deixe um comentário

Série Relações Diplomáticas Brasil – Irlanda: Ulysses 100 anos

Confira abaixo, na integra, as traduções em inglês e irlandês dos textos do edital da emissão comemorativa ao centenário de Ulysses

See below the full translation, in English and in Irish, of the offical text for the stamp issue

100 years of Ulysses by James Joyce

It is thanks to the Irish writer James Joyce (1882-1941) that we celebrate, in 2022, one hundred years of readings and discussions about Ulysses, one of the most impactful works of the 20th century. Published on February 2nd, 1922, the author’s fortieth birthday, the novel marked literary modernism and established itself as one of the most relevant English-language prose compositions of all time.

Despite deciding, at the age of twenty-two, to leave Ireland, James Joyce wrote incessantly about his native country and, in particular, about Dublin. In Ulysses, we witness a day — June 16th, 1904 — in which the characters go through different points of the Irish capital, and Joyce mapped them using real locations of the city. These displacements are remembered in the annual celebrations of Bloomsday, an event named after the protagonist Leopold Bloom. The celebration of Joyce’s novel takes place not only in Dublin, but in several cities in Brazil and the world. We can therefore say that Ulysses continues to mobilize, literally and figuratively, readers and readings in countless countries.

Ulysses has its structure inspired by episodes from Homer’s Odyssey, a work from which countless parallels were derived, more variegated than direct. The title of the novel is, after all, the Latin version of the name of the Homeric character, Odysseus, which already points out the tortuous path of cultural tradition that Joyce travels. Ulysses subverts the Homeric source by having as the protagonist, in the place of an epic hero, a citizen simultaneously ordinary and outsider, even victim of prejudice and cursing, but also more pacifist than warlike, more supportive than combative. Joyce’s odyssey is not centered on glory, but embraces humanity with its beauties, oddities and imperfections. It shows that literature and life can be filled with improbable humor, as well as nostalgia and melancholy, with no clear boundaries between these aspects. As Joyce’s biographer Richard Ellmann says, Ulysses has, in many senses, love at its center, and what is divine about Bloom is his own humanity. None of this detracts from the critical and even radical nature of the novel — rather, it is what constitutes it.

Although Ulysses was released a hundred years ago, its episodes began to circulate in literary magazines from 1918 onwards. With abundant intertextual relations and progressively more inventive language, his fame was consolidated even before completion. There was criticism and even censorship in the English-speaking world (except in Ireland), with resistance to Joyce’s experimentalism and his proposal to write an all-too-human novel from the epic.

In the ensemble of his prose, Joyce composed a particularly cohesive work. Ulysses succeeds A Portrait of the Artist as a Young Man, from 1916, whose protagonist is Stephen Dedalus, one of the main characters in the 1922 novel. The collection of short stories Dubliners, from 1914, also includes characters who reappear in Ulysses. Moreover, there is a clear literary crescendo. At a conference to promote Joyce’s novel in Paris in 1921, the French writer Valéry Larbaud mentioned how much each of the previous works contributed to the composition of Ulysses or foreshadowed some of its qualities. Joyce’s poems in Chamber Music (1907) contained lyricism; Dubliners, the specific atmosphere of the Irish capital; A Portrait, in turn, the images, analogies and symbols that would integrate the later novel. The combination of these characteristics and the innovations of Ulysses resulted in a text with “the complexity of a mosaic” (kaleidoscopic, certainly).

The map that accompanies the commemorative stamps indicates the most relevant places among those mentioned in the episodes of Ulysses (whose names come from the Odyssey). An exhaustive list would be long: in Leopold Bloom’s walk, many places are mentioned, for example, in Os Lestrígones/Lestrigões (as the eighth episode is called in the translations of Bernardina Pinheiro and Caetano Galindo, respectively) (“Lestrygonians”, in English), but the candy store appears at the beginning and the main point is Davy Byrne’s pub. There are also multiple routes in the episode As Rochas Ondulantes/Rochedos Errantes (“The Wandering Rocks”, in English), of which the region where we find the protagonist, Bloom, buying books at Merchant’s Arch stands out.

The address of the fourth episode, in turn, is taken up in the last three — the Blooms reside at 7 Eccles Street. It is at this address that the novel ends. The great narrative arc that Joyce’s Ulysses shares with Homer’s Odyssey is therefore the theme of the return home. In the novel, however, the last words are from the woman, Molly Bloom. Her monologue, permeated by recollections, ends in repeated affirmative answers: “and yes I said yes I will Yes”. These famous final words make up the art of the stamp.

In 2022, we not only celebrate the publication of Ulysses, which occurred a hundred years ago. We celebrate, above all, the fact that we continue to read and reread the work together. It is cause for celebration to realize how many dialogues around these words — with their various solitary monologues — remain alive. Our shared privilege is to celebrate a century of readings from Ulysses while we weave the beginning of another hundred years.

Luísa Leite S. de Freitas

PhD in Literary Theory from the University of Brasília (UnB)

Texto do Embaixador da Irlanda no Brasil Sr. Seán Hoy


2022 marks the 100th anniversary of the publication of the novel Ulysses by the Irish writer James Joyce. Published on 2 February 1922, the book follows the events of one single day in Ireland’s capital city of Dublin and what happens to the characters Stephen Dedalus, Leopold Bloom, and his wife Molly Bloom. The novel was constructed as a modern parallel to Homer’s Odyssey, with the three central characters intended to be modern counterparts of Telemachus, Odysseus and Penelope.
Ulysses captures the atmosphere and the structures of Dublin in such astonishing and meticulous detail that Joyce once said that if the city of Dublin were to be destroyed, Ulysses could be used to rebuild it brick by brick. The novel has survived censorship and controversy, including claims of blasphemy, to become an undisputed modern classic. T. S. Eliot described Ulysses as the “most important expression which the present age has found; it is a book to which we are all indebted, and from which none of us can escape.”
While Ulysses is heralded as one of the defining texts of modernist literature, and is famous for its use of the ‘stream-of-consciousness’ technique and shifting literary styles, this complexity has also given Ulysses a reputation for being difficult to read. There are those who suggest that the book should be read aloud, that you should skip certain chapters, and many find it difficult to read the 783 page book in one sitting. However, those who persist and allow themselves to be immersed in the novel are rewarded by its irreverent humour, its careful study of the everyday lives of its characters, and the many riddles and puzzles hidden in its pages that have occupied scholars over the last century. There is something in Ulysses for everyone: the common man who bets on horses, the lonely women looking for love, the lost who don’t know how to cry. This story is as relevant today as it was one hundred years ago.
Ulysses is now celebrated around the world as Bloomsday on 16 June, and is believed to be the only international feast-day dedicated to a work of art. In Ireland on Bloomsday people dress up in Edwardian fashion, there are dramatic readings and re-enactments of the text, people eat Joycean dishes such as liver and pork kidneys, and walk through Dublin following the steps of the novel.
Bloomsday celebrations have also spread throughout Brazil, with the first event taking place in São Paolo in 1967. Today, events take place annually in over 14 cities in Brazil, including celebrations in Brasília, São Paolo, Rio de Janeiro, Salvador and Florianopolis.
Brazil has also been home to many eminent Joycean scholars, and thus far three Portuguese translations of Ulysses have been published: the first by former diplomat Antônio Houaiss in 1966, the second by Bernardina da Silveira Pinheiro in 2005, and the most recent by Caetano Galindo in 2012. This year, a new ‘multi-voice’ translation will be published to celebrate the Ulysses centenary, with translations of the 18 chapters by 18 Brazilian academics.
The centenary of the publication of Ulysses also coincides with the birth of the independent Irish state, which took place following the symbolic transfer of power from the British Government to Ireland on 16 January 1922, two weeks before the publication of Ulysses. This year also sees Brazil celebrating the bicentenary of its independence. For both Ireland and Brazil, the legacies of our shared colonial histories have shaped our journeys as independent states, and we continue to examine the ideas of statehood and national identity that Joyce explored in Ulysses.
There are many historical links between Ireland and Brazil that are relevant in this year of independence commemorations, such as the marriage between Irishwoman Narcisa Emília O’Leary and José Bonafácio de Andrada, one of the founding fathers of Brazilian independence; the visit of Dom Pedro II to Ireland in 1877; the work of Irishman Roger Casement who campaigned for the rights of indigenous communities in the Amazon region; and the dedication of decades of Irish missionaries who continue to serve and support communities across Brazil. Today, the friendship that exists between Ireland and Brazil, though physically divided by the Atlantic Ocean, is growing ever closer due to strong people-to-people links, and Ireland is now proud to be home to a community of over 70,000 Brazilian people. Ireland is also proud to have become an Associate Observer of the Community of Portuguese Language Countries in 2021, and to support the development of stronger linguistic, academic and cultural exchanges with Portuguese-speaking countries such as Brazil.
Inspired by the legacy of Bloomsday celebrations in Brazil, we are undertaking a number of cultural projects in Brazil to mark the occasion of the centenary of the publication of Ulysses. This includes a project undertaken in partnership with 18 universities across the country, which will result in the commissioning of a mural interpreting one chapter of the novel in each one of 18 institution. The purpose is to explore how Brazilian youth interpret the novel 100 years later, and to support visual interpretations of Ulysses with a Brazilian identity.
The publication of this commemorative stamp to mark the centenary of the publication of Ulysses signifies another milestone in the relationship between Ireland and Brazil, and we are extremely pleased that the stamp has been designed by a Brazilian artist, and represents a Brazilian visual interpretation of the novel. We are enormously grateful to Correios for partnering with the Embassy in this exciting initiative, and for their enthusiasm and support in bringing the project to life.
We hope that this stamp will inspire a new generation of Brazilians to consider diving into the exciting and unique world of Ulysses, and that they will say, as Molly Bloom proclaimed in the last words of the novel:
yes I said yes I will yes

Sr. Seán Hoy
Irish Ambassador to Brazil


Texto do Embaixador da Irlanda Sr. Seán Hoy


Versão em irlandês / gaélico

I mbliana ceiliúraimid 100 blian ó d’fhoilsigh an scríbhneoir Éireannach James Joyce an t-úrscéal Ulysses. Arna fhoilsiú an 2 Feabhra 1922, leanann an leabhar imeachtaí aon lae amháin i bpríomhchathair na hÉireann, Baile Átha Cliath, agus na nithe a bhaineann do Stephen Dedalus, Leopold Bloom, agus a bhean chéile Molly Bloom. Tógadh an t-úrscéal mar mhacasamhail nua-aimseartha d’Odaisé Homer, agus an triúr carachtar lárnacha ceaptha a bheith ina gcomhghleacaithe nua-aimseartha de Telemachus, Odysseus agus Penelope.
Déanann Ulysses atmaisféar agus struchtúir Bhaile Átha Cliath a ghabháil chomh hiontach agus chomh mion go ndúirt Joyce, dá ndéantaí cathair Bhaile Átha Cliath a scriosadh, go bhféadfaí Ulysses a úsáid chun í a atógáil bríce ar bhríce. Mhair an t-úrscéal trí chinsireacht agus trí chonspóid, cuireadh diamhasla ina leith, fiú, agus níl aon cheist ach gur clasaic nua-aimseartha é. Chuir T. S. Eliot síos ar Ulysses mar “an friotal is tábhachtaí a fuair an aois seo; is leabhar é a bhfuilimid go léir faoi chomaoin aige, agus nach féidir le haon duine againn éalú uaidh.”
Tá Ulysses ar cheann de théacsanna sainiúla na litríochta nua-aimseartha, agus cáil air mar gheall ar an úsáid a bhain sé as teicníc an ‘tsrutha smaointeachais’ agus a stíleanna liteartha luaineacha. Dá bhrí sin tá cáil ar Ulysses gur deacair é a léamh de dheasca na castachta seo. Tá daoine ann a déarfadh gur ceart an leabhar a léamh os ard, gur ceart gan bacadh le caibidlí áirithe, agus go mbíonn deacracht ag go leor daoine an leabhar 783 leathanach a léamh in aon suí amháin. Mar sin féin, tugtar luach saothair do dhaoine a fhanann agus a ligeann dóibh féin tumadh san úrscéal lena ghreann neamhaireach, an staidéar cúramach a rinne sé ar ghnáthshaol a charachtar, agus an iliomad tomhas agus puzal atá i bhfolach ar a leathanaigh a choinnigh scoláirí gnóthach le céad bliain anuas. Tá rud éigin in Ulysses do chách: an fear coitianta a gheallann ar chapaill, na mná uaigneacha ar thóir an ghrá, na daoine caillte nach bhfuil a fhios acu conas caoineadh. Tá an scéal seo chomh hábhartha inniu agus a bhí céad bliain ó shin.
Déantar Ulysses a cheiliúradh ar fud an domhain mar Bloomsday an 16 Meitheamh, agus creidtear gurb é an t-aon fhéile idirnáisiúnta é atá tiomnaithe do shaothar ealaíne. Bloomsday in Éirinn gléasann daoine suas ar bhealach Éadbhardach, bíonn léamha drámatúla agus athghníomhuithe ar an téacs, itheann daoine béilí Joyceacha ar nós ae agus duán, agus siúlann siad trí Bhaile Átha Cliath ag leanúint céimeanna an úrscéil.
Tá ceiliúradh Bloomsday scaipthe ar fud na Brasaíle freisin. Tharla an chéad imeacht in São Paolo in 1967. Sa lá atá inniu ann, bíonn imeachtaí ar siúl gach bliain i mbreis is 14 chathair sa Bhrasaíl, ina measc Brasília, São Paolo, Rio de Janeiro, Salvador agus Florianopolis.
Tá go leor scoláirí ardchéimneacha Joyceacha sa Bhrasaíl chomh maith, agus go dtí seo foilsíodh trí aistriúchán Portaingéilise ar Ulysses: an chéad cheann ón iar-thaidhleoir Antônio Houaiss in 1966, an dara ceann le Bernardina da Silveira Pinheiro in 2005, agus an ceann is déanaí le Caetano Galindo in 2012. I mbliana foilseofar aistriúchán nua ‘ilghuthach’ chun comóradh céad bliain Ulysses a cheiliúradh, le haistriúcháin ar 18 gcaibidil ó 18 scoláire Bhrasaíleacha.
Tagann comóradh céad bliain fhoilsiú Ulysses freisin le chéile le breith an stáit neamhspleách Éireannaigh, a tharla tar éis aistriú siombalach na cumhachta ó Rialtas na Breataine go hÉirinn an 16 Eanáir 1922, coicís roimh fhoilsiú Ulysses. I mbliana freisin beidh an Bhrasaíl ag ceiliúradh dhá chéad bliain dá neamhspleáchas. I gcás na hÉireann agus na Brasaíle araon, mhúnlaigh oidhreacht ár staire coilíní comhroinnte ár dturais mar stáit neamhspleácha, agus leanaimid orainn ag scrúdú smaointe an stáit agus na féiniúlachta náisiúnta a d’fhiosraigh Joyce in Ulysses.
Is iomaí nasc stairiúil idir Éire agus an Bhrasaíl atá tábhachtach i mbliain chomórtha an neamhspleáchais, amhail pósadh an Éireannaigh Narcisa Emília O’Leary agus José Bonafácio de Andrada, duine de bhunaitheoirí neamhspleáchas na Brasaíle; cuairt Dom Pedro II ar Éirinn sa bhliain 1877; obair an Éireannaigh Roger Casement a chuaigh i mbun feachtas ar son chearta na bpobal dúchasach i réigiún na hAmasóine; agus na misinéirí Éireannacha a thiomnaigh na blianta agus a leanann orthu ag freastal agus ag tacú le pobail ar fud na Brasaíle. Sa lá atá inniu ann, is ag síorfhás i gcónaí atá an cairdeas idir Éiré agus an Bhrasaíl, d’ainneoin an Aigéin Atlantaigh eatarthu, mar gheall ar na naisc láidre duine-le-duine, agus tá bród ar Éirinn gurb í is baile do phobal breis is 70,000 Brasaíleach. Tá Éire bródúil freisin as a bheith ina Breathnadóir Comhlach ar Phobal na dTíortha Teanga Portaingéile in 2021, agus tacú le forbairt malartuithe teangeolaíocha, acadúla agus cultúrtha níos láidre le tíortha ina labhraítear Portaingéilis mar an Bhrasaíl.
Arna spreagadh ag oidhreacht cheiliúradh Bloomsday sa Bhrasaíl, táimid ag tabhairt faoi roinnt tionscadail chultúrtha sa Bhrasaíl chun cothrom céad bliain ó foilsíodh Ulysses a cheiliúradh. Áiríonn sé seo tionscadal a rinneadh i gcomhpháirtíocht le 18 n-ollscoil ar fud na tíre, a mbeidh mar thoradh air go ndéanfar múrmhaisiú a choimisiúnú ina ndéanfar léirmhíniú ar chaibidil amháin den úrscéal i ngach institiúid. Is é is cuspóir dó iniúchadh a dhéanamh ar an tslí a léirmhíníonn óige na Brasaíle an t-úrscéal 100 bliain níos déanaí, agus tacú le léirmhínithe amhairc ar Ulysses a bhfuil féiniúlacht Bhrasaíleach acu.
Ócáid thábhachtach eile sa chaidreamh idir Éire agus an Bhrasaíl is ea foilsiú an stampa cuimhneacháin seo, chun cothrom céad bliain fhoilsiú Ulysses a chomóradh. Táimid thar a bheith sásta gur ealaíontóir Brasaíleach a dhear an stampa, agus gur léiriú amhairc Brasaíleach é ar an úrscéal. Táimid thar a bheith buíoch do Correios as a bheith i gcomhpháirtíocht leis an Ambasáid sa tionscnamh spreagúil seo, agus as a ndíograis agus a dtacaíocht chun an tionscadal a thabhairt ar an saol.
Tá súil againn go spreagfaidh an stampa seo glúin nua Bhrasaíleach le machnamh ar thumadóireacht isteach i ndomhan corraitheach, uathúil Ulysses, agus go ndéarfaidh siad, mar a d’fhógair Molly Bloom i bhfocail dheireanacha.

Sr. Seán Hoy
Irish Ambassador to Brazil

Publicado em Programação Filatélica 2019 | Com a tag , , , , , , , , , , , | Deixe um comentário

FELIZ 2022!!!

Texto de Christina Habli Brandão Dutra

Um novo ano começou e junto cresce em cada nós a esperança de novos tempos, novas atitudes, mais alegria, saúde, sim, muita saúde para trilhar novos caminhos e fazermos a diferença neste novo mundo.

Seja bem-vindo, 2022!!! Que seja leve e próspero.

E os trabalhos filatélicos já começaram. Confira nossa programação e a riqueza de temas previstos para a PSP 2022.

Para relembrar a jornada da filatelia brasileira no último ano, vamos fazer a retrospectiva 2021. Inúmeros desafios vencidos, um mundo diferente do que já vivemos, mas mantendo sempre a esperança em dias melhores. Em 2021, foram 22 emissões postais que fazem parte do PSP 2021 e destacam a amplitude e a diversidade da Filatelia em motivos detalhados em fotografias, ilustrações, pinturas em aquarela e até em tinta a óleo. O Brasil e o mundo em emissões para todos os gostos e estilos.

Abrimos o ano com uma emissão icônica, John Lennon em Nova York por Bob Gruen. O pop star eterno e atemporal tem seu legado vivo em suas músicas, ideias, atitudes, estilo e linguagem. Em parceria com o MIS – Museu da Imagem e do Som este lançamento aconteceu no aniversário de 358 anos dos Correios, dia 25 de janeiro de 2021.

Percorremos todo o ano com emissões em que o Brasil é protagonista, seja pelas relações internacionais, seja pela nossa história, cultura e natureza representadas em selos. A importância cultural nordestina está presente na emissão especial O Auto da Compadecida, obra de Ariano Suassuna que teve sua primeira peça teatral em 1955 e ganhou o mundo, em 2000, com a minissérie e o filme que continua tão atual ainda hoje. Queijos do Brasil e Rendas Brasileiras vieram para enaltecer o trabalho artesanal, reconhecidos seja por sua qualidade e seus sabores premiados internacionalmente, seja como nosso patrimônio histórico e cultural. Uma parceria com o SEBRAE que destaca a importância do desenvolvimento da economia local na geração de renda e cultura.

Andamos por outros ares, mostramos nossa fauna com Anuros e Insetos Benéficos. Mais conhecidos como sapos, pererecas e rãs, os anuros são uma pequena amostra da riqueza e da beleza dos anfíbios que nesta emissão representam as cinco regiões do bioma com fotografias detalhadas com suas características. Insetos Benéficos já parte para um outro lugar onde a imaginação ganha asa nas ilustrações de Luciana Fernandes que mostram as características biológicas, comportamentais e ecológicas dos personagens mantendo as cores e as formas dos insetos, criando uma relação entre eles e o natureza de forma divertida.

Fomos além, promovemos a reflexão, com 150 anos da Lei do Ventre Livre, uma emissão que ganhou vida nas pinceladas de Diogo Mouro em uma pintura a óleo que se transformou em bloco postal. Uma temática tão atual, também é foco de análise sobre sua história, memória e arte. O invisível ganhou forma e cores, muitas cores, com a presença do Gari nas estampas do primeiro selo da Série Profissão. A importância da mulher em nossa história é registrada com a Emissão Conjunta Brasil – Uruguai: Bicentenário de Nascimento de Anita Garibaldi, a Heroína dos Dois Mundos.

Na homenagem ao Dia do Selo os bastidores do trabalho da filatelia também ganharam luz na matéria Selo Postal: o trabalho por trás da arte. E com grande alegria recebemos o prêmio de 3º lugar de Melhor Bloco de 2020 pelo Nexofil Awards 2021 pela emissão de 150 anos do Chorinho, lançamento de selo totalmente on-line e o primeiro durante a pandemia, um grande desafio em 2020.

Com a esperança de que novos tempos estão por vir a emissão de Natal 2021 – Reencontros evoca a união e os reencontros de corações, amizades e famílias. Uma mistura perfeita com a emissão Natal 2020 – Palavras de afeto. E assim, as emissões de Natal sem complementam e traduzem o que está o desejo que está no coração de todos há tanto tempo.

E assim, nesse clima de celebração,
de novos tempos repletos de saúde, esperança,
afetos e muito amor desejamos a todos um excelente 2022!!!!

FELIZ ANO NOVO!!!

Publicado em Programacao FIaltelica 2022, Programação Filatélica 2021 | 3 Comentários

Emissão 150 anos do Chorinho é premiada no NEXOFIL Awards 2021

Escrito por Christina Habli Brandão Dutra

Concorrendo com diversas emissões de todo o mundo, o bloco comemorativo de 150 anos do Chorinho ganha o 3º lugar de Melhor Bloco de 2020 pelo Nexofil Awards 2021. Nesta 8ª edição da premiação internacional que acontece em Madri, Espanha, os parceiros de pódio são Croácia (2º lugar – Bloco Minerais e Pedras) e Uruguai (1º lugar – bloco 250º Aniversário de Beethoven).

Nesta homenagem filatélica ao primeiro gênero de música popular instrumental brasileira, o artista José Carlos Braga faz uma fusão entre um bandolim e um pandeiro. O bandolim é vazado, mostrando a paisagem de um céu estrelado, com a lua cheia na posição da boca do instrumento. A paisagem se completa com a lua estando por detrás dos Arcos da Lapa, berço da boemia carioca e onde o Chorinho fez sua morada. Distribuídos pelo bloco, aparecem em destaque os selos dos instrumentos mais comuns associados ao Chorinho: a flauta transversa, bandolim, violão de 7 cordas, cavaquinho, pandeiro e clarinete.

“Fico muito feliz e honrado com a premiação do meu trabalho, especialmente porque foi algo inesperado. Ao criar o selo, a preocupação que tenho é em transmitir graficamente os conceitos aos quais se propõem a emissão e como viabilizar da melhor forma a produção. Saber que o selo atendeu às expectativas dos Correios e Filatelistas já seria um ótimo resultado a meu ver. Ter este trabalho reconhecido por um prêmio, ainda mais sendo internacional e tão prestigiado, é algo inimaginável… Agradeço a todos que colaboraram no desenvolvimento e produção da peça”.

(José Carlos Braga – artista do selo)

Vale destacar que este foi o primeiro lançamento filatélico em tempos de pandemia, em 23 de abril de 2020, e diante tantos desafios foi realizada uma roda de choro virtual com a participação de vários musicistas como Fernando César (@fernandocesar7cordas) Paulo Cordova (@paulocordova_oficial) e Hamilton de Holanda (@hamiltondeholanda).

Já pensou em ter uma coleção com o selo premiado? O bloco 150 anos do Choro está à venda na loja virtual.

José Carlos (45) é designer e ilustrador e trabalha com emissões filatélicas desde 2010 e já foi premiado com em outras edições:

RIO+20

– Troféu Olho-de-boi – premiação de melhor selo do ano de 2013 pela Estampa Rio+20.

NATAL 2018: ANOS DA CANÇÃO “NOITE FELIZ”

• PRÊMIO INTERNACIONAL SÃO GABRIEL DA ARTE FILATÉLICA (Itália – 2019) – Melhor Selo Religioso 2018
À venda na loja virtual

Selos Premiados

E por falar em selos premiados, os Correios têm uma verdadeira coleção. Conheça um pouquinho deste universo filatélico.

OBRAS DE WILLIAM SHAKESPEARE

• PRÊMIO WERNER KLATT DE EXCELÊNCIA GRÁFICA (Brasil – 2019) – Premiação Impresso de Segurança (recebido pela Casa da Moeda do Brasil/CMB).

• PRÊMIO WIPA GRAND PRIX (Austrália – 2018) – 2ª colocação como Melhor Selo do Ano de 2017

À venda na loja virtual

BLOCO DE NATAL DE SÃO NICOLAU COM OS NAVEGANTES

PRÊMIO INTERNACIONAL SÃO GABRIEL DE ARTE FILATÉLICA (Itália – 2015) – Prêmio Especial pela Representação Gráfica Inovadora.

SELOS COMEMORATIVOS SÉRIE AMÉRICA – JOGOS POPULARES

19º PRÊMIO BRASILEIRO DE EXCELÊNCIA GRÁFICA ‘FERNANDO PINI’ 2009 (Prêmio brasileiro de excelência gráfica, o mais importante do setor gráfico na América Latina, concebido pela Abrigraf – Associação Brasileira de Indústria Gráfica e ABTG – Associação Brasileira de Tecnologia Gráfica, foi criado em 1991).
Categoria da Premiação: Comercial/Impressos de segurança
Prêmio: Placa gravada

SELO COMEMORATIVO BICENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE LOUIS BRAILLE

19º PRÊMIO BRASILEIRO DE EXCELÊNCIA GRÁFICA ‘FERNANDO PINI’ 2009
Categoria da Premiação: Comercial/Impressos de segurança
Prêmio recebido: Placa gravada

SE-TENANT “BRASIL-FRANÇA: SERRA DO ARACÁ E MER DE GLACE”

8ª ELEIÇÃO ANUAL DA CHINA DO MELHOR SELO ESTRANGEIRO (China – 2009)
Categoria da Premiação: Melhor Selo

BLOCO CONCHAS MARÍTIMAS

EXPOSIÇÃO WIPA 2008 (Suíça) – Melhor selo de 2007

BLOCO PIRACEMA

Melhor tema e participação (China – 2006) – Troféu e Certificado de Mérito como vencedor das categorias tema e participação.

SE-TENANT “CAMPEÕES DO MUNDO DE FUTEBOL DO SÉCULO 20”

• Melhor Selo do ano de 2002 (Website of the Internetional Philatelic Society – Troféu Yehudi Menuhin 2002

• 2º Melhor Selo do Mundo de 2002 (Malásia -2003)

SÉRIE INSTRUMENTOS MUSICAIS

PRÊMIO YEHUDI MENUHIN DE FILATELIA MUSICAL (Inglaterra – 2003)
Prêmio: 2º lugar na votação popular pela Internet como o melhor selo de 2002.

PANTANAL FAUNA E FLORA

PRÊMIO PHILAKOREA (Seul Coreia do Sul – 2003)
Prêmio: Melhor selo múltiplo da 9th Governament Postage Stamp Printers Conference.

SELO PROJETO SOM E LUZ

PRÊMIO YEHUDI MENUHIN DE FILATELIA MUSICAL (Inglaterra – 2001)
Categoria: Selos musicais mais populares emitidos em 2001, conferido pelo Círculo Filatélico Musical da Inglaterra.
Colocação: 2º lugar

Conheça mais premiações aqui no Blog da Filatelia.

Publicado em Programação Filatélica 2021 | 4 Comentários

Selo postal 150 anos da lei do ventre livre: uma reflexão sobre história, memória e arte

Texto por Mayra Guapindaia

A última quinta-feira (21) foi marcada por evento virtual de lançamento do selo postal 150 anos da Lei do Ventre Livre, organizado pelo Museu Afro Brasil e tendo os Correios, o artista Diego Mouro e o curador de arte Claudinei Roberto da Silva como convidados. Tendo como ponto de partida o bloco postal concebido por Diego Mouro, foi feita uma discussão e reflexões sobre a representação da memória e identidades afro-brasileiras e demais temas históricos na arte e em mídias de grande circulação, como o selo postal. A Live se encontra gravada no canal de Youtube do Museu Afro Brasil.

Os selos servem para mostrar, desde muito tempo, por meio de imagens que circulam o mundo em cartas (mas atualmente também pela internet e outras mídias, como livros) aquilo considerado oficialmente, ou seja, por parte do Estado, a “identidade nacional”. Esta identidade vai sendo construída de acordo com o ambiente social, político e cultural de cada época. Quando os selos postais surgiram, em 1840 na Inglaterra, logo veicularam mensagens daquilo que os países emissores consideravam relevante de sua cultura para ser circulado no restante do mundo.  O século XIX é, por excelência, o período da construção/invenção das nacionalidades, devido a necessidade de dar coesão a diversos recém-criados territórios nacionais. Assim, é neste momento que se inicia, em diversos países, a construção dos heróis da pátria e da história nacional.

O Brasil passou por este processo com o advento da Independência. A partir de 1822, os agentes do Estado se preocuparam em identificar as principais características do “povo brasileiro”. Nesse contexto, os selos postais foram muitas vezes utilizados para construir uma determinada versão da história nacional, voltada sobretudo para exaltar os grandes homens responsáveis por construir a nação. Este movimento, iniciado no período imperial, pela criação de instituições como o IHGB e historiadores como Francisco de Adolfo Vanhagen, ganhou maior corpo após a proclamação da república.

Inicialmente, os selos postais brasileiros não faziam qualquer referência a esta questão da construção dos símbolos nacionais. Os olhos-de-boi, como ficaram conhecidos os primeiros selos brasileiros, traziam em sua imagem somente o valor do porte. Este padrão foi seguido por emissões posteriores, como os inclinados.

Somente em 1866 selos portando a imagem de D. Pedro II passam a circular, e assim a cumprir o papel de construir o sentimento de união e coesão nacional a partir da figura do monarca. Nesse sentido, os selos do período imperial não são marcados pela exaltação de personalidades variadas nem são responsáveis por criar simbolismos atrelados a datas.

No período republicano se inicia uma maior variedade de motivos, tanto de personalidades quanto de datas, sempre ligados à história oficial que então se pretendia escrever naquele momento. Um grande exemplo disso é a série “alegorias republicanas”, de 1906, na qual se pode contemplar a face de diversos homens, sempre ligados à política e questões de Estado, então considerados relevantes  para a história do país e, principalmente, para a implantação da república brasileira.  Estas emissões, portando homens brancos e de elite, estava de acordo com uma perspectiva eurocêntrica daquilo que se considerava os “heróis da nação”, e da imagem de país que o Brasil então buscava projetar para o resto do mundo.

História, memória e esquecimento nos selos postais

A história da representação nos selos postais é também uma história de esquecimento. Pois, entre a construção de uma história nacional e a exaltação de grandes homens, o tom era o de uma narrativa eurocêntrica e branca, não havendo espaço para o reconhecimento da população negra, que então já conformava a maioria em números do país, mas, devido às heranças sociais da escravidão, tinha dificuldade de acesso a direitos básicos de cidadania (SOUZA, 2013). Em um primeiro momento, na época imperial, a representação de personalidades negras não ocorreu, mesmo porque este era um período, conforme comentado anteriormente, na qual havia pouco espaço para pessoas e efemérides, sendo a exceção D. Pedro II. É a partir da República que selos postais retratando afro-brasileiros surgem, mas sempre perdendo espaço para indivíduos brancos considerados, na mentalidade da época, mais “representativas”.

Entretanto, este primeiro período republicano do país abriu frestas que permitiram contemplar afro-descendentes de destaque em áreas específicas da vida nacional, como a música e a literatura. A primeira homenagem feita a uma personalidade negra foi no centenário de Carlos Gomes, em 1936, seguido pelos 100 anos de Machado de Assis, em 1939. Estes indivíduos, vale destacar, foram motivo de selos postais em outros anos, sendo temática recorrente no panteão de homenagens dos selos postais.

Embora desde os anos 1930, pessoas, elementos e datas relacionadas à cultura afro-brasileira sejam destacados em diversos selos, é preciso ter ideia da efetividade numérica da representação do assunto. De acordo com a monografia de Sara Ramos Figueiredo, Lembrança e esquecimento: Representação da Identidade Negra no Acervo Filatélico do Museu Correios, dos 11.500 selos brasileiros lançados entre 1843 e 2013, apenas 230 tratavam da cultura afro-brasileira, ou seja, apenas 2% do total (FIGUEIREDO, 2013).  A partir deste dado levantado pela autora, vemos a urgência e necessidade de representação da sociedade e da história(s) negra(s) por esta mídia oficial, responsável por divulgar e construir conhecimento histórico para um amplo público. Figueiredo também chama a atenção para o fato de estes selos pouquíssimas vezes terem sido produzidos por artistas afro-descendentes e, assim, servirem como um meio de representação de e para a população negra de suas histórias, memórias e identidades.

Selos postais e lutas políticas

Em 1971, após um protesto nas ruas, o dia 20 de novembro, data da morte de Zumbi dos Palmares, foi escolhido como o Dia da Consciência Negra. O objetivo era chamar a atenção para as desigualdades que ainda hoje persistem, bem como solicitar por melhores condições de vida para a população afrodescendente.  Zumbi dos Palmares, líder quilombola morto em 1695, foi escolhido como símbolo do movimento. Utilizou-se, assim, da releitura de uma figura histórica para reivindicar questões do presente.

As ações e organizações da sociedade civil que promoveram o debate acerca da cultura afro-brasileira e a necessidade de seu reconhecimento e destaque tiveram repercussões algum tempo depois na esfera governamental. Em 1997, Zumbi dos Palmares foi incluído no livro de Aço dos Heróis e Heroínas Nacionais. Em 2003, a lei 10.693 colocou a obrigatoriedade do ensino de História da África e cultura afro-brasileira nas escolas. Esta mesma legislação indica que o Dia Nacional da Consciência Negra deve fazer parte do calendário escolar. Como consequência desta passagem da reivindicação da sociedade civil e do surgimento de políticas públicas, encontramos a referência a Zumbi nas mídias oficiais, e o selo postal foi um desses meios de validação da imagem do quilombola.

Paralelamente, neste período entre os anos 1970 e a primeira década dos anos 2000 alguns selos postais são responsáveis por destacar a luta e as conquistas políticas dos movimentos sociais negros.




A Lei do Ventre Livre em selos Postais

Diferentemente do dia 13 de maio (abolição), o 28 de setembro (Lei do Ventre Livre) não parece ter recebido tanto destaque na construção oficial de eventos celebratórios e liturgias públicas. Contudo, esta data possui grande tradição de comemoração nos selos postais brasileiros. Ela é marcada, inclusive, nos primeiros selos comemorativos do país, lançados em 1900.

Ao observar o exemplar da temática “abolição”, é possível perceber, nos cantos da gravura, duas datas: 28 de setembro de 1871 e 13 de maio de 1888. Ou seja, o selo passa a ideia de que o processo de extinção da escravidão, culminado na Lei Áurea, foi iniciado anteriormente, especificamente no momento da Lei do Ventre Livre. Tem-se, assim, a partir deste selo, a ideia de uma história linear que, por parte de ações contínuas Estado, resultou na liberdade de todos os escravos.

Como se sabe, o período anterior à abolição foi bastante complexo, havendo inúmeras correntes de pensamento de como a liberdade deveria ocorrer.  Em um primeiro momento, o movimento abolicionista, inclusive a partir de sua representação política no parlamento por meio dos liberais, foi marcado por ideais de emancipação gradual. Portanto, a libertação do ventre de escravas foi o grande mote desta vertente, a qual previa a libertação de maneira lenta, e com compensações às perdas financeiras dos senhores (DOLHNIKOFF, 2020, p.117-121).

Após 1871, o movimento abolicionista radicaliza-se. Isso se deu por inúmeros fatores, que envolvem desde o grande crescimento de revoltas escravas com o objetivo claro de luta pela liberdade, a maior adesão social ao movimento e, também, a percepção das falhas da Lei do Ventre Livre. Sobre esta última questão, a medida legal passou a ser criticada devido ao seu processo moroso para a real liberdade bem como pelas inúmeras compensações dadas aos senhores. Assim, a ineficácia desta lei levou os abolicionistas a pressionarem, cada vez mais, por emancipação imediata, a ser acompanhada de medidas de inserção dos ex-cativos na sociedade civil (DOLHNIKOFF, 2020, p.121-128-121).

Portanto, 28 de setembro e 13 de maio representam momentos diferentes do abolicionismo e não podem ser entendidos enquanto uma cadeia gradual de acontecimentos. A imagem do selo, contudo, não permite entrever estes debates e mudanças de percurso, por ser fruto de um ideal de história específico do século XIX, de perspectiva linear e evolucionista.

A outra referência filatélica a esta data diz respeito ao centenário, em 1971. Para além do selo, este ano foi marcado por alguns acontecimentos de rememoração da dia. Destaca-se o evento  organizado pelo CEAO (Centro de Estudos Afro-Orientais, da UFBA), justamente para marcar a data, sendo que um dos produtos destes encontros foi um texto de Edson Carneiro sobre as discussões parlamentares sobre a lei do ventre livre e os diferentes movimentos políticos da época, tanto emancipacionistas quanto abolicionistas (CARNEIRO, 1971, p.13-25).

Já o selo postal de 1971 reproduz um quadro de Lucílio Albuquerque, de 1912, chamado “Mãe Preta” e atualmente parte do acervo do Museu de Arte da Bahia. Pouco se sabe sobre o objetivo da escolha desta obra para uma emissão postal acerca dos 150 anos da Lei do Ventre Livre, pois não foram localizados documentos que permitam entender as motivações dos agentes de correio da época que trabalharam diretamente com esta emissão.  Contudo, é possível contextualizar acerca do período da produção da obra. Politicamente, o Brasil passava pela experiência da primeira república, em uma conjuntura bastante recente de fim da escravidão e no qual os afro-brasileiros passavam por inúmeras dificuldades de inserção na sociedade civil devido às heranças do passado escravocrata. Muitos ex-escravos continuaram desempenhando os mesmos trabalhos anteriores, inclusive permanecendo das terras dos senhores. No caso específico das mulheres negras, a função de ama de leite passou a ser uma das possibilidades de trabalho livre remunerado, mas que fazia parte de um longo histórico de trabalho doméstico escravo. No caso da figura feminina representada na obra de Lucílio de Albuquerque, o que vemos provavelmente é uma mulher negra livre, desempenhando o trabalho de ama de leite. O que revela a condição de liberdade é o fato de ela estar acompanhada de seu filho, algo que não ocorria com as mulheres escravizadas, pois eram separadas de seus filhos no momento do nascimento. Lucílio representou, portanto, uma realidade e uma condição da população negra feminina de sua época, algo comum e uma cena provavelmente vista por ele em seu dia-a-dia (DUME, 2018).

Este momento da primeira república também era marcado pelos discursos raciais então proferido por políticos, cientistas, médicos, dentre outros. De maneira racista, falava-se então sobre a suposta “necessidade” do branqueamento da população brasileira para se alcançar determinado patamar civilizatório.  O próprio artista, ao falar do “tipo” brasileiro, colocou que este idealmente seria o “moreno” e não o negro africano (NOGUEIRA, 2016, p.115). A reprodução desta obra em selo postal nos anos 1970 deve sempre levar em consideração o contexto de sua criação e como isso se atrelava às questões acerca do racismo discutidas no momento presente.

O bloco 150 anos da lei do ventre livre

O projeto deste bloco postal surgiu de uma vontade da equipe de filatelia dos Correios de tratar os temas históricos em selos postais de forma atualizada, a partir do diálogo com a historiografia sobre o tema, e, também com os movimentos sociais de maneira mais ampla. Por isso, foi feito contato com o Museu Afro Brasil convidando-os para serem parceiros nesta emissão. A ideia, a partir do contato com o Museu, era trazer para a produção do selo um artista negro que tivesse o foco de seu trabalho acerca da interpretação da memória e construção das identidades afro-brasileiras. E assim, pela indicação do Museu Afro Brasil, foi feito o convite a Diego Mouro. Em diálogo com o artista, foi colocado que o selo deveria servir como ponto de reflexão e debate acerca da data e quais seus significados na atualidade.

Diego Mouro criou uma arte que permite conectar passado e presente. A partir da data da lei do ventre livre, podemos refletir criticamente sobre o que significa ser livre hoje para a população afro-brasileira, se é que é de fato uma possibilidade.  A leveza das crianças brincando e das roupas no varal é contrastada por uma sombra, que representam as constantes ameaças as vidas negras, ainda são bastante graves no Brasil atual. Seja por meio de cartas, pela internet ou por livros didáticos, estes selos cumprirão um papel cultural e pedagógico de construção do pensamento crítico e de significados sobre o passado.

Referências bibliográficas

CARNEIRO, Edson. A Lei do Ventre Livre. Afro-Ásia, [S. l.], n. 13, 1980.

DOLHNIKOFF, Miriam. História do Brasil Império. São Paulo: Contexto, 2020.

FIGUEIREDO, Sara Ramos. Lembrança e esquecimento: Representação da Identidade Negra no Acervo Filatélico do Museu Correios. Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, 2013.

NOGUEIRA, Manuela Henrique. Georgina Albuquerque: trabalho, gênero e raça em representação. Dissertação de mestrado. Universidade de São Paulo, 2016.

SOUZA, Daiane. População escrava do Brasil é detalhada em Censo de 1872. Site da Fundação Cultural Palmares, 2013. Disponível em: <https://www.palmares.gov.br/?p=25817>.

Publicado em Programação Filatélica 2021 | 4 Comentários

Os selos postais e as Exposições Universais: Expo Dubai 2020

Texto por Mayra Guapindaia

Iniciadas em de 1851, as Exposições Universais, atualmente conhecidas como “Expo”, tinham o propósito de atuar como “vitrines do progresso e da modernidade”, tal como eram compreendidos no século XIX.  Este tipo de mostra pública com a reunião de vários países em pavilhões, foi criado pela Grã-Bretanha, que à época se configurava como o maior império mundial, com o domínio de diversos territórios ao redor do globo. Era um grande evento para mostrar o aperfeiçoamento do território britânico, a partir da mostra de seus manufaturados provenientes da indústria, bem como desenvolvimento na área científica. A feira se baseava em uma ideia específica e eurocêntrica de progresso, associada sobretudo ao domínio territorial, ao avanço tecnológico, bem como padrões culturais específicos, entendidos como construtores da civilização.

Para os países então percebidos à época como menos desenvolvidos, tomar lugar nas feiras mundiais significava uma oportunidade para se afirmar no rol das grandes nações. Este certamente foi o caso do Brasil na participação das exposições durante o século XIX e início do XX. O país teve sua estreia na Expo de 1862, em Londres, na qual procurou se colocar enquanto nação atrelada à monarquia de D. Pedro II. A imagem a ser construída no pavilhão brasileiro era de um país estável, dotado de inúmeros recursos naturais, mas também com avanços significativos na área industrial e tecnológica.  Em 1922, o Brasil recebeu sua primeira Expo, na então capital do país, o Rio de Janeiro. A feira foi vista como oportunidade para demonstrar os avanços do regime republicano, no poder desde 1889, bem como comemorar os progressos industriais e de tecnologia no momento oportuno de comemoração do centenário da Independência.

Os selos postais, por serem objetos textuais-imagéticos com grande poder de circulação, especialmente dentre o século XIX e XX, foram utilizados pelo Brasil para divulgar as Exposições Universais e assim marcar, por meio de um documento oficial do Estado, a importância do evento. Os selos expostos a seguir compreendem um período que vai de 1922 a 2000. As imagens demonstram as ideias acerca de progresso desenvolvidas no Brasil ao longo do tempo e é possível perceber grande variação deste conceito com o passar das décadas. Em 1922 percebemos selos voltados para a história da nação e dos grandes homens, bem como o enaltecimento do regime republicano. Já em anos mais recentes como 1998 e 2000 é notável o enfoque em questões voltadas para o desenvolvimento sustentável e percepção da necessidade de cuidados na interação entre homem e meio ambiente.

Neste ano de 2021, o foco do pavilhão do Brasil na Expo Dubai 2020 é a importância das águas, sobretudo dos rios, para a história e o desenvolvimento do Brasil. No interior do pavilhão, o ambiente alagado de fundo escurecido procura evocar o Rio Negro, fluxo aquático de extrema importância ao longo do tempo para questões de comunicação, de defesa territorial e da sobrevivência de comunidades tradicionais que habitam suas margens.

Publicado em Programação Filatélica 2021 | 1 Comentário

150 Anos do Instituto Presbiteriano Mackenzie

Escrito por Instituto Presbiteriano Mackenzie

O bloco comemorativo dos 150 anos do Mackenzie, celebrado no biênio 2020/2021, é formado por duas fotografias e outros elementos visuais que remetem às bases da instituição e sua história. À esquerda vemos o prédio 01 do campus Higienópolis, local onde a instituição se consolidou e a partir de onde cresceu para outras cidades e estados brasileiros. À direita, a fotografia dos estudantes data de 1895. As imagens são do acervo do Centro Histórico e Cultural Mackenzie (CHCM).

Os logotipos usados também apontam para as raízes da instituição. Além do M que caracteriza o orgulho mackenzista de pertencer, ainda há, ao lado, a Sarça, logo da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) – associada vitalícia do Mackenzie.

Bloco Comemorativo

O círculo da imagem mostra Deus no centro de toda base do Mackenzie, e fundamento de sua existência, apontando para a tradição. Já o hexágono sinaliza a inovação constante e a busca por conhecimento, fazendo menção a um dos centros de pesquisa mais inovadores, o MackGraphe.

Fundado em 1870 por George e Mary Ann Annesley Chamberlain, o Mackenzie começou como uma pequena escola na sala de estar do casal, por iniciativa de Mary Ann. Os dois missionários presbiterianos, que vieram dos Estados Unidos para o Brasil anos antes, perceberam a necessidade de disponibilizar conhecimento e alfabetização de maneira ampla e sem distinções. Por isso, o Mackenzie se tornou uma das primeiras instituições de ensino do Brasil a ter alunos de todas as etnias e credos, mantendo unidos meninos e meninas, ao contrário do método que separava as crianças por sexo, poder aquisitivo, etc., que imperava na época.

Depois de um ano, o projeto de ensino, que antes recebia poucos estudantes, transformou-se em algo maior: a Escola Americana, que tinha esse nome pelo método diferenciado da cultura brasileira daquele momento histórico. Ainda surgiram dois novos cursos: escola normal e o curso de filosofia.

Escola Americana

Logo a seguir, uma nova fase se iniciava quando os Chamberlain compraram, da Dona Maria Antônia da Silva Ramos, baronesa de Antonina, um espaço de uma chácara localizada no bairro de Higienópolis, capital de São Paulo. Sim, este foi o início do campus mais populoso e famoso do Mackenzie e local onde se estabeleceria o prédio 01 que compõem a imagem deste bloco!

Além do novo espaço, a Escola Americana ganhou fama internacional e chegou ao conhecimento de John Theron Mackenzie, advogado norte-americano, que ficou tão impressionado com o projeto que resolveu fazer uma contribuição financeira. Curiosamente, Theron Mackenzie nunca veio ao Brasil, pois faleceu antes e, em 1890, deixou em testamento uma doação à Igreja Presbiteriana Americana para que se construísse, no Brasil, em continuidade à Escola Americana, uma escola de Engenharia. O desejo de Theron foi realizado por suas irmãs, que também fizeram contribuições financeiras para o projeto.

Esse foi um dos grandes marcos dessa história, pois foi esse valor que deu início à construção do conhecido prédio 01 de Higienópolis onde, em fevereiro de 1896, o curso da Escola de Engenharia teve início. A doação de John foi tão significativa que seu nome foi colocado na instituição como homenagem e agradecimento, dando início também à sua história universitária.

O pioneirismo e habilidade de se reinventar ao longo das épocas são marcas mais que reconhecidas do Mackenzie. Ao longo do tempo, a pequena escola do casal Chamberlain se desenvolveu e acompanhou o crescimento da cidade de São Paulo e do Brasil. E tudo isso sem perder de vista suas raízes confessionais, pois, desde sua fundação, a instituição enxerga e prioriza o ser humano por inteiro, no pleno desenvolvimento de suas capacidades físicas, intelectuais e espirituais. O ensino confessional cristão reformado, pautado nos ensinos e mandamentos de Cristo, não é apenas o diferencial, mas o norte, o centro que rege e orienta toda a instituição, possibilitando o pioneirismo, sem se esquecer da sua tradição.

Assim, o Mackenzie College que teve início com o curso de Engenharia se tornou o embrião da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) – reconhecida em 1952, por decreto do então presidente Getúlio Vargas.

Muitos são os momentos marcantes nos quais o Mackenzie esteve envolvido como protagonista. Dentro do mundo do esporte, por exemplo, o primeiro jogo oficial do campeonato paulista de futebol teve sua participação. Organizado pela Liga Paulista de FootBall, dois times entraram em campo no dia 03 de maio de 1902: Mackenzie e Germânia. O placar foi favorável ao Mackenzie nessa data, totalizando 2 x 1 para os mackenzistas.

O pioneirismo mackenzista nunca parou, Esther Figueiredo Ferraz é outro exemplo disso. Formada em Filosofia e Direito, ela foi a primeira mulher a comandar uma reitoria na América Latina. A advogada assumiu seu posto na Universidade Presbiteriana Mackenzie em 1965. Esther também foi a primeira mulher a integrar o Conselho Seccional e o Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados (OAB) São Paulo e um ministério do país, o de Educação e Cultura, no período de 1982 e 1985.

Outros fatos curiosos e interessantes que marcam nossa história também podem ser citados como o orelhão, que foi criado por uma mackenzista. Formada na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) do Mackenzie, Chu Ming Silveira foi responsável pela concepção do famoso “orelhão” no ano de 1971.

Também vale lembrar que mackenzistas projetaram os prédios mais altos da cidade de São Paulo. O projeto do Mirante do Vale, no Vale do Anhangabaú, tem 170 metros de altura e 50 andares, e foi projetado pelo mackenzista Waldomiro Zarzur, em parceria com Aron Kogan, ambos formados em 1947 na Escola de Engenharia. Já o famoso Edifício Itália, localizado na praça da República, foi projetado pelo nosso antigo professor Adolf Franz Heep. Por último, o projeto do Farol Santander teve a participação do mackenzista Plínio Botelho Amaral. O edifício foi inspirado no Empire State Building e tem 161 metros de altura e 35 andares.

Estes são apenas alguns dos marcos que podemos citar, pois, ao longo de 150 anos de história, o Mackenzie enfrentou muitos desafios e participou da transformação de São Paulo e do Brasil como um todo.

Atualmente, o Mackenzie está em diversos locais do país, oferecendo educação e saúde para as pessoas, cuidando do ser humano de forma integral. Prova disso são seus Colégios, Faculdades, Universidade e Hospitais, em unidades em São Paulo (SP), Alphaville (SP), Tamboré (SP), Brasília (DF), Campinas (SP), Palmas (TO), Rio de Janeiro (RJ), Castro (PR), Curitiba (PR) e Dourados (MS).

Cuidado com o ser humano criado à imagem e semelhança de Deus, autonomia, educação, saúde e dignidade. O Mackenzie olha para as pessoas como um todo, a partir da perspectiva cristã. É a fé que o move, que o guia em sua missão, a qual se alegra em poder realizar diariamente!

É assim que o Mackenzie celebra seu sesquicentenário, apoiado em sua tradição, com Deus em seu centro e olhando para o futuro, sempre inovando.

Publicado em Programação Filatélica 2021 | 8 Comentários

Natal – Reencontros

Escrito por Christina Habli Brandão Dutra

O selo de Natal 2021 chega no Dia das Crianças, uma data cheia de alegria, diversão, descontração e arte. Uma combinação perfeita de emoções e sentimentos para esta emissão que traz união e reencontros para celebrar um Natal de amor, gratidão e esperança.

E para demonstrar o reencontro, a dupla de artistas do selo é de Ariadne Decker e Meik, formada por mãe e filho que juntos simbolizam emoção através da arte. Ariadne é artista visual, ilustradora, formou-se em Artes. Nascida em Niterói – RJ ainda pequena foi para Novo Hamburgo – RS, cidade na qual cresceu, desenvolveu seu trabalho e pela qual adquiriu carinho e amor.

Com várias exposições no Brasil e no exterior, Ariadne faz parte do banco de artista dos Correios desde 2004 e com esta emissão tem 13 selos lançados além de cartões comemorativos e envelopes especiais. Envolvida com a cultura desde cedo, a artista ministra aulas de Desenho desde os 17 anos e na pandemia encontrou uma forma de extravasar, ensinar e mostrar sua arte em seu canal do Youtube.

A venda na loja virtual

O selo Natal 2021 traz uma arte abstrata para celebra o amor, a gratidão e a esperança. O Natal está representado pela árvore e pela touca do Papai Noel, o Sino e a Estrela Guia representam a anunciação, o nascimento do menino Jesus, a esperança em novos tempos. O coração no centro do selo representa o amor. O amor que nos une em todos os Natais e que, mais do que nunca, se destaca neste momento atípico de nossas vidas. A linha contínua une todas as imagens e significa a união de todos na construção de um mundo melhor. As mãos das figuras pedem e agradecem. Pedem proteção a agradecem por estamos juntos novamente.

A dupla concorreu com outros sete artistas, através de Carta Convite, para seleção desta emissão postal tradicional e apresentamos agora a entrevista realizada com Ariadne Decker.

Como está sendo expressar a sua emoção através da arte? Tem sido mais fácil?

A pandemia mudou muito a relação com o público e isso faz falta, mas meu processo pessoal sempre foi recluso. No atelier sempre se está só. O processo de criação é interno e isso só ficou mais evidenciado.

O ambiente, as situações que nos cercam, as trocas de ideias são fonte de inspiração para o trabalho. A pandemia entrou nos temas que eu estava desenvolvendo. Uma forma de extravasar foi trazer isso para os temas que eu estava desenvolvendo. A minha série mais recente, “As Multidões”, expõe esse momento. Os temas viraram resistência e saudades.

Como é a sua parceria com seu filho?

Meu filho mais velho, Rafael, ou Meik, como ele assina os trabalhos, é o parceiro mais genial que alguém pode ter. Ele tem o conhecimento e a experiência tecnológica que me falta. Ele trabalha com criação de sites e programação visual. No computador é muito mais rápido e as soluções gráficas que ele propõe são sempre ótimas. Muito bom discutir um tema com ele, as ideias fluem naturalmente e a cumplicidade que temos contribui para um bom resultado. Trabalhamos juntos em revistas de HQ com temas ecológicos, nos livros de colorir que produzo, em trabalhos de programação visual e nas propostas de filatelia.

Existem artistas que preferem trabalhar com livre demanda. Como é pra você ter que ser criativa em um trabalho pré-definido?

Eu gosto de encomenda, de que me apresentem uma ideia pra trabalhar. É um desafio. Criação tem uma infinidade de caminhos e você começa a registrar aquilo que mais chama atenção. Vai afinando o que está no papel até que a ideia já comunica o que precisa.

A execução é mais rápida, a parte de organização de ideias é a mais desafiadora. Você fica gestando por um tempo, trabalhando mentalmente até a ideia nascer.
Processo de criação é um processo mental de digerir o assunto e transformar em uma ideia.

Para os selos não basta traduzir a ideia em desenho ou imagem. É preciso fazer com que a linguagem faça parte da compreensão da emissão. É preciso saber o que se quer dizer naquela imagem tão pequena e a linguagem faz parte da ideia.

Pode contar um pouco da sua parceria com os Correios? Como você entrou para o banco de artista?

Em 1998, os Correios realizaram um concurso nacional para a formação de um banco de artistas e eu me classifiquei. O tema proposto no concurso foi os 50 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O meu selo não foi publicado mas tenho muito orgulho de fazer parte deste grupo de criadores. O selo Natal 2021 é a minha 13ª emissão publicada pelos Correios. Também fizemos capas de cadernos, envelopes e um cartão temático. As propostas são sempre um desafio. Representar ideias tão complexas em um espaço tão pequeno, cuidar para que sejam compreensíveis e ao mesmo tempo plasticamente bonitas, é uma tarefa tão difícil quanto compensadora. Além disto, a força da imagem dos Correios empresta credibilidade ao nosso trabalho. É visível a admiração quando aparece em meu currículo as publicações dos selos. Sou grata aos Correios pela oportunidade de mostrar meu trabalho.

Como foi o processo criativo para arte desta emissão?

A criação deste selo de Natal foi bastante desafiadora e não poderia ser de outra forma considerando os tempos difíceis que estamos vivendo. A primeira ideia que tive foi falar de estarmos presentes, de sermos os presentes, precisava haver uma valorização da presença, mas sem o contato físico. Tinha que mostrar que estamos juntos de alguma forma e que o amor que nos uniu na pandemia é a esperança que projetamos para o futuro. Então surgiu a linha contínua unindo símbolos natalinos e pessoas. Os dois primeiros desenhos foram horríveis e quando já estava pensando em desistir, resolvi anotar o que tinha funcionado nos dois esboços. Assim surgiu o desenho do selo, sem retoques, sem emendas, como que por recompensa por não ter desistido. O coração no centro é o próprio significado do Natal e a fonte onde buscamos força para enfrentar esta pandemia. Também é a nossa esperança no futuro, a boa nova representada pela estrela guia.

Qual a importância do Natal na sua vida? Como é estar com sua arte representada em um selo de Natal?

Fiquei muito feliz com a escolha do selo. Meu marido é Papai Noel ( www.papainoel.art), trabalha na caravana de um refrigerante famoso, além de outros eventos. Durante a pandemia, os caminhões foram cobertos com painéis luminosos exibindo vídeos ao invés da presença, então sobrou tempo e ele pode ser Papai Noel oficial de duas cidades – Novo Hamburgo e Sapiranga/RS. Também emprestou sua imagem para o primeiro Papai Noel digital (AI).

A noite de Natal para nós é muito interessante pois passamos nas casas das pessoas entregando presentes e fazendo a felicidade das crianças. Naquele Natal de 2020, além de protocolos rígidos com relação à pandemia, como não haviam os abraços e os colinhos de sempre, resolvemos ensinar a canção Noite Feliz em libras nas casas por onde passamos. A novidade foi recebida com largos sorrisos. O Natal representa muito pra mim e a escolha da nossa arte para a emissão deste selo veio coroar este Natal de 2021.

Os selos estão à venda na loja virtual dos Correios e nas principais agências do Brasil.

Conheça também os selos já criados pelos artistas.

2004 – Série MERCOSUL – Água Potável

2005 – Dia do Professor

2006 – Dia Mundial da Diversidade Cultural

para o Diálogo e o Desenvolvimento

2007 – Série América – Educação para Todos

2008 – 1ª Conferência Nacional da Juventude

2009 – O Brasil na liderança dos Combustíveis Fósseis

2010 – Série Arquitetura e Festas Religiosas:

Igreja Nossa Senhora do Rosário e São Benedito

2011 – Dia Mundial de Conscientização

da violência contra a Pessoa Idosa

2013 – Série América: Luta Contra a Discriminação Racial.

2014 – Série MERCOSUL: Luta Contra a Discriminação – Autismo

2015 –Salário Mínimo Digno

2016 – Consumo Consciente de Água e Energia Elétrica

Rafael Decker Nichele, com 20 anos de experiência em design, atualmente atua em marketing digital, com foco em criação de interfaces de websites, aplicativos e games.

Ariadne Decker é artista plástica e ilustradora com mais de 40 anos de carreira, diversas exposições nacionais e internacionais, além de prêmios em salões e mais recentemente o reconhecimento no Prêmio Trajetórias RS.

Publicado em Programação Filatélica 2021 | 5 Comentários

150 anos da Lei do Ventre Livre

Escrito por Christina Habli Brandão Dutra

A 16º emissão de 2021 trás o Bloco Comemorativo dos 150 anos da Lei do Ventre Livre como expressão artística em que Diego Mouro promove uma reflexão sobre esta data. Diego (@diego.mouro) é artista autodidata e muralista, que vive e trabalha em São Paulo, oriundo da periferia de São Bernardo, ABC Paulista, e uma das maiores capitais metropolitanas do mundo com uma população majoritariamente negra.

Ele constrói sua trajetória artística a partir dos saberes e práticas ancestrais, transformando o processo de produção artístico em parte de um ritual e busca pelo resgate do passado uma ponte para a construção de novas narrativas de futuro e ressignificação do presente. Trabalhos que perpassam as questões raciais de dor e promovem o encontro de elementos e símbolos tradicionais da cultura negra e sua relação com o Brasil, buscando assim entender como nosso regionalismo foi construído em cima de hábitos africanos e de que forma foram transformados em costumes e crenças que só existem aqui como o congado e o candomblé.

Com técnicas e influências que vão da arte tradicional à arte de rua, passando pela pintura contemporânea, reflete sobre o completo estado de impermanência do ser e das coisas enquanto mistura realismo e traços inacabados. Seus trabalhos respeitam a tradição do muralismo e constroem uma narrativa não verbal, compartilhando conhecimento e sendo parte de processos formativos na construção de uma nova narrativa histórica da arte e das culturas tradicionais.

A arte pode ser entendida como a atividade humana ligada às manifestações estética ou comunicativa, através de uma grande variedade de linguagens, como arquitetura, desenho, escultura, pintura, escrita, música, dança, teatro e cinema. Assim, pode ser expressa em diversas formas e tamanhos, seja nas grandes telas de quadros presentes em museus de todo o mundo, seja em um bloco postal ou em um selo.

A arte pulsa em sua forma de expressão e nesta emissão Diogo usou e abusou de técnicas e formatos para traduzir em sensibilidade e reflexão os traços de sua obra. Idealizada em formato digital, a peça ganhou mais nuances nas pinceladas de uma pintura a óleo em uma tela de 1,20 x 0,80m que foi digitalizada pelo Museu Afro Brasil, nosso parceiro nesta emissão, para então virar selo.

Confira a seguir o nascimento desta obra de arte.

Bloco Postal 150 anos da Lei do Ventre Livre

“Corpos negros, nascidos, são livres ainda hoje?”

Esta é a reflexão que Diego propõe com sua arte que traz duas crianças negras brincando como o ápice simbólico da liberdade. Elas sorriem, saltam, quase como se voassem livres. Os lençóis e os varais presentes na obra figuram como elementos simbólicos, remetendo ao resgaste dos afetos criados no interior das famílias. O artista se insere nessa lembrança nostálgica, através da figura de sua avó e no afeto que ela colocava no trato com as roupas.

As camadas sobrepostas das peças no varal se conectam a este lugar da memória, a esses afetos familiares que se constroem e que, de alguma forma, protegem e prezam por essas vidas e liberdades. Todavia, essa ideia de construção afetiva de família é também atravessada pela ameaça constante às vidas negras, exercida por um estado que insiste em mantê-las prisioneiras de estigmas e encarcerá-las continuamente, completa o artista.

Por isso, uma sombra ameaçadora se insinua atrás dos lençóis, representando os diversos braços institucionais que mantém essas vidas vigiadas, reféns do medo e da lembrança de que liberdade não é algo definitivo para a população negra brasileira.

A imagem problematiza, desse modo, a celebração dos 150 anos da Lei do Ventre Livre. Enquanto os selos exaltam a liberdade, os sorrisos e a beleza no cotidiano nas vidas negras, o bloco propõe uma reflexão sobre o significado e valor da liberdade no Brasil.

Diante deste olhar que nos faz pensar, trazemos aqui uma breve entrevista com o artista do selo Diego Mouro.

Como foi o seu processo criativo para esta emissão?

Uau, que pergunta complexa! Foi um processo novo, a muitas mãos, se iniciou pelo convite do Museu Afro através da figura do Emanuel, depois iniciou-se uma conversa com os Correios para desenvolvimento dessa arte. De início levantei algumas questões que julgava pertinentes a “celebração” de uma data como a Lei do Ventre Livre, para mim, uma data que não deveria ser celebrada e sim questionada. Trouxe essas questões para a equipe dos Correios e tivemos reuniões interessantíssimas sobre a possibilidade da criação, pela primeira vez talvez, de um trabalho, num selo comemorativo, que questionasse a data, ao invés de celebrá-la. Como artista, julgava que era meu papel trazer reflexão e atenção sobre datas como essa e foi interessante ver, coletivamente, tanto o Museu Afro, quanto os Correios, abraçarem essa ideia e toparam isso comigo.

Depois disso mergulhei sobre a grande questão incomodo pra mim nessa data, que era: em 2021 quais são os corpos realmente livres? Me intrigava uma lei que determinava que corpos pretos eram ditos livres a partir do seu nascimento, mas que isso, até hoje, não acontecesse efetivamente. Me debrucei sobre essas sensações tantas de falsas liberdades e vigilâncias sob esses corpos pretos. Como pintor fazia questão de que esse trabalho fosse uma pintura a óleo, por ser a técnica principal ao qual apresento meu trabalho. Queria que esse fosse um trabalho de arte que refletisse sobre questões do seu tempo, mas numa técnica centenária, e que essa arte pudesse ser replicada em selos, e alcançasse as milhares de pessoas e localidades por esse país. Para mim, era importante que o chegasse na casa das pessoas, acompanhando uma carta ou algo do gênero, fosse literalmente uma obra passível de ser vista num museu, que fosse exatamente a mesma coisa e não tivesse essa diferenciação. Que o museu chegasse até a casa daquela pessoa.

Uma de suas outras atividades é ser professor. Houve um processo colaborativo com os seus alunos na elaboração do conceito e da linha criativa?

Foi interessante compartilhar isso com os alunos, eles são sempre muito interessados no processo de produção dos trabalhos a óleo e fiz questão de dividir com eles cada passo que dei, desde o rascunho a estruturação da tela, até a pintura e finalização. Validei junto a eles algumas ideias, era importante entender se a mensagem era clara e entendível, e foi importante que eles fizessem parte disso pra mim.

Qual a mensagem a ser passada com a arte?

A ideia era exatamente levantar a questão: “Em 2021, corpos pretos nascem livres?”. Isso me levou a questionar essa falsa liberdade que existe sobre esses corpos, numa sociedade que pratica uma necropolítica disfarçada, que mata um jovem negro a cada 18 minutos, que encarcera massivamente a população negra, que sexualiza seus corpos, como nessa sociedade podemos falar que corpos negros são livres? Na tela, trago essa perspectiva colocada sobre o olhar de duas crianças brincando, teoricamente livres, mas que estão ali, de alguma maneira vigiadas, por braços do estado e da sociedade, que seguem atuando de maneira furtiva, nas sombras.

Como é para você sua arte estar documentada em selo?

Uma oportunidade incrível de ver meu trabalho alcançar pessoas e lugares que uma tela num museu, ou exposta apenas na internet, não alcançariam. De ter a possibilidade de ver aquelas pessoas se sentirem tocadas, encantadas, e até questionarem, o trabalho de maneiras antes inimagináveis pra mim. Sem falar da importância histórica de ter um trabalho documentado em seu momento, um trabalho que possa ser usado como registro histórico de um momento de um país e de uma sociedade.

Esta peça de arte está à venda na loja virtual e nas principais agências de Correios. Compre já o seu.

Publicado em Programação Filatélica 2021 | Deixe um comentário

Bloco em Homenagem ao Monumento do Cristo Redentor

Para a 14ª emissão do ano, lançamos o Bloco Homenagem ao Monumento do Cristo Redentor em que a arte composta por 4 obras originais do artista Oskar Metsavaht, ao fundo uma fotografia em tons de cinza onde o Cristo Redentor em primeiro plano aparece sobre o Monumento Natural das Ilhas Cagarras, unidade de conservação localizada em frente à Praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. Os 3 selos, sobrepostos ao fundo, são obras icônicas do olhar do artista para o Cristo Redentor, revelando sua ‘pele’, formada por milhares de pequenos triângulos de pedra-sabão. As fotos foram impressas em preto com fundo prata para ressaltar os detalhes do monumento. Acima dos selos apresentamos a assinatura comemorativa junto da logomarca oficial do Santuário Cristo Redentor.

Em 1921, nos preparativos para as comemorações do centenário da independência, um grupo de leigos chamado “Círculo Católico” lançou novamente a ideia que já circulava no imaginário nacional desde o final do século XIX: a construção de uma estátua de Jesus Cristo sobre o Monte Corcovado. O engenheiro carioca Heitor da Silva Costa apresentou o projeto vencedor, que trazia a imagem de Jesus sobre um pedestal, segurando uma grande cruz com a mão esquerda, e o globo com a mão direita.

Em 1922, sob a liderança da escritora Laurita Lacerda, cerca de vinte mil mulheres apresentaram um abaixo-assinado ao presidente Epitácio Pessoa, pedindo autorização para a construção do monumento. Em 1923, Dom Sebastião Leme, organizou uma grande campanha de arrecadação para o monumento, que foi construído com doações do povo brasileiro.

Naquele mesmo ano, após críticas da Escola Nacional de Belas Artes, Dom Sebastião Leme solicitou a Heitor da Silva Costa a alteração do projeto, para que pudesse ser visto de longe, com maior simbolismo religioso. Com a ajuda do pintor Carlos Oswald, Heitor da Silva Costa projetou a imagem de Jesus com o tronco ereto e os braços abertos, com o mundo aos seus pés.

Em 1924, Heitor da Silva Costa viajou a Paris, onde contratou o escultor francês Paul Landowski, especialista no estilo art decó. Entre 1924 e 1926, Paul Landowski realizou uma maquete e a escultura em tamanho real da cabeça e das mãos do monumento, cujos moldes em gesso foram enviados ao Brasil em partes numeradas. O engenheiro francês Albert Caquot realizou os cálculos estruturais.

Antes de retornar ao Brasil, Heitor da Silva Costa decidiu que o monumento em concreto armado seria todo revestido por um grande mosaico de pedra sabão, um material bonito, maleável, resistente ao calor, ao frio e à erosão. Ele foi construído em cinco anos, entre 1926 e 1931, unindo a engenharia, a arquitetura e a escultura, graças ao trabalho primoroso dos operários. O arquiteto Heitor Levy foi o mestre de obras da construção, e Pedro Fernandes Viana foi o engenheiro fiscal.

Em 1929, Dom Sebastião Leme solicitou que um singelo coração fosse moldado no peito da estátua, tornando-a uma imagem estilizada do Sagrado Coração de Jesus. O monumento foi inaugurado em 12 de outubro de 1931, dia de Nossa Senhora Aparecida. Por isso, foi construída na base do monumento uma capela dedicada à Padroeira do Brasil.

Ao longo destes 90 anos, os Correios emitiram vários selos retratando o monumento ao Cristo Redentor. Convidado pela Arquidiocese do Rio de Janeiro e o Santuário Cristo Redentor para imprimir seu olhar sobre o monumento, Oskar Metsavaht mergulhou na construção da estátua modernista em concreto armado que resultou numa pesquisa artística, arquitetônica e conceitual sobre o Cristo Redentor. O artista apresentou uma leitura contemporânea de sua simbologia, onde espiritualidade, arte e arquitetura se cruzaram em uma divina geometria, criando um dos mais belos e significativos símbolos da cultura universal.

Após esta imersão, Oskar Metsavaht realizou a exposição individual “Cristo Redentor − Divina Geometria”, lançada em 2016, no Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro, que seguiu para São Paulo em 2019, no Museu de Arte Sacra.

E agora, para celebrar os 90 anos desse monumento icônico, Oskar foi mais uma vez convidado para homenagear esse símbolo nacional com a criação de um bloco postal para esta data comemorativa, composto por três de suas obras da série “Divina Geometria” como selos.

Assim, entre tantas curiosidades descobertas ao longo dessa imersão do artista, o fato dessa mobilização da sociedade para a construção do Cristo Redentor ser representada através dos milhares de mosaicos de pequenas pedra-sabão, onde cada um caracteriza uma pessoa ou família que contribuiu com doações ou trabalho, revela que a construção do Cristo Redentor foi um projeto pioneiro de crowdfunding.

Oskar percebeu que poderia provocar a reflexão e, principalmente, a sinergia neste trabalho com o conceito de tecido social, que é uma ferramenta para descrever e compreender as inter-relações sociais que perpassam toda e qualquer sociedade, onde tanto sua coesão quanto o seu esgarçamento variam ao longo da História. Todas essas vertentes convergem com o conceito que permeou a construção do Cristo Redentor, bem como refletiu neste trabalho artístico, que primeiramente resultou numa exposição e, em seguida foi registrada em um livro. Agora, através dos Correios, o monumento ao Cristo Redentor, ao comemorar seus 90 anos, é homenageado e propagado por meio da Filatelia.

Vem novidade por aí. 

No dia 12 de outubro de 2021, data de 90 anos da inauguração do monumento Cristo Redentor, está previsto, dentre as ações comemorativas organizadas pelo Santuário Cristo Redentor, o lançamento do bloco postal de um dos símbolos mais reconhecidos do Brasil.

O bloco está a venda na loja virtual e em breve nas principais agências de Correios.

Publicado em Programação Filatélica 2021 | Deixe um comentário